O Espaço é Seu

É muito comum você encontrar gurus, palestrinhas ou coachs quânticos prevendo crises. Muitos se esforçam até num movimento de tentar antever o que vem depois. Cá entre nós, pergunte-se "que tipo de pessoa tenta prever o resultado de algo que nunca foi visto antes?". Afinal, se cada crise é única, imagine uma pandemia.

Bom, entre muitas asneiras, uma previsão recorrente chama atenção. Ela dizia que vamos sair dessa crise mais humanos e mais empáticos. Pausa para pergunta debochada: sério que precisou de uma pandemia para as marcas valorizarem mais o consumidor em seu caráter humano?

Particularmente, concordo, mas acho que devemos ir além dessa análise superficial. Prefiro fazer o caminho inverso na busca pelo cerne da questão. Então, vamos lá. Toda crise gera um impacto. Ok, estamos na mesma página. Se o problema tem um caráter empático, não faz sentido tentar desenhar um cenário, por exemplo, financeiro. Logo, caro coach, a pergunta que deveria martelar a sua mente é "qual o resultado humano dessa crise?". Eu respondo: conhecimento.

Toda crise traz aprendizados importantes. E eis o que as marcas sempre temeram: um consumidor com mais conhecimento. Agora, eles sabem a sua importância na cadeia mercadológica. Sozinho, esse consumidor começou um movimento de valorização de negócios locais porque percebeu que eles dependem mais dele para a sobrevivência do que grandes players. Sozinho, ele passou a sorrir para atitudes que são de verdade. E, como consequência, passou a identificar o que é "de mentira".

Agora, a face shield feita por aquela empresa de refrigerante não é mais brilhante que a doação feita pela loja da esquina. O álcool gel produzido por aquela cervejaria não fez mais do que sua obrigação. As peripécias empáticas contadas em videocases mentirosos inscritos em festivais de criatividades não vão descer goela abaixo.

Atenção, marcas. Atenção, criativos. Para quem vocês estão criando? Para o próximo ou para si mesmo? Cuidado, agora não vai ter guru, palestrinha ou coach quântico que salve.

Pedro Portugal, diretor de criação da 3AW Brasil