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Um quase improvisado manual (Erick Rosa)
Um quase improvisado manual sobre Tóquio Vol. 1
Começo este texto com um asterisco do tamanho do famoso Godzilla agarrado ao topo do prédio no centro do bairro de Shinjuku.
Esse asterisco de dimensões extraordinárias existe para afirmar já na primeira linha que o que segue não é definitivo, pode [e vai] diferir de alguém que aqui já esteve, e não tem a pretensão de ser nada mais do que uma [como o título diz] quase improvisada lista de dicas e coisas que, quando combinadas, irão desenhar uma Tóquio bem próxima daquela equação “anos 80 walkman + Spectroman + o sushi Jiro do documentário da Netflix + o robô dançante da Honda + saquê sem rótulo de um bar sem nome localizado numa rua que você não vai nunca mais conseguir encontrar na sua vida, nem se ‘pinar’ no seu telefone”.
Mais um asterisco: Existem algumas milhares de Tóquios dentro de Tóquio.
Pelo amor de Deus, não tenho nenhum vínculo com o Ministério do Turismo.
O “quase” do título é para evitar qualquer ideia de que eu me julgue ser uma autoridade no assunto.
Mas prometo que, depois de sete anos aqui, tomar muito saquê sem rótulo, experimentar coisas que não sei pronunciar, conversar quase sempre apenas por gestos e sobrancelhas e se perder muito -- alguma coisa aí pode ajudar.
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Acho [tenho certeza] que, desde que me mudei para cá, Tóquio nunca esteve tão cheia como agora. O antes estável Yen derreteu e continua bambo. Ainda é caro na conversão com o real, mas está muito mais barato do que antes.
Durante a pandemia, o Japão foi dos países que mais se fechou para o mundo.
Acrescenta aí maciças doses de Shogun, Tokyo Vice e a leve confusão que é voar para destinos antes mais comuns -- e o Japão, que antes da pandemia já era Maracanã saída da final da Copa de 50 cheio vezes três -- ficou ainda mais popular.
Volto alguns meses no tempo.
O mais querido Eduardo Foresti esteve aqui.
Nos encontramos algumas vezes.
E [acho que] na saideira, cada um com seu saquê em lata perto da estação de metrô -- Foresti comenta: você deveria fazer um guia. Uma lista. Alguma coisa.
Pensei. Pensei. E achei que um guia com cara de guia seria pretensão minha.
Como, pelo amor de Deus, como achar que dá para resumir essa cidade?
Mas guardei a excelente sugestão do Foresti na pochete da Uniqlo que eu carrego para todo lado.
O que serve de gancho para o começo desse Volume 1.
A primeira compra ao fazer ao aterrissar na cidade: uma pochete da Uniqlo.
[Uniqlo não é cliente, nunca foi -- eu é que sou deles.]
Você pode estar pensando: o sujeito começa o guia com uma pochete?
Compra e me diz se não faz sentido.
É nela que vai a bateria do celular, a carteira, o cartão do hotel, o telefone, moedas. Importante: falei que é pochete, mas é mais uma bolsa de ombro [ou shoulder bag, como diz no site].
Mas, sim, tem que comprar. Você nunca mais vai largar a coisa.
Dentro dela cabe cinco vezes o que parece caber ao olhar por fora.
Um par de tênis confortáveis. Mas confortáveis daqueles com espuma, air triple max.
Não precisa combinar com nada, precisa amortecer.
Você vai andar uns 30 mil passos por dia. Na primeira noite vai ficar com dores em músculos das pernas que você não sabia que existiam.
Tem uma loja chamada ABC Mart em todo canto.
[Não é minha cliente. Eu sou cliente deles.]
Talvez a mais importante primeira dica: o cartão Suica.
O cartão Suica [que tem um irmão gêmeo chamado Pasmo] é fundamental para tudo. Com ele você paga o trem, o metrô, o táxi, supermercado, restaurantes de bairro, lojas de conveniência. Tudo. É quase simples. Na carteira virtual do seu telefone [onde estão seus cartões de crédito, milhagem] tem um sinal de “+” lá no topo da direita da tela. Clica nele.
Vai aparecer um mini menu, clica em “Transit card”. Suica é uma das opções.
Adiciona. Ele está agora ligado ao seu Apple Pay, cartão de crédito.
Carrega o equivalente a uns 100 dólares. E não se preocupa. Você vai gastar. E se precisar acrescentar, double click no coiso, escolhe um valor e parte para o abraço. E, se no final, por algum motivo, você chegar no aeroporto com o Suica carregado de yens não usados, vai na loja do aeroporto e gasta tudo em Kit Kat sabor banana.
[Não é cliente. Eu sou cliente deles.]
Dos presentes mais populares de todos os tempos.
Outra dica: não experimente ao comprar, ou os presentes não chegam no destino.
Por falar em aeroporto: tem Haneda e Narita. Sempre Haneda.
Haneda é Congonhas -- mas Congonhas com trem expresso para a cidade.
Narita é Guarulhos -- mas Guarulhos com duas Guarulhos de distância.
Mas sim, se o preço para Narita for muito mais em conta, vai de Narita.
Mas, se for de Narita, tente a todo custo que a saída seja no fim da tarde.
Um voo de partida de Narita pela manhã -- depois da noitada de despedida [ela vai acontecer sim ou sim] -- é de testar os limites do corpo e da ressaca.
Pochete. Tênis com solado da NASA. Suica. Haneda, não Narita.
Onde ficar? Na minha mais humilde opinião:
Eu focaria na Yamanote Line. Explico. Essa é a linha de trem circular da cidade.
A linha verde. Ela circula por todos os principais bairros da cidade.
