arrow_backVoltar

Festival do Clube 2023

Modativismo não é moda: veio para ficar

06.10.23

Foi-se o tempo – se é que um dia isso existiu – em que a moda, em sua dimensão artística, era basicamente uma forma de expressão individual. Cada vez mais, ela vai se consolidando como uma forma de ativismo, afirmação e empoderamento de grupos diversos, minorizados ou invisibilizados.

Esse aspecto da moda – uma atividade econômica, mas que é também movimento social – foi tema do painel “Moda: ancestralidade, sustentabilidade, tecnologia e ativismo”, que contou com a participação da designer e professora da UFBA Carol Barreto, criadora do projeto Modativismo; da estilista e ativista indígena Patrícia Kamayurá; de Jal Vieira, fundadora da marca que leva seu nome; e de Igor Guimarães Borges, designer e cofundador da AirTificial, marca brasiliense ligada a inteligência artificial e tecnologia - leia mais sobre as histórias e os projetos de nossos convidados aqui.

A pegada social do trabalho de Carol, Patrícia e Jal mostrou a força do ativismo no setor: a primeira, com seu projeto voltado à integração de dezenas de artistas nas produções construídas por ela; a segunda, ao dar visibilidade à cultura indígena brasileira; e a terceira, ao priorizar as pessoas e criar espaços que valorizam e dão visibilidade ao trabalho de artistas negros.

Meu trabalho é social. Me vejo como uma empreendedora que leva para a minha comunidade os benefícios conquistados. Essa foi a forma que encontrei de ajudar e empoderar a comunidade”, contou Patrícia.

Desde muito jovem, a estilista sonhava em produzir roupas que retratassem a arte de seus ancestrais e mostrassem que a cultura indígena resiste, mesmo após séculos de colonização. “Estamos retomando o espaço e o empoderamento que nos foram tirados e, com isso, vamos mostrar nossa arte para o mundo”, afirmou.

A ação afirmativa é o que move também a atuação de Carol, que, como educadora, criou a primeira disciplina sobre moda e ativismo do Brasil, no departamento de estudos de gênero e feminismo da Universidade Federal da Bahia.

Estou na vida acadêmica há 23 anos e precisei compreender que a moda, para além do aspecto material, tem a ver com produção de discurso e práticas sociais. No campo da produção do discurso, estamos conseguindo nos fazer representar”, avaliou.

Não que o aspecto material não importe – muito pelo contrário. Jal Vieira enfatizou o valor do trabalho produzido por ela e sua equipe e cobrou reconhecimento, remuneração e condições dignas para os trabalhadores do setor.

Quando grandes empresas investem em talentos locais, elas dão visibilidade a esses artistas. Os talentos já existem, estão aí, só não são valorizados como deveriam”, apontou Jal.

Ela sabe bem o poder impulsionador de marcas mainstream: é uma das poucas estilistas negras a ter sido escolhida pela Disney/ Marvel como parceira em uma ação local – no caso, a iniciativa “O Poder é Nosso”, realizada no ano passado.

Na ação, que teve a mentoria da própria Jal, cinco artistas negros brasileiros foram selecionados para fazer uma releitura de personagens também negros do universo Marvel. “Quando a Marvel investe no talento de um coletivo como o nosso, ela possibilita que o que fazemos seja reconhecido e devidamente remunerado”, afirmou.

Trabalhos como o de Jal, Carol e Patrícia promovem a discussão de temas ligados à diversidade, sustentabilidade e brasilidade. “Precisamos fazer com que os grandes grupos do setor entendam que o Brasil tem uma cara própria e que tem que ter sua representação na moda”, afirmou a mediadora do painel, Camila Toledo, diretora de tendência da agência Fashion Snoops.

No quesito sustentabilidade, a atuação da AirTificial, de Igor Guimarães Borges, adota uma abordagem diferenciada. A marca de roupas e acessórios, que procura unir natureza (Air) e tecnologia (artificial) se inspira no solarpunk, movimento artístico futurista que gira em torno do conceito de sustentabilidade.

Segundo Igor, a marca, criada durante a pandemia, foi construída na internet e para a internet, após um longo processo de reflexão sobre o futuro e sobre a indústria da moda. A proposta é trabalhar questões humanas (como gênero e idade) relacionadas ao futuro e à sustentabilidade – ou seja, uma forma alternativa de ativismo.

Eliane Pereira

11º Festival do Clube de Criação

Patrocinadora premium: JCDecaux.

Patrocínio master (ordem alfabética): Globo, Google e Santeria.

Patrocínio/apoio (ordem alfabética): Adludio, Ama, Antfood, Apro+Som, At Five Gin, Barry Company, Broders, Canal Market, Canja Audio, Cervejas Avós, Cine, Droga5, Halley Sound, Kraft Heinz, Lucha Libre Áudio, Memorial da América Latina, Mr Pink Music, Monkey-land, Mugshot, My Mama, Nós - Inteligência e Inovação Social, O2 Filmes, Paranoid, Piloto TV, Publicis Groupe, Spotify, Surreal Hotel Arts, Tribbo, Unblock Coffee, UOL, Vati, Warriors VFX e WMcCann.

Festival do Clube 2023

/