arrow_backVoltar

Festival do Clube 2019

Uma jornada pelo fotojornalismo além fronteiras

15.10.19

"O jornalismo, independente de qualquer definição acadêmica, é uma fascinante batalha pela conquista das mentes e dos corações de seus alvos – leitores, telespectadores ou ouvintes". A frase é de Clóvis Rossi, jornalista falecido neste ano, mas poderia definir o trabalho do brasiliense Ueslei Marcelino, fotógrafo da agência de notícia Reuters.

"Quando você é fotojornalista precisa esperar um pouco antes de fazer a foto para não perder a melhor cena. Às vezes, tem de deixar o coração falar mais alto", disse Ueslei, que venceu neste ano o Pulitzer de Fotojornalismo, um dos maiores prêmios de jornalismo dos Estados Unidos. Em seu painel no Festival do Clube de Criação 2019, ele contou os bastidores da cobertura que lhe rendeu o mérito, a marcha de imigrantes que partiu da América Central e pretendia entrar nos Estados Unidos no ano passado.

Ueslei se juntou aos imigrantes no início da caminhada e optou por acompanhá-los a pé, vivenciando com eles todos os percalços da trajetória. Foram dois meses vivendo na estrada. "Queria caminhar com eles porque eu teria mais originalidade e maior verdade na história", explicou.

A busca pela essência dos fatos o levou a clicar cenas inesquecíveis, como a da segunda foto que fez na jornada. "Foi uma senhora que estava sozinha em um canto, chorando. Ela estava fazendo uma oração", relembrou. Dentre as imagens inesquecíveis, está a foto que lhe conferiu o prêmio: um pai hondurenho protegendo um bebê em um dos dias da travessia.

Acostumado a cobrir pautas de economia e política, Ueslei experimentou momentos desafiadores ao longo da caminhada, ao lado dos imigrantes. "Em um dado momento, estávamos com bolhas nos pés, dormindo no chão, com dificuldade para obter água”, relatou. Em outro percalço, acompanhou uma família durante uma travessia de rio. “Por vezes a água chegou à altura do peito das pessoas", disse.

As crianças da marcha foram os "alvos" preferidos de seus cliques. Havia muitas no caminho. “Elas acabam se divertindo com qualquer coisa. Brincavam com telas, sacos de lixo. Fiz a foto de uma boneca esquecida no meio da estrada. Com essa imagem, queria passar a ideia do que fica para trás nessas marchas: não só os brinquedos, mas a infância perdida", avaliou.

Diferentemente da maioria de seus colegas fotojornalismo, Ueslei é formado em publicidade e propaganda. "Minha formação me ajuda a buscar imagens icônicas", contou. Antes de seu painel, ele já havia declarado ao Clubeonline que o maior desafio de um fotógrafo é fazer com que sua foto fale, se expresse sozinha (leia mais aqui). Desafio que cumpriu perfeitamente com o trabalho para a Reuters na marcha de imigrantes.

Ao refletir sobre o sentido da cobertura, Ueslei acredita que a importância desse projeto ultrapassou a vida profissional. "A humanidade é feita por migrações. Com essa cobertura, percebi que posso trabalhar temas que podem ser mais importantes e urgentes para a sociedade", analisou.

Festival do Clube 2019

/