Shibuya, Yamanote Line. Shinjuku, Yamanote Line. Harajuku, Yoyogi, Ebisu, Meguro, Akihabara. Tá tudo lá. É a única linha que, se você pegar no sono, você acorda no mesmo lugar [história verdadeira].
Mais um asterisco: eu disse Yamanote, mas não necessariamente Shibuya ou Shinjuku.
Esses são bairros incríveis que você com certeza irá visitar.
Mas, muitas vezes, é como se hospedar dentro de um tubo gigante de neon piscante.
Então, bairros na linha -- mas com um pouco de respiro do quase caos -- são ideais.
Exemplo: Ebisu, Meguro, Yoyogi.
Perto e longe ao mesmo tempo.
E, igualmente importante: pela Yamanote Line, você chega até o epicentro das conexões de todos os trens-bala e linhas periféricas.
E está na mesma linha que você vai até as estações de Tóquio, Shinagawa e Shinjuku.
E são nelas que você embarca para Kyoto, Osaka, Yokohama e o país inteiro.
Tá tudo um pouco fora de ordem.
Mas prometo que esse primeiro Volume vai fazer sentido.
Pelo menos para começar a organizar os primeiros passos.
Dica importante: quando?
Qualquer época do ano, menos no verão.
Final de junho até agosto, Tóquio vira uma grande Air Fryer a céu aberto.
Já se normalizou andar com toalhas molhadas na cabeça no verão.
Ventiladores agarrados no pescoço também.
Um tubo de gel congelado para amarrar pelo corpo é a última moda.
Sabe aquela pequena alucinação que você enxerga quando sai de um posto de gasolina no meio da estrada, cercado de asfalto -- aquela cortininha colorida que aparece quando a gasolina se mistura com o asfalto?
Bom, a cidade inteira fica assim durante esses meses.
Mas, mas, é claro: se você só conseguir vir no verão -- toalha molhada na cabeça, ventilador no pescoço, tubo de gel -- pochete, tênis confortáveis, Suica no telefone -- e venha.
Quase esqueci da mala.
Mala pequena. Ou quase média.
Não traga uma mala grande.
Lavanderia do hotel: quase todos têm.
Uniqlo e Muji [outra que não é cliente, mas eu sou deles] têm um preço camarada.
Precisou de algo que não trouxe? Compra.
Family Mart também.
Melhor loja de roupas do país [mais sobre ela, dois parágrafos abaixo].
E, no final, na véspera, compra uma mala.
A dica da mala é importante.
Os quartos de hotel são pequenos. Muito pequenos.
Em Tóquio anda-se muito. Muitas vezes, escadas são a única opção em estações.
Uma mala pesada é um pesadelo.
No final, com a mala nova, coloca lá os presentes, as lembranças e pronto.
Prometo que vai fazer sentido quando você entrar no quarto do seu hotel.
Adaptador para tomada.
Compre quatro no 7-11 do aeroporto.
[Se tivesse Family Mart, eu diria Family Mart. Mas lá é 7-11.]
[Mas aquele adaptador de uma só tomada.
Não caia na tentação de comprar aquele com tomadas para 96 países. Custa uma fortuna.
E sempre fica pesado, cai da tomada no meio da noite -- e você acorda com um telefone morto.]
Mas compra assim que chegar.
Você vai precisar carregar telefone, bateria do telefone, o outro telefone, laptop, câmera e por aí vai.
7-11, Family Mart e Lawson. [Não são clientes meus. Eu é que sou deles.]
São as três lojas de conveniência mais comuns na cidade e no país.
Mas, quando eu digo mais comuns, elas estão em todas as esquinas, repetidas vezes.
Na minha humilde opinião, Family Mart é a melhor [de longe].
7-11 é boa. Mas, com todo o respeito, Family Mart tem esse nome, o mercadão da família, tem o melhor frango frito da galáxia, [a tal linha de roupas básicas para qualquer emergência já mencionada], sanduíche de salada de ovos com estrela Michelin. Family Mart é patrimônio nacional.
Ok, não é. Mas um político se elege fácil se fizer disso -- sua principal promessa na campanha. Lawson é a gourmetizada das três.
É boa. Mas Family Mart... é ver aquelas luzes verdes, brancas e azuis e se transformar naquele emoji com os lábios tremendo e gotinha de lágrima pendurada.
Acho que já invadi o Volume 2 do quase improvisado Manual.
A ideia aqui era um primeiro texto com dicas quase básicas que podem ajudar com o começo de uma viagem.
Prometo updatear logo com um novo texto com destinos, sugestões de comportamento.
Por falar em sugestões de comportamento, vou terminar com um dos exemplos mais inesquecíveis de sempre.
Os listening bars.
São muitos. Martha, Track, JBS -- entre tantos outros.
A ideia, lendo aqui, pode ser meio polêmica.
Mas juro que é uma experiência que merece gordos parágrafos no próximo volume.
Um bar em que se vai para escutar o mais raro vinil de sempre. Pode colocar o Shazam para trabalhar, mas não pode falar. Apenas escutar.
Se quiser já anotar: Track.
Agora num endereço novo.
Também no bairro de Ebisu.
Na Yamanote Line [sempre ela].
O perfeito lugar para terminar o primeiro dia. E descomprimir.
Depois de comprar a pochete, o tênis, abusar do Suica, da Yamanote Line e o jet lag te dar uma muqueta Mike Tyson tempos áureos.
Tóquio é incrível. Com generosidade aos montes. Que não cabe em nenhum texto.
É de encher cartões de memória e o coração de quem visita e aqui vive.
Prometo continuar em breve....
Erick Rosa, chief creative officer do Publicis Groupe, em Tóquio
Leia texto anterior deste mesmo autor, aqui.