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O Espaço é Seu

O ser humano é 'Homo Vivet' (Karina Israel)

14.02.18

Mais do que Homo Sapiens, o ser humano é “Homo Vivet”

Parafraseando o autor holandês Johan Huizinga, que nos presenteou em Homo Ludens com a ideia de que o “jogo”- o lúdico - é inerente à cultura humana. A proposta e também provocação aqui é trazer à tona um “Homo Vivet” ou poderia ser o “Homo Experientĭa”, o homem vivo, aquele que deseja a vivência, traz a compreensão da experiência como algo vital e salutar ao ser humano. Este ser que intensificou o desejo por explorar múltiplos sentidos, pode significar uma reação aos tempos digitais atuais.

Estamos mais conectados do que nunca, mas a vida na era digital está longe de ser perfeita e completa. Sabemos o quanto a tecnologia pode ser extremamente conveniente, divertida e criativa. O celular, por exemplo, é uma das principais janelas para este universo digital, repleto de interesses e satisfações rápidas. O celular virou uma extensão do nosso corpo, um aparelho inseparável que transforma a maneira como nos relacionamos com o outro e com o mundo.

Toda esta distração digital pode acarretar uma certa ausência de vivências reais, o envolvimento é tamanho que se esquece de viver. É como se a tecnologia nos aliciasse e seduzisse a retirar prioridades de nossas vidas. Só para ver como o assunto é relevante, vejam a quantidade de termos novos relacionados aos comportamentos extremos no mundo digital: Nomofobia (medo de perder algo se não estiver checando sempre o celular); Phubbing (ato de ignorar alguém por estar com atenção no celular) e o binge watching (consumo em excesso, termo que ser refere às maratonas de séries). #quemnunca

Não estou fazendo apologia sobre o Detox Digital, mas se o parágrafo anterior mexeu com você, vale um break, não? Já reparou que quanto mais o digital cresce nas nossas vidas, mais surge a demanda por vivências e por experiências? Olhe à volta, estamos rodeados por food trucks Gourmet, com seus infinitos sabores, saltos radicais de bungee jump em alturas impressionantes, viagens pitorescas em busca de experiências. Que tal caçar Trufas Brancas nas colinas italianas? Ou quem sabe uma aventura para alcançar o topo do Quilimanjaro? Nós crescemos por meio de experiências, boas ou más, quando vivemos momentos de pressão, e os superamos, saímos mais fortes do que éramos antes. Experiência é entendida aqui como um evento ou ocorrência que imprime uma mudança em alguém. Nós somos Homo Vivet, pois evoluímos a partir de experiências.

Quando focamos demasiado no digital, ficamos debilitados, restritos essencialmente ao visual, e, por vezes, ao auditivo. E o paladar, o tato, o olfato? Experiências envolvem múltiplos sentidos. Paul Cézanne, o famoso pintor francês, era um conhecido mestre da contemplação, um artista singular, ponte entre o impressionismo e o cubismo. Cézanne observou que conseguia distinguir, apenas contemplando um objeto, se este era sedoso, áspero e até o aroma que emanava. Esta capacidade de contemplação está diretamente relacionada à capacidade de estar presente, de estar atento, de ver com os sentidos.

Voltando ao Huizinga, ele sugere um conceito chamado “círculo mágico”, que acontece quando participamos de uma atividade de entretenimento, ao adentrarmos ao círculo esquecemos (ainda que temporariamente) as nossas preocupações e aflições. Estamos mais aptos a receber, conhecer e aprender. As atividades realizadas dentro de um círculo mágico ganham maior significado para àqueles que participaram desta experiência.

E por que escrever isso aqui em uma coluna do Clube de Criação? Porque estamos preocupados demais em digitalizar tudo. Quando grande parte da nossa realização como seres humanos acontece no mundo dos sentidos, no presencial, ainda que com o celular em mãos. Porque a comunicação deve estar onde o cliente está, podemos levar experiência por meio de roadshows, de festas, casas conceito ou mesmo ativações em um festival. Porque precisamos de círculos mágicos fora do âmbito estritamente digital. Porque nada é tão emocional e tão marcante como os laços que ocorrem em um momento experiencial.

Karina Israel, co-founder / COO YDreams Global

Leia o texto anterior da Karina aqui.

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