Tá sobrando vaga em Los Angeles

O Luiz Caldas queria ser uma abelha pra pousar na tua flor. Pois eu, queria mesmo era ser um elefante pra passar a vida filmando em Los Angeles. Foi numa reunião de casting pra um filme que estamos produzindo aqui na agência que tem como personagem principal um elefante que eu descobri. Sabia que só tem um elefante ator/modelo/manequim nos Estados Unidos? Isso mesmo. Comecial da Coca Cola? É ele. O filme de Rollo super premiado em Cannes? Ele. Um da At&t? Também. Ele está para os paquidermes como o Rubens de Falco pro papel de senhor de engenho em novela das 6. Só pode ser ele.

É inevitável pensar o que os folgados dos outros andam fazendo: fazendo bico no Bush Gardens? Acham propaganda uma arte inferior, obra do capitalismo e partiram pro teatro, ah, o tablado, essa sim a escola que forma todo grande ator, vide Paulo Autran? Ou tão aí na rua, pedindo esmola? Vão trabalhar bando de elefantes vagabundos.

Porque essa é uma dificuldade a mais pra ter o seu comercial filmado.

Ou seja, não bastava a dificuldade de ter a idéia, de convencer seu dupla, seu diretor de criação, os atendimentos, os planners, os producers, o cliente, a mulher do cliente, o papagaio do cliente, ah é... tem que ver se o elefante se interessa pelo seu script.

Manda o roteiro pro agente do elefante. Vê a agenda do elefante (deve ter tanta coisa mesmo pra se fazer nessa vida atribulada de elefante em L.A.). Agora, tem uma coisinha, o elefante cobra 30 mil dólares a diária. E ó, nem vem apressar ele pra fazer tudo em uma diária porque senão ele estressa e vai embora. E aí, vai tu, redator, vestido com um macacão cinza fingir que é elefante porque não tem outro pra colocar no lugar dele não.

No meio dessa confa toda, dá vontade de jogar tudo pra cima e falar: "Quer saber? Eu vou ser é elefante em Los Angeles". Eu hein, essa vida dura de redator, trabalhando final de semana e levando rabisco vermelho do revisor não tá com nada. Na próxima encarnação eu quero vir cinza, grande e ficar em Los Angeles soprando amendoim nos outros.

*Laura Esteves é redatora da DDB em NY mas, no fundo, queria mesmo ser elephant em L.A.
laura.esteves@ny.ddb.com