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Rynaldo Gondim em "Por mais B"
No fim do ano passado, Laís Prado me convidou para escrever um texto por mês para o site do CCSP neste ano de 2014. Fiquei extremamente feliz e honrado pelo convite. Aqui vai o primeiro texto. Espero que a Laís não se arrependa.
POR A MAIS B
A. Duas da manhã na Tijuca, subúrbio do Rio de Janeiro. Serginho está falando de um orelhão em frente ao prédio da sua namorada. Desce, Rosângela. Não desço, Serginho. Desce, Rosângela. Não desço, Serginho. Se você não descer, eu juro que vou invadir a portaria do seu prédio com carro e tudo. Duvido, Serginho.
Rosângela desliga o telefone. Serginho desliga o bom-senso. Entra no carro e acelera velozmente. Sobe a pequena escada da fachada do prédio, quebra o enorme blindex e só para quando o carro bate na porta do elevador. Ele desliga o motor e pensa: fiz merda. O porteiro, que por pouco não foi atropelado, acorda. Devagar, se aproxima de Serginho e fala com toda a calma do mundo: Mulher, né?
B. Duas da manhã na Tijuca, subúrbio do Rio de Janeiro. Serginho está falando de um orelhão em frente ao prédio da sua namorada. Desce, Rosângela. Não desço, Serginho. Rosângela desliga o telefone. Serginho entra no seu carro e vai embora pra casa.
A. Os irmãos Edivaldo e Paulo ganham uma herança. Cem mil reais pra cada um. Paulo abre duas cadernetas de poupança. Edivaldo, bem, Edivaldo de certa forma também investiu em poupanças. Ele contratou quatro prostitutas e alugou uma enorme suíte do Copacabana Palace onde passou sete dias. Uma semana depois, os irmãos se reencontram e Edivaldo pede emprestados cinquenta reais para Paulo. Preocupado, Paulo conversa com os pais e eles preparam uma espécie de intervenção. Paulo convida o irmão para jantar em sua casa e, quando Edivaldo chega, toda a família está reunida. Edivaldo, nós chamamos você aqui porque estamos muito preocupados com você. Você gastou 100 mil reais em uma semana. Edivaldo fecha os olhos, sorri e, ainda com os olhos fechados e ainda sorrindo, esclarece: Pô, mas que semana!
B. Os irmãos Edivaldo e Paulo ganham uma herança. 100 mil reais pra cada um. Paulo abre duas cadernetas de poupança. Edivaldo aplica tudo em um fundo de investimento.
A. Jorge estava cabisbaixo. E quando ele se sentia assim, gostava de ir para onde se sentia bem: para os prostíbulos da Praça Mauá. Ele escolheu um deles. Bebeu meia garrafa de uísque barato e já estava indo embora quando Pamela se sentou ao seu lado. Ela era bonita e divertida. Mais meia garrafa de uísque e os dois foram tropeçando um no outro até um motel muquifo a poucos metros dali. Chegando ao quarto, Pamela fica meio aflita e pergunta: você não se importa mesmo com a minha prótese? Jorge não havia percebido. Foi a vez dele ficar aflito. Mas ele não podia ferir o coração daquela moça que já havia sido ferida em outra parte do corpo. De jeito nenhum, meu amor. Tire a roupa e vamos nos divertir. À medida que Pamela vai se livrando da roupa, Jorge vai se livrando do preconceito. Meu amor, você é linda. Me dá um beijo e depois fica de três.
B. Jorge estava cabisbaixo. E quando ele se sentia assim gostava de ir para casa, tomar um remédio e dormir. Foi o que ele fez.
Pretensiosamente, tentei provar por A mais B que ser bem-comportado pode ser mais seguro, mas ser malcomportado gera histórias muito mais interessantes. É assim na vida e é assim na comunicação.
As versões A das três histórias são reais. Os protagonistas foram consultados e permitiram que eu escrevesse esse texto. Em nome da privacidade, troquei os seus nomes. Sem que eles tivessem pedido.
Posso garantir que esses três cavalheiros possuem uma legião de fãs. Por suas virtudes, mas especialmente pelos seus defeitos. Porque são os defeitos que os tornam humanos e extraordinariamente autênticos.
Rynaldo Gondim
Redator da AlmapBBDO.