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Immigrant

Saavedra e Phie Hansen lançam produtora

08.02.22

O diretor de cena brasileiro Rodrigo Saavedra (ex-Landia, Africa, Mother Londres, Wieden+Kennedy Amsterdam, Santo Buenos Aires e WCRS London) e a produtora executiva dinamarquesa Phie Hansen (ex-diretora administrativa da Hobby Film) apresentam ao mercado o estúdio de produção criativa Immigrant, que abre operações em São Paulo (Brasil), Copenhague (Dinamarca) e Amsterdã (Holanda).

Em território brasileiro, a empresa conta com Guilherme Passos (ex-Nomads, Produtora Associados, Stink Films, Wieden+Kennedy e Commonwealth//McCann) como managing director e produtor executivo.

Phie ressalta que o posicionamento da Immigrant é o de "extrapolar as fronteiras" em relação à produção cinematográfica. "Olhamos além do nosso ambiente local em busca dos melhores talentos de diretores e colaboradores, onde quer que estejam. Valorizamos a expressão pessoal e a nossa busca é pela ambição criativa", garante.

O time já é composto por profissionais de diversas nacionalidades. Além de Saavedra, a equipe de diretores de cena é formada pelos também brasileiros Cris Streciwik e Mar+Vin, pelo sueco Axel Byrfors, pelo dinamarquês Torben Kjelstrup, pela italiana Elena Petitti di Roreto, pelo norte-americano Michael Lawrence, pelos espanhóis Virgili Jubero e Pedro Martín-Callero, e pelo português João Retorta. Eles serão representados em países como Brasil, Dinamarca, Suécia, Noruega, Bélgica, Holanda e Luxemburgo.

Clubeonline ouviu Saavedra sobre o lançamento do negócio em meio aos impactos da pandemia, sobre diversidade na produção e sobre como sua experiência como criativo influencia em sua maneira de dirigir. Confira abaixo:

Clubeonline: O que levou você e Phie Hansen a decidirem lançar uma produtora em três países diferentes, num momento em que ainda há impactos da pandemia globalmente?

Rodrigo Saavedra: A pandemia não acabou e ainda temos impactos globais enormes, o que traz uma ansiedade extra na hora de viajar para filmagens fora do país. Temos que pensar em quarentena de diretores, testes de Covid semanais. Eu mesmo fiquei 14 dias trancado em um apartamento em Portugal quando fui filmar meu último filme de Heineken. Mas, a pandemia popularizou e otimizou a ideia de trabalho remoto e posso dizer que a minha própria carreira de diretor decolou durante esse período na Europa e nos EUA. Isso aconteceu porque a posição geográfica se tornou menos importante, uma vez que os criativos começaram a trabalhar de casa. A vantagem que um diretor londrino teria sobre um diretor brasileiro, por estar fisicamente mais próximo da agência e/ou cliente, desapareceu. A proximidade e a acessibilidade do diretor passaram a acontecer de outras maneiras, por meio de bons calls, comunicação clara e um workflow que funcione entre diferentes países.

Minha relação com a Phie Hansen começou desta forma, digitalmente, como acontece muitas vezes no mundo de representações. A Phie começou a me representar na Escandinávia em sua produtora anterior, como CEO do escritório dinamarquês. Já de início percebemos que tínhamos o mesmo pensamento em relação à produção, os mesmos questionamentos sobre velhos vícios do mercado, além de ambições e previsões parecidas para o futuro. Eu encontrei na Phie a produtora executiva mais receptiva que já tive na Europa. Em pouco mais de um ano, orçamos seis campanhas europeias e globais e faturamos 2,6 milhões de euros. Neste momento, ficou claro que um diretor latino podia ser líder em um mercado europeu. O que queremos fazer agora é replicar esse modelo que deu certo. Quero levar mais diretores latinos a filmarem na Europa e também trazer estrangeiros para que possam filmar aqui. Tudo isso só será possível com um workflow internacional muito bem pensado, que integre muito bem os três escritórios. Nós temos três posições geográficas, mas não fazemos distinção entre os profissionais em cada território. No final é uma produtora só, com as mesmas metas, técnicas e valores.

