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Cannes Lions 2019

Histórias peculiares dos jurados brasileiros III

10.06.19

Com a evolução do Cannes Lions, não apenas outras disciplinas foram incorporadas à premiação como os júris ampliaram a participação de players que, uma década antes, não seriam imaginados como jurados no Festival. É o que se passa com lideranças da indústria do entretenimento, que hoje estão avaliando cases, e com executivos das consultorias globais que, no passado, não faziam parte do horizonte das marcas.

Na edição deste ano do Cannes Lions, dentre os 22 jurados representando o Brasil, há profissionais vindos dessas áreas que antigamente não faziam parte dos júris do Festival. É o caso de Marcelo Tripoli, vice-presidente digital da McKinsey e jurado de Innovation - que, no entanto, tem larga experiência no evento por ter atuado no segmento das agências. E também de Daniela Busoli, CEO e fundadora da Formata, que está na categoria Entertainment. A produtora cria, desenvolve e produz programas de TV, séries, filmes e projetos de branded content. Cannes remetia a MipCom e MipTV, festivais ligados ao mercado audiovisual.

O Clubeonline procurou os jurados brasileiros para saber mais da relação que cada um tem com o Cannes Lions - mesmo aqueles que não o vivenciaram antes. Na primeira matéria (leia aqui) contaram suas histórias peculiares Adriano Matos (CCO da Grey Brasil), André Kassu (sócio e CCO da Crispin Porter + Bogusky Brasil), Átila Francucci (vice-presidente de criação da Nova/SB), Cristiano Pinheiro (sócio e produtor da Punch Audio) e Serginho Rezende (diretor musical da Comando S). Participaram da segunda matéria (confira aqui) Bia Granja (fundadora e CCO da YOUPIX), Felipe Simi (fundador e head of creative Data da Soko), Monique Lopes (diretora de projetos especiais da Africa), Paulo Ilha (vice-presidente de mídia da DPZ&T) e Vania Ciorlia (vice-presidente executiva da Ketchum).

Nesta rodada, contamos com Daniela Busoli, Laura Florence (diretora executiva de criação da Havas Health & You), Lucas Duque (fundador e diretor de criação da Sonido), Marcelo Tripoli e Rafael Donato, vice-presidente de criação da David.

Daniela Busoli - Entertainment

“Sou criadora e produtora de conteúdo há muito tempo (passei por Endemol, Fremantle e agora tenho a minha própria produtora, a Formata ).  Já fui a Cannes diversas vezes nos últimos dez anos, mas sempre nos festivais de TV (MipCom e MipTV). Nunca fui ao Cannes Lions!

Vai ser bem bacana ir para o mesmo lugar, porém num ambiente completamente diferente do que estou acostumada. Minha expectativa é o aprendizado: conhecer e interagir com a atmosfera da publicidade e do marketing .

Com a enorme transformação que o mercado audiovisual tem sofrido, principalmente pela entrada das plataformas digitais, mais do que nunca  há a necessidade de integrar o conteúdo e as marcas em forma de entretenimento. Será ótimo examinar e julgar projetos de diferentes partes do mundo, a maioria deles carregando a força e a comunicação de marcas. Certamente isso abrirá minha mente e trará inspiração para continuar criando e produzindo na Formata.

Uma curiosidade: poderíamos ter inscrito alguns de nossos projetos  no Lions!! Nunca parei pra pensar nisso. Mancada! Nosso reality de youtubers, apresentado pelo Danilo Gentili no canal Sony, ‘Entubados’, foi um branded content. Fizemos o programa inteiro patrocinado pela GM (Onix )!! Tivemos também o ‘Pequenos Campeões’, que fizemos com a Nestlé para o SBT em 2015. Certamente, das próximas vezes quero participar do Festival também como inscrita pois há um desejo de entrar com tudo nesse mercado.”

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Laura Florence - Pharma

“A nova história.

Me pediram para contar uma história peculiar sobre Cannes. Imediatamente me veio à cabeça a do homem que foi a um restaurante e, sem entender direito o cardápio, pediu pelo preço escolhendo o prato mais caro. Minutos depois, toda a equipe sai da cozinha trazendo um bolo e cantando parabéns, cheia de compaixão por um homem que comemorava seu aniversário sozinho.

Comecei a pensar em outras, em várias. Mas aí me peguei fazendo um artigo para uma revista de fofoca. Acho que esse não é o objetivo. Pode deixar, Mané, parei.

Além de palco para narrativas maravilhosas, o Festival de Cannes mudou a história de muita gente. Não dá para negar o valor de um Leão para um criativo e uma agência. Do publicitário desconhecido, para o criativo do ano. Quantas vezes vimos isso?

Acredito que a história que o Festival está tentando mudar agora é a sua própria. Claro que não é um processo de apenas 365 dias, mas vejo alguns sinais significativos de que se quer outros protagonistas. Principalmente pela busca de maior diversidade no júri, tanto em gênero como em narrativas. Saímos do formato publicitário padrão para visões e trajetórias de carreira diferentes. Agora, tem jurado que nunca foi ao Festival e jurado que nunca trabalhou em agência. Por isso me sinto ainda mais feliz por ter sido indicada este ano. Por fazer parte da transformação e estar ao lado de tanta gente interessante.

