Cannes Lions 2020/2021

Papo com Presidente de Júri – Cannes Lions 2020 / 2021

Luiz Sanches, chairman e CCO da AlmapBBDO. Presidente de júri do Outdoor Lions.

Clubeonline - Este ano, o Festival acumula trabalhos de duas edições. Isso pode interferir na qualidade do julgamento?

Luiz Sanches - Este ano temos dois pontos não usuais ao que a gente costuma observar em Cannes. Primeiro, o cenário de um período completamente distinto da última vez do Festival, em 2019: claramente com uma realidade de investimento diferente, uma pandemia e uma outra visão de mundo que a gente não tinha. São dois anos votados juntos e critérios muito diferentes para se avaliar. O segundo aspecto é a votação remota. Lembrando que em Cannes, a discussão presencial é muito importante. Ela fez muitas vezes com que peças que poderiam passar desapercebidas, mas que tinham um viés cultural muito interessante, tivessem a oportunidade de serem comentadas e debatidas, se transformando em campanhas premiadas. Essa interatividade e foco maior no que está sendo apresentado são aspectos importantes que impactam o julgamento, principalmente quando se está julgando trabalhos endereçados a um grupo específicos de pessoas.

Clubeonline - Quais expectativas para sua categoria, tanto em termos globais quanto em termos de Brasil?

Luiz - A categoria Outdoor foi a que teve uma das maiores mudanças até agora, levando-se em consideração um mundo pré e pós pandêmico. Qualquer coisa que acontece na rua, impacta as pessoas no seu trânsito e deslocamento. Com esse mundo que a gente passou a enxergar, tivemos uma mudança de realidade: trabalhos locais passaram a ter uma relevância global. Acho que tem grandes e muito bons trabalhos feitos dentro dessa plataforma de outdoor, porque ela é muito abrangente e teve essa grande mudança em termos de mindset de geração da ideia. É uma categoria que engloba muitas competências. Uma peça outdoor é multicategorias dentro de um festival. Ela pode estar ancorada no digital, social, ou em uma execução mais focada em design. Todas elas sintetizadas em um outdoor. Além disso, o nível de qualidade das peças que tenho visto tem sido muito inspirador.

Clubeonline - Você acredita que o resultado de Cannes vá refletir as mudanças que a pandemia causou no mundo e, consequentemente, na comunicação?

Luiz - Antes todas as marcas queriam alinhar os seus propósitos e participar de uma conversa global. De repente, o mundo ficou isolado e o foco passou a ser mais local, o que, de certa forma, traz grandes possibilidades pra gente, quando lembramos de peças como Havaianas e tantas marcas que trazem uma coisa única de cada país. A gente passa a criar temas que são absolutamente relevantes localmente e muitas vezes se tornam aspiracionais e inspiradores em termos globais. Em vez de tentarmos participar de uma conversa que está acontecendo no mundo e fazermos uma execução local, passamos a ter insights que são gerados localmente e estão conseguindo ter relevância mundo afora. Fica muito claro isso, já que estamos julgando dois anos. O ano anterior é totalmente focado dentro de insights globais. E os trabalhos mais recentes nos trazem um retrato de temas locais que de uma certa forma conseguem ser relevantes para todos, uma vez que estamos vivendo a mesma realidade. Essa mudança é muito interessante de se observar.

Clubeonline - E quanto a pautas como racismo e inclusão, elas devem ganhar ainda mais destaque nesta edição?

Luiz - Sem dúvida, esses são temas que têm sido propostos como conversas no mundo inteiro com o objetivo de evoluirmos como sociedade. E a propaganda é um grande condutor para que esses temas se solidifiquem. Eu acredito que, sim, tivemos muitos temas no geral voltados a essas pautas. A pandemia trouxe a necessidade de trazermos essas questões mundiais para um olhar mais local de como a gente está se comprometendo dentro das nossas comunidades, país e povo, com estágios distintos de desenvolvimento social, cultural e, também, no combate à pandemia. Já existe uma mudança muito grande de mindset das empresas de comunicação do seu papel de inclusão na sociedade, colocando isso em prática e saindo do plano filosófico.

Clubeonline – Do que você vai sentir mais falta: do aeroporto de Paris; do rosé no Martinez; do macaron na La Durée; do jantar no “Pelourin”; das filas no tapete vermelho para, quem sabe, subir ao palco; ou das festas?

Luiz - Estou sentindo falta de tudo. O Festival não é só uma competição, ele é acima de tudo a valorização do ambiente criativo. E para isso tem de ter gente junto, networking de pessoas, experiências que tornam aquele momento memorável. O Festival promove o debate, instiga e traz trocas que impulsionam a carreira das pessoas, a reputação criativa das agências e das empresas que lidam com comunicação, porque elas são expostas a mostrar suas soluções, através da criatividade e inovação, para impactar o negócio dos clientes. Cannes é uma vivência criativa muito além de uma competição sobre qual peça foi mais relevante naquele ano. É um local rico em cases, palestras, bastidores e conversas que ajudam a nos inspirar e impulsionar criativamente. Espero que esta seja a primeira e última vez que tenhamos um Festival virtual de Cannes.

Leia anterior com Rafael Pitanguy, CCO da VMLY&R, jurado em Entertainment Lions For Sport. 

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