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“Sou capricorniano e só acredito no trabalho”

Heitor Dhalia, diretor de "Serra Pelada"

04.11.13


CCSP: Duas semanas após a chegada de Serra Pelada aos cinemas, ao grande público, qual é a sua sensação?



Heitor Dhalia: Estou bem feliz com a recepção que o filme vem tendo, tanto da crítica, quanto do público. As pessoas adoram o filme. Tenho recebido e-mails e mensagens do Brasil todo. Muita gente com orgulho de assistir a um filme brasileiro, com essa força na tela. Serra Pelada é um episódio marcante da nossa história e merecia ser levado ao cinema. É um filme importante para ajudar a contar a história do nosso país.



CCSP: A trajetória do longa pelos festivais de cinema já aconteceu?



Heitor Dhalia: A trajetória do filme começou agora. Lançamos no Festival do Rio, na sessão de encerramento fora da competição. Agora é começar o circuito de vendas e festivais internacionais.



CCSP: A busca pelo ouro de Serra Pelada transformou uma montanha maior que as pirâmides do Egito em um buraco mais profundo que o Rio Amazonas. Desta forma, filmar no que restou da própria serra paraense deve ter se mostrado missão impossível e insalubre (deve ter mercúrio para tudo quanto é lado por lá). Como foi solucionada esta questão tão importante de locação, em um filme que a locação é o esqueleto?



Heitor Dhalia: Serra Pelada é um filme de logística de produção, pela proporção das cenas que foram filmadas. A gente passou um ano em pré-produção. E o desenho de produção foi se transformando durante esse tempo. No final, filmamos em São Paulo, Mogi das Cruzes, Paulínia e Belém do Pará. Em todos os lugares tivemos muita construção de cenários. Construímos uma cidade cenográfica, mas o grande desafio de produção que tivemos foi a Cava, que hoje é um lago. E com muito mercúrio, sim!



CCSP: O elenco está muito, muito bem. Como foi montar este elenco e dirigir estas pessoas, dentre tantas variáveis (um dos protagonistas (Julio Andrade) é um cara relativamente desconhecido do grande público; Sophie Charlotte é conhecida mas nunca havia feito cinema; Wagner Moura mudou de personagem etc), e dar tão certo?



Heitor Dhalia: Adoro trabalhar com atores. Acho que o bom desempenho do elenco sempre se deve a duas coisas. Primeiro é a escalação. É aí que você ganha ou perde o jogo. E segundo é qualidade da dramaturgia. Isso proporciona ao ator a chance de brilhar, principalmente, quando você tem cenas onde a ação dramática acontece. Tive a sorte de trabalhar com um elenco incrível! O Wagner (Moura) e o Matheus (Nachtergaele) são gênios. O Julio (Andrade) e o Juliano (Cazarré) são os melhores atores da nova geração e a Sophie a grande revelação, chegou e quebrou tudo.



CCSP: Cada longa seu tem uma pegada e uma gramática diferente. Você não é um diretor que se reconhece por determinado estilo ou "jeitão". Pelo contrário, a cada filme um novo Heitor é apresentado ao público. E isso é muito bom. Ou não?



Heitor Dhalia: Isso é de cada diretor. Adoro me reinventar. Têm diretores que se aprofundam em um estilo e de alguma maneira fazem o mesmo filme de formas diferentes. Eu gosto de ver isso num diretor. Mas, no meu caso, prefiro explorar lugares que não fui antes. Há muitos diretores que tomam esse caminho. Um caso notório é o (Stanley) Kubrick, que se reinventava a cada filme. É muito pessoal de cada diretor. Eu gosto do risco, da busca criativa. Sem isso não há motivo para fazer um filme.



CCSP: Este “bang-bang amazônico”, como você mesmo diz, exigiu esforço enorme, tanto de busca por recursos e grana, quanto de produção (difícil imaginar, por exemplo, o trabalho que deu construir aquelas enormes escadas “Adeus Mamãe”, que envolvem Serra Pelada e devem pesar horrores, entre tantas outras coisas complicadas). Este exercício deixou gosto de quero mais ou apenas o cansaço? O Brasil oferece muito pouco aos seus cineastas?



Heitor Dhalia: Foi um filme extremamente difícil. Por um lado, me sinto revigorado para novos desafios. Filmar no Brasil é sempre difícil por várias razões. Você tem que escalar um montanha toda vez que quer fazer um filme. E isso de alguma maneira é bem cansativo. Quando acabo um filme deixo ele para trás. Bora para os próximos!



CCSP: A parceria com Wagner Moura e Vera Egito em filmes futuros, que reúnam grandes histórias, prontas para atrair grandes públicos, mas com qualidade cinematográfica e de 'roteiro de primeiro mundo', deve continuar?



Heitor Dhalia: Estou explorando todos os caminhos. Filmes com meus parceiros, novas histórias e projetos interacionais. Ano que vem promete. Agora é aproveitar o lançamento e refletir sobre o futuro. Mas, como sou capricorniano, só acredito no trabalho. 



CCSP: E agora? Descanso? Novos projetos (Cangaço!!)? Volta à publicidade? Uma birita no Trinta?



Heitor Dhalia: Estou de volta a publicidade e trabalhando em novos roteiros. O meu lado criativo (12 anos como redator) não me abandona nunca. Tenho que estar sempre criando. E já estou de volta ao trabalho, com tudoComo diria a Kity Féo, minha assistente de direção, "dormir é para o fracos" (risos). Estou trabalhando em dois roteiros meus. Um para filmar aqui e outro talvez fora. Estou recebendo projetos dos EUA, também por conta da repercussão do Serra Pelada. E, no meio disso tudo, podemos sim tomar uma birita no Trinta, Laís. O problema é que só bebo vinho (risos).


“Sou capricorniano e só acredito no trabalho”

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