arrow_backVoltar

Festival do Clube 2019

Duailibi, Tranjan e Zanzoti: censura e resistência

26.09.19

O painel "Cases e Causos: Como driblar a censura na publicidade", com participação de Manoel Zanzoti (ex-Almap e Y&R), Ercílio Tranjan (ex-Salles e Propeg) e Roberto Duailibi (um dos fundadores da DPZ, atual DPZ&T), fez jus ao tema “Resista” desta 8ª edição do Festival do Clube. Eles contaram sobre parte da história de algumas das principais agências de propaganda no Brasil no período do Regime Militar.

Apesar de mais branda com a propaganda, a Lei da Censura de 1968 contra imprensa, expressões artísticas e manifestações, fez empresas como DPZ e a extinta Salles, serem alvo de censores e processos na Polícia Federal.

A relação com o tempo presente foi inevitável e, para os três, existe um perigo iminente sobre algumas decisões que estão sendo tomadas contra a imprensa e liberdade de expressão.

"Perigo em que os pensamentos têm de servir a um pensamento autoritário. O clima que se cria em volta disso, abre caminho para que o mal apareça", destacou Tranjan. Para ele, é preciso alimentar o espírito de resistência que existe dentro das agências de publicidade. Ele lembra que o próprio Clube de Criação do
Rio de Janeiro, seguido pelo de São Paulo, liderou o primeiro manifesto sobre a Lei da Anistia no Brasil.

Entre os muitos causos contados por Duailibi, chama a atenção um anúncio para o lançamento do preservativo Jontex, na década de 1980, época em que ainda havia pouca informação sobre a Aids. Mesmo a pedido do Governo, a agência teve de dar explicações aos censores, pois uma Lei de 1944 dizia que seria configurado crime qualquer anúncio que destacasse métodos contraceptivos. "É de um tamanho absurdo deixar questões de saúde de lado em nome de outras crenças. Houve inclusive um período que tivemos de ir até Brasília para aprovar anúncios antes de eles serem publicados", contou Duailibi, que apesar de todos os percalços, destaca que a "resistência é necessária".

Para ressaltar a importância de resistir, Zanzoti usou o exemplo de um anúncio que fez enquanto trabalhava na Almap, já em 2007, sobre liberdade, e que trazia o seguinte slogan: "Liberdade de Expressão. Cuidado: às vezes começam a tirar e você nem percebe." "O ponto é que a coisa é cíclica e isso está voltando, mas desta vez, começaram a nos tirar e estamos percebendo”, finalizou.

Beatriz Lorente

Festival do Clube 2019

/