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Coluna do W.O.

O importante é assistir

16.08.21

Sou medalha de ouro na categoria pior marido que uma mulher pode ter em ano de Olimpíada. Acordo de madrugada para assistir a qualquer competição e ainda exijo participação.

Faço comentários do gênero “olha como arremessa peso essa neozelandesa” e levanto questões do tipo “você acha que colocar a escalada como nova modalidade na Olimpíada era necessário, ou só o surfe e o skate já bastariam para modernizar o evento?”.

Na Olimpíada de Tóquio, por estarmos morando na Europa, convivemos com uma diferença de fuso menor do que se estivéssemos no Brasil.

Mesmo assim, perdemos várias noites de sono, coisa que, na minha opinião, valeu a pena. E que, na opinião da minha mulher, também valeu.

Particularmente, porque ela ficou maravilhada com o desempenho das atletas brasileiras.

Olimpíadas não falham. Sempre reservam grandes emoções.

A de Tóquio mostrou a coragem da ginasta Simone Biles, que se recusou a participar da maioria das finais para cuidar de sua saúde mental.

Revelou para o mundo a skatista brasileira Rayssa Leal, que conquistou uma medalha de prata aos 13 anos de idade.

Gerou polêmica com a atitude dos atletas do salto em altura, Mutaz Essa Barshim, do Qatar, e Gianmarco Tamberi, da Itália, que decidiram dividir a medalha de ouro, num gesto considerado por alguns como prova de companheirismo e, por outros, como algo que feriu as tradições da competição.

Colocou na onda o surfista brasileiro Ítalo Ferreira, que ganhou aquele ouro que muitos imaginavam que Gabriel Medina ganharia.

Apresentou a jamaicana Elaine Thompson-Herah, que venceu os 100 metros rasos, batendo o recorde que, durante 33 anos pertenceu à norte-americana Florence Griffith-Joyner.

Deu um ouro e uma prata para a ginasta brasileira Rebeca Andrade, que, depois de superar uma contusão gravíssima no joelho, botou todo mundo para dançar no “Baile de favela”.

Deu bronze no tênis para a dupla Luisa Stefani e Laura Pigossi, que superaram as russas depois de evitar a derrota em quatro tiebreakers, conquistando assim a primeira medalha olímpica do Brasil nesse esporte.

Deu ouro à dupla Martine Grael e Kahena Kunza, conhecidas como Bailarinas da Vela, porque velejam como quem dança.

Deu ouro na maratona aquática para a melhor do mundo há dez anos, Ana Marcela Cunha.

E deu até motivos para boas risadas, provocadas por um sujeito chamado Fernando Frias, que, ao ler na internet que o atleta brasileiro Marcus D’Almeida tinha sido eliminado nas oitavas de final do arco e flecha, escreveu: “Não era mais fácil mandar um índio?”.

Voltando aos brasileiros medalhados. Kelvin Hoefler, prata no skate; Mayra Aguiar e Daniel Cargnin, bronzes no judô; Fernando Scheffer e Bruno Fratus, bronzes na natação; Alison dos Santos, bronze nos 400 metros com barreira; Thiago Braz, bronze no salto com vara; Abner Teixeira, bronze no boxe; Pedro Barros, prata no skate; Hebert Conceição, ouro no boxe, Isaquias Queiroz, ouro na canoagem; Bia Ferreira, prata no boxe; meninas do vôlei, prata; time de futebol masculino, ouro.

O Brasil terminou a Olimpíada em 12º lugar, com 21 medalhas, duas a mais que na Olimpíada do Rio, aproveitando muito bem o que os especialistas em Olimpíadas chamam de efeito residual.

Apenas uma observação: em 1970, quando o Brasil disputou o mundial de futebol, alguns brasileiros resolveram não torcer, por causa do presidente Médici, representante da ditadura. Nesta Olimpíada, alguns brasileiros resolveram não torcer, por causa do atual presidente, admirador da ditadura.

Eu resolvi torcer porque sei que presidentes não conquistam campeonatos, nem ganham medalhas.

Quem conquista campeonatos e ganha medalhas são os atletas, que, na maioria, lutam com enormes dificuldades e merecem toda a nossa torcida, respeito e admiração.

Presidentes apenas procuram pegar carona nos feitos desses heróis, particularmente quando eles acontecem nos esportes mais populares.

Pode perguntar para o genial Tostão, que já tinha consciência disso quando ganhou o Mundial de 1970, no México.

Washington Olivetto
Publicitário

washington@washingtonolivetto.com.br

Texto publicado no jornal O Globo

Leia texto anterior da Coluna do W.O., aqui.

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