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Beth Lula e Fred Gelli falam sobre a construção e o legado da marca
Enfim, os Jogos Olímpicos do Rio vão começar. Muitas dúvidas pairaram – e ainda pairam – sobre a cabeça dos brasileiros e mesmo dos visitantes estrangeiros a respeito da realização deste que é o maior evento esportivo do mundo. Independentemente disso, é certo que na noite desta sexta-feira (05), quando ocorrer a abertura dos Jogos, milhões de pessoas vão se conectar à festa, preparada há tanto tempo e, ao mesmo tempo, um batalhão de profissionais da economia criativa poderá suspirar de alívio enquanto outro grupo continuará trabalhando a pleno vapor.
Isso porque o Rio 2016 vai além do esporte. Muita criação esteve envolvida na produção desse projeto que, fora a exposição que dará ao país em si, permitirá conhecer um pouco do talento que existe no Brasil. É o que avalia Beth Lula, diretora de marca dos Jogos. “O Rio 2016 tem uma política séria do legado. No branding não poderia ser diferente. Os Jogos são uma grande vitrine para propagar nossos profissionais de criação”, afirma.
Encarregada de uma equipe que desenvolveu diversos trabalhos in-house – como as medalhas paraolímpicas, que são sensoriais e com guizos, e, pela variedade de bolinhas de ferro em seu interior, demonstram de que metal são feitas –, Beth diz que, ao final dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, todo o esforço interno e também o dos parceiros vai virar propriedade intelectual do Comitê Olímpico Internacional (COI). Nesse tempo, representantes da entidade e da próxima cidade-sede (Tóquio) se dirigem ao Rio para receber a transferência de conhecimento. “Preparamos muita documentação para mostrar como foi o trabalho criativo do programa de marca”, explica.
Como começou
O pontapé inicial do programa de marca que foi desenvolvido por esse batalhão de profissionais criativos se deu com a criação da logomarca da Olimpíada no Rio, revelada ao mundo na passagem entre 2010 e 2011. O processo contou com 139 empresas inscritas, sendo que oito chegaram à fase final (leia aqui). A escolha ficou com a peça desenhada pela Tátil, sediada no Rio de Janeiro.
O briefing tinha 12 pontos, entre eles, representar a cultura local, promover entendimento universal, ser uma marca flexível e adaptável para milhares de aplicações e tinha de se manter fresh. “Foi uma avaliação bastante técnica. A decisão pelo trabalho da Tátil foi unânime. Era uma peça 3D, com um signo universal que é a roda. E falava do Brasil de formas sutis”, lembra Beth. A essência da criação estava em duas palavras: paixão e transformação. Confira o vídeo de criação da marca aqui.
É com emoção que Fred Gelli, sócio-fundador da Tátil, recorda-se do momento em que a agência foi anunciada como vencedora da concorrência. “Foi uma felicidade grande porque a gente estava criando a semente original da identidade dos Jogos. A partir daí, criou-se um repertório filosófico que deu consistência a todo o projeto criativo”, avalia.
De fato. Recentemente, os profissionais que tiveram alguma participação no desenvolvimento do programa se encontraram em um evento, no Rio de Janeiro. Estavam lá a agência encarregada dos mascotes dos Jogos, a que desenhou a tocha e o escritório que inventou a tipografia olímpica, além dos responsáveis pelas cerimônias de abertura e encerramento e mais o time de identidade de marca da organização. “Foi um grande pacote de ideias conduzidas com maestria pela equipe da Beth Lula. Poucas marcas conseguem tanta coerência em um projeto criativo desse porte”, afirma Gelli.
Consistência
Isso quer dizer que as linhas e os conceitos da peça inicial foram incorporados pelos outros projetos criativos da Rio 2016. Para garantir a consistência do que já tinha sido feito, a Tátil foi chamada, em maio de 2011, pelo comitê olímpico, para fazer a marca dos Jogos Paraolímpicos, que foi apresentada em novembro daquele ano.
Depois, profissionais de outras agências e também da equipe que atua com Beth Lula desenvolveram outros trabalhos. Gelli foi convidado a ser um dos jurados que escolheram a tocha olímpica, uma criação da Chelles & Hayashi, de São Paulo (aqui). A agência participou de um processo que teve 76 inscritos. A tocha tem segmentos horizontais que, ao serem abertos, representam o céu, os morros, o mar e calçadão de Copacabana. “Os atributos de brand direction foram bem seguidos. Parece que tudo foi feito pela mesma empresa”, observa o sócio da Tátil.
O fato é que foram criados manuais que funcionaram como diretrizes para a arte-final de diversas peças ligadas aos Jogos. O mesmo foi feito para as Paraolimpíadas. A tipografia, por exemplo, foi desenvolvida a a partir da logomarca dos Jogos (veja o vídeo, aqui). Quem responde por essa parte do programa é a agência Dalton Maag. “Criamos um alfabeto, que tem um lettering super bonito e diferente. Foram feitos outros 23 para chegarmos ao atual”, detalha Beth, referindo-se ao projeto que recebeu o nome de Fonte Rio 2016.
No caso das mascotes, projeto do estúdio Birdo, ela pontua que a proposta era que as criações fossem mais do que bichinhos de pelúcia. Segundo Beth, foram acrescidos skills de animação. E assim, eles ganharam espaço na programação do Cartoon. Além disso, os personagens nasceram conectados e têm páginas no Facebook e no Twitter (aqui e aqui). “Tivemos a preocupação de fazer as mascotes com conexão”, reforça.
Beth também ressalta que os Jogos tiveram uma novidade em relação às edições anteriores. Pela primeira vez foram elaborados pictogramas para cada competição esportiva dos Jogos Paraolímpicos. Antes, um pictograma servia para as várias disputas. Na Rio 2016 isso mudou. “Conversamos com representantes de cada esporte e, assim, criamos pictogramas exclusivos. Os próximos Jogos vão ter de desenhar pictogramas. Deixamos um legado”, celebra a diretora de marca.
Livro?
Transmitir a identidade de marca para todos os parceiros do Comitê Olímpico foi um trabalho intenso. Cerca de 4 mil pessoas foram treinadas para atuarem em workshops que demonstravam que a Rio 2016 deveria ter uma só voz. “Recebemos equipes dos patrocinadores para mostrar todas as aplicações da marca. O alinhamento dos Jogos com as empresas que patrocinam é muito importante. A gente tem de agregar valor à marca para a próxima edição. Vale lembrar que os anéis olímpicos representam a marca não comercial mais valorizada do planeta”, ressalta Beth Lula.
Por tudo isso, Fred Gelli diz que está nos planos a elaboração de um livro para contar como foi desenvolvido o projeto criativo da Rio 2016. Ainda é necessário discutir a proposta com os demais players envolvidos com o programa de marca. Mas a Tátil já está produzindo um vídeo mostrando um pouco de todo esse grandioso trabalho.
Por Lena Castellón