Clubeonline: Você diz que a Immigrant acredita na "construção de pontes culturais" e que "as vozes que propiciam o surgimento dos movimentos culturais e estéticos precisam necessariamente vir de todos os lugares", o que ajudaria a entender as "tendências, o comportamento dos consumidores, mercado e sociedade". Na prática, como a Immigrant pretende refletir esse posicionamento? Existe uma preocupação em ter nas operações da produtora lideranças e equipes compostas por pessoas negras, mulheres, LGBTQIA+, entre outros grupos minoritários? A ideia é que os trabalhos da produtora possam refletir essa diversidade?

Saavedra: Eu mencionei um pouco essa questão na resposta anterior, mas posso afirmar que as políticas afirmativas são obviamente centrais na produtora. Eu sempre fui um imigrante. Saí do Brasil aos 18 anos e aprendi rapidamente na Inglaterra que um latino não tinha as mesmas oportunidades que um europeu no mercado publicitário. Com os anos, isso foi mudando, principalmente pela chegada de grandes criativos latinos, como o argentino Juan Cabral. E com isso, a diversidade melhorou a publicidade inglesa.

A inspiração do nome Immigrant vem dessa época. Eu tenho muito respeito por pessoas que se aventuram em outros países. Fui casado com uma mulher turca, e entendo muito bem a batalha dos milhares de imigrantes turcos que ajudaram a reconstruir a Alemanha no pós-guerra, que sofrem preconceitos diários e mesmo assim, construíram um país que possui uma das sociedades mais modernas do mundo. A vacina da Biontech/Pfizer foi inventada por um imigrante turco. O jogador de futebol turco-alemão Ozil tem uma frase que diz: "Quando ganhamos sou alemão, quando perdemos me chamam de imigrante".

Existe uma enorme falta de diversidade nas agências e produtoras, mas esse cenário está se transformando. A Immigrant não é a primeira produtora a levantar essa bandeira, pois outras produtoras de ponta no Brasil estão tomando essa atitude, como Iconoclast, Stink e a própria Landia, da qual fui sócio. E na Immigrant nós fazemos parte desse movimento, a começar pela primeira contratação na produtora, uma mulher – a diretora italiana radicada em Londres, Elena Petiti di Roreto. No Brasil, minha primeira contratação foi a Cristina Streciwik, além do duo brasileiro Mar+Vin, dois diretores orgulhosamente gays e nordestinos.

Clubeonline: Você foi sócio da Landia, produziu diversos videoclipes no decorrer de sua carreira e, antes disso, foi criativo e diretor de criação no Brasil e no exterior. Como sua experiência em agências de publicidade influencia a sua direção de cena, seja de peças publicitárias, seja de conteúdos de entretenimento?

Saavedra: Ajuda muito, por alguns fatores. Primeiro, por já ter vivenciado o outro lado do balcão, consigo olhar para um roteiro e entender pelo que a agência passou até chegar ali. Segundo, ter sido diretor de criação me deu um treinamento enorme em Pre Production Meeting (PPM). E isso é uma técnica, pois uma PPM bem feita é um filme bem feito. Terceiro, hoje existem alguns projetos que pedem um escritor, além de um director (sejam projetos de branded content ou de agências), que querem a ajuda do diretor para expandir a ideia de um filme para um formato mais longo e eu adoro fazer isso, porque era minha especialidade na época de agência. Fiz muitas peças de branded content como redator para Stella Artois. Meus primeiros Leões em filme em Cannes vieram assim. Ainda são raras as oportunidades, mas eu já fiz isso três vezes como diretor: com meu curta para Francis Ford Coppola, "Winery" (assista aqui), que estreou em Sundance, outra para a banda Sueca Niki & the Dove e ano passado com a Selena Gomez, em clipe que foi parcialmente financiado pela Puma e pela Lavazza.

Clubeonline: A produtora já está trabalhando com seus primeiros projetos? Pode nos adiantar alguns?

Saavedra: Sim. Estamos orçando dois projetos no Brasil e três projetos fora. Além desses, temos um clipe e um filme publicitário em produção. Infelizmente, por questões contratuais, não posso dizer a marca ou artistas.

 

Valéria Campos

Immigrant

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