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Festival do Clube 2021

Experimentação e cocriação: o futuro dos videoclipes

13.10.21

A ascensão do vídeo como uma das principais formas de consumo de entretenimento para o brasileiro adicionou novas camadas ao trabalho de artistas, que viram os videoclipes ganharem ainda mais importância nos últimos anos. As novas formas de criar um clipe, a conexão das produções com as marcas e a importância da cocriação entre artistas e diretores na construção de um novo tipo de linguagem no país foram abordados no Festival do Clube 2021 em um painel que contou com o diretor de cena Marco Lafer e um dos fundadores do Alaska, a cantora Duda Beat, o diretor criativo Giovanni Bianco, e a CEO da K2L Kamilla Fialho. A conversa foi mediada por Gabriel Andrade, o Bill, curador da AKQA\Coala.LAB.

Nome por trás de produções de Anitta, Luisa Sonza e O Terno, por exemplo, Marco compartilhou bastidores de seu processo criativo. "Mergulho na música, fico escutando-a, pirando nela até entender o que ela suscita", afirmou. A colaboração com o artista também é primordial. "Dependendo do artista, essa piração cabe mais ou menos. Fico feliz de encontrar profissionais abertos, que já conhecem meu modo de trabalho e me procuram exatamente porque querem trabalhar dessa forma", declarou.

É o caso da própria Duda Beat. A parceria entre Alaska e a cantora resultou no clipe “Nem um pouquinho”, que adiciona uma estética cyberpunk ao som da pernambucana (confira mais abaixo). "Adoro gravar videoclipes, receber roteiros. Vejo essas produções como respeito aos fãs, que adoram esse conteúdo", revelou.

Bianco, diretor criativo mundialmente reconhecido por trabalhos com personalidades como Madonna e Rihanna - e que responde por "Girl from Rio", trabalho recente de Anitta (veja abaixo), destacou que sua melhor forma de trabalhar é através da colaboração. "Batalho para que o artista entenda o poder da imagem, da linguagem e não tenha medo de ser artista. Gosto muito de trabalhar com a criatividade inicial, que vem do próprio artista, que está aberto ao olhar de terceiros e ao complemento. Música e imagem fazem parte do imaginário, elas andam muito juntas", avaliou.

Muito além das fórmulas e clichês

O trabalho de convencimento passa por entender também as posições sociais dos artistas. De acordo com Kamilla Fialho, que assessora alguns dos maiores MCs e funkeiros do Brasil, o videoclipe é tido por muitos como algo inalcançável. Daí também a insistência em alguns clichês do gênero, como o combo carro e mulheres. "Vejo que cantores de música urbana, como o funk, sonham pouco, devido às condições a que foram submetidos durante a vida. Eles se acostumaram a acreditar que o menos é suficiente. Por isso, muitas produções se apoiam nos clichês. Meu trabalho é trabalhar para mudar isso", disse.

Bianco contou que as pessoas procuram fórmulas próprias e tendem a encarar os números como a única métrica de sucesso, em vez de atender aos quesitos de qualidade e a criação de sua marca pessoal. "Sucesso não é número de visualizações, de plays, mas em um conceito mais amplo, o trabalho que tem durabilidade. A palavra sucesso significa, em latim, realizar. Então, não existe certo ou errado", reforçou.

Bill, da AKQA\Coala.LAB, acrescentou que o mercado ainda precisa entender melhor o que são essas métricas. "Como a principal plataforma de consumo de vídeos é o YouTube, as pessoas confundem view com play e é preciso fazer essa diferenciação. Marcas também têm esse vício ao invés de pensarem no legado cultural", observou.

Para Duda Beat, a sutileza traz a melhor forma de exposição. Ela lembrou sua experiência com o site de imóveis Quinto Andar, seu parceiro no clipe "Te Amo Lá fora", cuja marca não apareceu em nenhum momento durante o clipe. "Gravei em diversos apartamentos de São Paulo e a companhia criou uma promoção para quem achasse as locações no próprio site. Foi uma forma divertida de expor o Quinto Andar e dar força a uma narrativa que começou no videoclipe e terminou em outro ambiente", salientou.

Segundo Giovanni, as marcas precisam entrar de forma orgânica nas narrativas, do contrário, parecerão sempre intrusivas aos olhos dos fãs. "Entendo que precisamos equilibrar a exposição da marca para justificar o investimento, mas torço por narrativas mais fluidas", afirmou. De acordo com Kamila Fialho, o processo é invertido, com a busca dos espaços publicitários somente após a criação do mood conceitual de um projeto musical. "Nós convidamos marcas constantemente a se associarem a esse movimento cultural, sendo um parceiro e não limitando o contato", afirma.

Raissa Coppola, em colaboração para o Clube de Criação.

Todos os painéis do Festival do Clube 2021, realizado entre os dias 22 e 23 de setembro, foram transmitidos pelo Globoplay. O evento deste ano foi gratuito.

O conteúdo do Festival já está disponível na plataforma de streaming. Até o dia 27 de outubro - acesse a partir daqui.

Reveja a programação completa aqui.

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