Este ano vamos olhar menos para o nosso umbigo e levantar a cabeça para ver o mundo de verdade. Que daqui a alguns anos a gente possa ter o distanciamento necessário para realmente confirmar que 2019 se trata de um capítulo diferente.

Que seja mesmo o começo de uma nova história.”

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Lucas Duque - Entertainment Lions For Music

“Como a grande maioria dos queridos jurados brasileiros, esta não é minha primeira vez no Festival. Mas receber o convite para ser jurado, pra fazer parte do Festival é, além de uma surpresa, uma felicidade muito grande.

Em Cannes já me aconteceu de tudo: ganhei Bronze, Prata, Ouro, participei de projetos incríveis que não ganharam nada, de projetos que ninguém levava fé, que ganhou tudo, mas a história que mais me diverte foi a de ter entrado no shortlist por 45 segundos.

Primeiro ano em Cannes. Dividia um apê incrível com grandes amigos. Aquele deslumbramento de um debutante. Acordo com gritos vindo de um dos quartos de “é shortlist, porraaaaa!”. Saí correndo pra entender e vejo que um dos meus amigos estava checando no site todas as suas peças, e tudo era shortlist. Uau! Perguntei pela minha (no singular mesmo), e pronto: shortlist. Caramba, que sensação incrível! Eu já estava participando daquilo ali de um jeito muito especial. Acordei o redator do spot no Brasil, liguei pra minha mãe…até que 45” depois, meu amigo me avisa que se enganou. Ele estava vendo a longlist. E vida que segue. Mas o gostinho de ser shortlist ninguém me tirou.

Espero que Cannes 2019 seja incrível não só pra mim, mas pra todos que colocaram tanto esforço e coração em seus trabalhos. Na minha categoria (Entertainment Lions for Music) já percebi que o nível de excelência é gigante. O que só torna tudo deliciosamente difícil de julgar. :)”

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Marcelo Tripoli - Innovation

“Este é meu 11º ano no Festival. Não perco. Vou todo ano. Acho que é um momento bastante importante para quem trabalha com comunicação para se conectar com outras pessoas e fazer um refresh de ideias.

Tenho duas histórias interessantes. A primeira foi o fato de que, de forma totalmente inesperada, eu encontrei o Mark Zuckerberg (cofundador do Facebook). Ele estava sozinho, sem assessor, no lobby do Majestic. Era a primeira vez dele em Cannes. Muito antes de abrir o capital da empresa e de o Facebook virar a potência que é, ele estava falando da rede social e de como iam tomar o mundo. Ele tinha feito uma palestra e eu o encontrei no lobby do hotel. Fui falar com ele. Pedi para tirar foto. Fui lá tietar. Foi um negócio interessante.

O segundo caso é ainda mais interessante. Depois de uma apresentação, o Cannes Debate, Martin Sorrell divulgou um e-mail para quem quisesse enviar um feedback. Mandei um e-mail para ele, falando que eu era sócio de uma agência de marketing digital brasileira e que eu queria conhecê-lo. Meia hora depois, meu telefone tocou. Era uma assessora do Martin Sorrell me convidando para tomar um café da manhã com ele no dia seguinte. Fui. Tomei o café da manhã. A primeira pergunta que ele fez foi quantos anos eu tinha. Na época, devia ter uns 27. Perguntou da empresa, perguntou qual era minha visão sobre o mercado brasileiro. Foi um café de uma hora. Depois de três meses, ele pediu para a pessoa de merger & aquisictions do WPP visitar minha empresa. Muitos meses depois, o WPP acabou fazendo uma oferta. A negociação não foi concluída. Fiz a venda da agência para o grupo Publicis por meio da Sapient Nitro. Essas são minhas histórias de Cannes.

Sobre ser jurado de Innovation, estou super feliz com essa oportunidade. A categoria tem tudo a ver com minha carreira, muito voltada para a tecnologia. Mais interessante dela é o formato de o julgamento ser ao vivo. Estou muito empolgado com a oportunidade”.

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Rafael Donato - Direct

“Cannes é a Copa do Mundo da propaganda, em todos os sentidos.

Tem favoritismo? Tem

Tem política? Tem

Mas também tem o melhor da propaganda mundial.

As melhores peças, os maiores craques, estão todos lá competindo. Por isso, nada se compara a subir no palco do Palais e levantar um Leão. Naquele momento, você se sente o melhor do mundo.

O Festival consegue ser palco de muitas alegrias, mas também de muitas decepções. A pior sensação do mundo como criativo é ir a Cannes, com peças concorrendo, e voltar sem ter ganho um Leão sequer. Já passei por isso mais de uma vez. Mas tentei usar essa frustração para aprender, me esforçar mais, e continuar tentando. Ainda sim é bom lembrar: ganhar ou não ganhar não depende só da gente, mas de muitos outros fatores, que vão além do nosso controle.

Já fui muitas vezes para Cannes. Nas primeiras vezes fui de cigano, dormindo nos sofás de amigos, mendigando ingressos para as festas, era demais! Depois fui como delegado, assistindo as palestras, vendo as peças e torcendo pra subir no palco, e às vezes subindo (!). E agora, finalmente, como jurado, avaliando as peças, ajudando a dar a cara para o Festival. Foram experiências diferentes todas as vezes, mas uma coisa nunca mudou para mim: sempre voltei de Cannes com uma vontade imensa de criar mais. Impossível não voltar inspirado de lá.”

 

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