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Festival do Clube 2019

Plástico e aquecimento: vamos fazer algo a respeito?

10.10.19

Os últimos cinco anos foram os mais quentes da história, desde que se começou a pesquisar o clima, em 1950. As emissões de gases estufas nunca foram tão altas. “Por consequência, os níveis dos mares subiram de 28 centímetros até 1m10. E o setor de comunicação precisa fazer o seu papel para informar as pessoas sobre a seriedade da situação”, afirmou o professor titular de glaciologia e geografia polar da UFRGS e pesquisador líder do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), Jefferson Simões. Seu alerta foi dado durante o painel “Um planeta aquecido e de plástico, vamos ou não vamos fazer algo sobre?”, realizado no Festival do Clube de Criação 2019, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.

Apesar de tudo que está acontecendo na Amazônia, os oceanos são responsáveis pela produção de 50% do oxigênio que respiramos e a situação só não está pior porque ele absorve 25% do gás carbônico que são emitidos, acrescentou a cientista marinha Lara Iwanicki, do Instituto Oceana Brasil. “Mas os oceanos vêm sendo tão atacados e os plásticos são os piores (inimigos), porque geram dificuldade para toda a biosfera marinha”, disse.

Desenvolvido há mais de um século, o plástico ganhou nos últimos 50 anos uma relevância brutal no mercado, por ser leve, barato e versátil, estando em vários componentes do cotidiano das pessoas. “Hoje cerca de 300 milhões de toneladas de plásticos são produzidas no mundo por ano, sendo que a maioria disso é de uso único e rápido, como copos, pratos e talheres. A velocidade com que se produz e consome é muito maior que a capacidade de se fazer gestão do resíduo gerado. O que é insustentável”, explicou Lara.

Ela acrescentou que os oceanos, ao abrigar uma imensa biodiversidade, são fundamentais para regular a vida na terra. Eles também geram renda para pelo menos um terço da população mundial - ou cerca de três bilhões de pessoas. “Apesar disso, a sociedade tem uma interação bastante negativa com os oceanos, degradando e poluindo os ecossistemas”, comentou.

Para Lara, o que vem acontecendo com praias cobertas de garrafas e outros tipos de plástico é como se o mar estivesse cuspindo de volta tudo que foi jogado nele. “A maioria dos municípios não conta com coleta seletiva. Que dirá com sistemas de reciclagem dos resíduos?”, questionou. A cientista declarou ainda que, do que se produz, 80% viram resíduo. Muito desse material vai parar nas águas dos rios e mares. E, quando chega ao mar, se torna um problema global. “Por causa das correntes marinhas um lixo que saiu do Brasil acaba parando na África”, esclareceu.

O Programa de Monitoramento de Praias no Brasil, segundo a especialista, já recolheu em quatro anos, na região Sudeste e Sul, mais de cinco mil animais marinhos mortos devido à interação com plástico. “Está na hora de se pensar nisso e tentar encontrar soluções. A mais óbvia é a reciclagem, mas não resolve tudo porque ela deveria reciclar 80% do plástico”. No mundo, esse índice de reciclagem, porém, é de 9%. No Brasil não chega a 7%. Além disso, os materiais de uso único, como copos, não têm interesse econômico para a reciclagem. “É como se uma banheira estivesse transbordando e a gente só enxugando o que molha, quando na verdade tem de fechar essa torneira e reduzir a produção”, completou Lara.

Para a mediadora Paulina Chamorro, colunista de oceanos e plástico da National Geographic, essa é uma questão que envolve toda a sociedade, governos e também a indústria, já que a embalagem é um ponto fundamental.

A indústria é parte do problema, admitiu Cristine Lu, a gerente de marketing de produtos para casa da Unilever. “Mas também podemos ser parte da solução”, emendou. Na Unilever, há metas e compromissos claros nesse sentido. “Queremos reduzir em um terço o peso das embalagens e, até 2025, 100% de todas as embalagens serão recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis”, afirmou.

Segundo Cristine, é preciso engajar também o consumidor. É aí que os profissionais de comunicação e marketing entram para ajudar. “Pegamos o Omo como carro-chefe para levar toda essa cultura, já que o produto está em sete de cada dez lares brasileiros. Então, vamos levar essa informação e dirigir a transformação.”

De acordo com a gerente, a empresa apoia uma série de iniciativas públicas e privadas como do Pão de Açúcar para reciclagem, além das inovadoras, como o aplicativo Molecola, que troca embalagens por prêmios para os usuários. “Isso para garantir que o plástico que chega aos recicladores tenha qualidade para conseguirmos usar nas nossas embalagens novamente. Para a roda girar, é preciso um approach holístico. Menos plástico, melhor plástico e nenhum plástico”, disse.

Para Giovanni Vannucchi, sócio e líder de embalagens da Oz Estratégica+Design, os vários atores desse mercado terão de participar e contribuir com o movimento de mudança e conscientização. “É preciso passar da economia linear para uma economia circular. E é fundamental que todos assumam seu papel nesse sentido, porque essa já é uma situação de emergência. Não temos mais tempo. A mudança é ampla, mas hoje a espécie mais ameaçada é a humana”, declarou.

 

Anna Lúcia França

Festival do Clube 2019

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