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Festival do Clube 2023

Quadrinhos no Brasil: mercado rico e diverso, mas pode ser maior

16.10.23

A cena brasileira de quadrinhos é rica e diversificada, com talentos emergindo de diferentes regiões do país e nomes que brilham no cenário internacional. Durante o painel “Quadrinistas brasileiros: dias de glória, dias de luta”, diversos artistas compartilharam com o público do Festival do Clube de Criação 2023 suas experiências, desafios e conquistas no mundo dos quadrinhos.

Ivan Costa, CEO da Chiaroscuro Estúdios e cofundador da CCXP, foi mediador da mesa. Profundo conhecedor da cena de quadrinhos no país, ele destacou a rica tradição do país na arte sequencial, mencionando que, embora o Brasil tenha uma longa história de ilustradores e quadrinistas, remontando ao século XIX com Ângelo Agostini, o país ainda enfrenta desafios para estabelecer um mercado sólido de quadrinhos.

Ele ressaltou que, apesar do vibrante e criativo mercado de quadrinhos no Brasil, a falta de distribuição, pontos de venda, editoras e financiamento impede que ele cresça e se estabeleça de modo robusto. “O Brasil possui uma cena de quadrinhos que é muito forte, mas muito pequena", observou, indicando a necessidade de superar esses obstáculos para o setor alcançar seu potencial pleno.

Ana Cardoso, ilustradora e quadrinista criadora dos quadrinhos “We Pet Animal Center” e “Quando você foi embora”, contou como se surpreendeu e se sentiu honrada ao ser convidada para um projeto especial: ela foi chamada Mauricio de Sousa Produções (MSP) para fazer o quadrinho do Mingau, o gatinho da Magali, intitulado "Mingau – Apego".

Ela acredita que sua afinidade com o universo dos pets foi um fator determinante para a proposta feita pela MSP: "Eu imagino que o convite veio justamente por esse contato. Eu já tinha publicações autorais antes de publicar pela Maurício de Souza" (leia mais sobre sua carreira e dos demais participantes do painel aqui).

Refletindo sobre sua trajetória, Ana revelou que tinha medo de entrar no mercado. Antes de se formar em artes, ela estudou administração. No entanto, a paixão pelos quadrinhos e a busca por representatividade a motivaram a seguir nesse caminho. "Eu sentia muita falta de mulheres publicando quadrinhos. Sentia falta de me ver num espaço onde, sim, a maioria era masculina. Eu queria me ver ali, queria ver outras mulheres. É fundamental que as meninas vejam que podem ser o que quiserem, inclusive quadrinistas", ressaltou.

Um dos nomes mais famosos do mercado, Fábio Moon tem quase 25 anos de carreira e é conhecido globalmente pelos quadrinhos “Daytripper” e “10 Pãezinhos”, que publicou com seu irmão Gabriel Bá. Ele analisou as mudanças no segmento. "Quando comecei, não tinha editora publicando quadrinho nacional. Por isso, eu fazia fanzine, tirava xerox, dobrava, grampeava, ia vender de mão em mão", lembrou.

Ele reconheceu que a web e a globalização ajudaram abrindo novas portas para os quadrinistas. "A internet criou outras portas para as pessoas entrarem nos quadrinhos. Hoje, você pode estar em qualquer lugar", afirmou.

Além disso, Fábio destacou a importância da relação direta entre o quadrinista e sua audiência, afirmando que "o quadrinista ainda é o seu melhor vendedor. Ele tem um contato direto com o público muito maior do que qualquer outra área de comunicação artística."

Germana Viana, autora de "Lizzie Bordello e as Piratas do Espaço" e "Empoderadas", dividiu com a plateia sua trajetória multifacetada no mundo dos quadrinhos. Ela começou sua carreira nos bastidores, trabalhando em design gráfico, letreiramento e escrevendo sobre HQs em um site chamado "Azul Calcinha".

Em um momento revelador de sua carreira, após um encontro com o artista novaiorquino George Pérez, ela foi encorajada a se posicionar mais ativamente no mercado. Germana brincou ao rememorar esse dia: "Se o George Pérez achou legal, então, quem não gostar que se lasque".

Esse reconhecimento, vindo de uma figura tão respeitada – com produções para DC e Marvel –, reacendeu sua paixão e determinação para mostrar seu trabalho ao mundo. Ela comentou sobre a ironia de, como feminista, ter precisado da aprovação de um homem para sentir-se validada em sua arte.

O nome mais novo do painel foi o de Lucas Werneck, ilustrador que já passou pela DC Comics e hoje trabalha com exclusividade para os heróis mutantes da Marvel. Ele falou sobre a importância da representatividade. "Descobri X-Men e me apaixonei porque eles falavam sobre ser diferente, ser excluído. Hoje, estou desenhando X-Men, como artista exclusivo da Marvel, e é emocionante fazer parte da história desses personagens", disse.

Lucas revelou que sua devoção pelos X-Men começou na pré-adolescência: "Sou da turma que via X-Men Evolution antes de ir para a escola". Ele relacionou essa paixão com sua própria jornada de autodescoberta durante sua juventude. "Estou desenhando um quadrinho de hominho, tentando mostrar cada vez mais diversidade nos quadrinhos”.

Ele também mencionou a influência da internet na democratização do acesso aos quadrinhos e como a web permitiu que artistas de vários lugares pudessem compartilhar seu trabalho e alcançar um público mais amplo.

O painel abordou ainda a evolução do mercado de quadrinhos no Brasil e a presença feminina nesse universo, com destaque para o evento “Lady’s Comics”, que reuniu mulheres quadrinistas de todo o Brasil e da América Latina.

Danilo Telles

11º Festival do Clube de Criação

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