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Instalivro ‘Noturno’

Projeto reúne crônicas sobre os ônibus da madrugada em SP

04.02.21

Instalivro é o nome de um formato de livro criado para o Instagram. Deriva do inglês “insta novel” e é inspirado em um projeto de adaptação de livros da Biblioteca Pública de Nova York, nos EUA. A iniciativa foi premiada por adaptar obras como “A metamorfose”, de Franz Kafka, e “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Caroll. Entre os troféus que recebeu estão um Leão de Ouro em Design e um Leão de Prata em Digital Craft no Cannes Lions 2019.

Com essa referência, três jornalistas de São Paulo e do ABC paulista criaram um instalivro, “Noturno”, que narra histórias que acontecem nos ônibus que circulam durante a madrugada na capital paulista. Um desses profissionais é Rafael Moura, que se tornou publicitário depois de ter colaborado com veículos como UOL, Piauí e Vice Brasil produzindo conteúdo. Já no mercado de agências, passou pela F/Nazca, integrando o time de Skol. Atualmente é planejador estratégico na Talent Marcel, na conta de Ipiranga.

Estão com ele nesse projeto Lucas Alves (que foi repórter nas revistas Brasileiros e Fluir e no portal iG e hoje é estrategista de conteúdo da consultoria de inovação Questtonó) e Marcos Candido, repórter do UOL, que já passou pelas revistas Trip e Tpm e que aos 15 anos foi colaborador do caderno Folhateen, da Folha de S. Paulo.

Ao longo de três meses, Lucas, Marcos e Rafael produziram uma série de crônicas sobre personagens da madrugada paulistana, com momentos engraçados e também dramáticos. Entre as pessoas retratadas estão um motorista que largou a faculdade para dirigir ônibus, uma prostituta que reclama da crise econômica e a única mulher motorista da madrugada. Há ainda uma fuga policial feita por um passageiro na tentativa de se livrar de um crime.

Por que o Instagram?

Segundo o projeto, o formato instalivro é parte de um movimento para subverter a lógica do papel, baratear custos e ter alcance maior para autores, em uma época de influenciadores e criação massiva de conteúdo digital.

A função Stories é usada para trazer as crônicas de maneira interativa. No caso de “Noturno”, basta acessar o perfil @cronicasnoturno para ler as histórias. No feed, são feitas chamadas para as crônicas, acompanhadas por ilustrações criadas pela designer Tuia, que podem ser compartilhadas. A ideia é que o conteúdo seja mais acessível e garanta praticidade ao leitor, que pode inclusive ler enquanto passa o tempo no transporte coletivo.

Procuramos editais da prefeitura para viabilizar o livro na versão impressa, mas, além de escassos durante a pandemia, vimos que o formato já não fazia tanto sentido. Os leitores estão nas redes sociais, que são usadas de graça, democratizam a leitura e ainda aumentam o alcance da nossa obra”, explica Rafael Moura.

O instalivro foi publicado em 2020, mas ele continua ativo. Até o fim de abril deste ano, o projeto vai publicar uma crônica a cada terça-feira.

O foco de “Noturno” está nos trajetos de ônibus que operam entre meia-noite e 4h da manhã. São 151 linhas que oferecem um cenário completamente diferente daquele enfrentado durante o dia – onde há assentos lotados e pressa para chegar em casa.

O ambiente vazio e solitário de ônibus da noite se transformava quando a gente se sentava para conversar com as pessoas, que se mostraram muito mais abertas do que costumam ser durante o dia. O espaço se tornava um lugar acolhedor e íntimo, o que foi uma das nossas principais descobertas e fez com que pudéssemos coletar relatos bem mais ricos. Tinha muita vida ali’”, conta Lucas Alves.

Se alguém pensa que esse formato não tem futuro, vale pensar no caso da poeta canadense Rupi Kaur. Em 2016, ela iniciou o movimento instapoetry, ou poesia criada, pensada e adaptada para as redes sociais. Rupi teve sucesso de vendas na versão impressa. No Instagram, ela tem quatro milhões de seguidores.

Instalivro ‘Noturno’

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