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RGBlack

AKQA e Pródigo debatem viés racial em tecnologias audiovisuais

19.10.21

Com o objetivo de estimular o debate sobre o viés racial nas tecnologias utilizadas pela indústria audiovisual, AKQA apresenta, em parceria com a produtora Pródigo Filmes e a diretora Juh Almeida, o movimento "RGBlack - Reframing the Greatness of Black (Retratando a Grandeza da Pele Negra)"

A proposta é destacar a importância de formas de representação mais inclusivas, com o lançamento de cards de calibração de imagens projetados para diversos tipos de pele. Eles podem ser encontrados na plataforma rgblack.org, junto com informações sobre princípios de iluminação, beleza e colorimetria.

O trabalho teve início há dois anos, quando a área de Impacto da AKQA percebeu que algumas das produções do estúdio não retratavam fielmente a beleza da pele negra. A partir de então, a equipe começou a pesquisar técnicas de calibração de cores, iluminação, diferenças entre tons de pele, maquiagem e cabelo, além do uso de inteligência artificial no processamento de imagens.

Entre outras constatações, o grupo descobriu que o padrão implícito nas configurações originais de produtos fotográficos privilegiava a pele branca e que, décadas depois, apesar da evolução da imagem digital, os padrões usados continuam os mesmos.

"Ao considerar como o racismo estrutural se reflete na tecnologia fotográfica, é essencial compreender que a tecnologia é um artefato humano projetado dentro de um contexto social e que nossas escolhas tecnológicas irão favorecer ou desfavorecer certos grupos com base nas estruturas de poder existentes", ressalta Yago Freitas, senior producer da AKQA.

Segundo a agência, durante o século 1920, a pele branca foi usada como referência de tecnologia aplicada a filmes coloridos. Os laboratórios fotográficos usavam "Shirley Cards", fotos mulheres brancas com referências de cores, exposição à luz e densidade, para calibrar as cores da imagem e, a partir deste método, fotógrafos e designers realizavam o balanceamento das máquinas de impressão fotográfica em um padrão considerado "normal".

O apelido das mulheres que apareciam nos cartões, "Shirleys", vem de Shirley Page, a primeira modelo clicada para essa finalidade. Como elas eram brancas, o padrão de calibração dificultava a fidelidade na retratação dos tons de pele negra. Ainda de acordo com a agência, o "método resulta em imagens da pele escura com aparência desfocadas, chapadas e sombreadas nas revelações fotográficas".

Por conta da pressão de fabricantes de móveis e de chocolates, na década de 1960 surgiram as primeiras mudanças para ampliar a gama de tons marrons das emulsões químicas dos filmes.

Com o surgimento de câmeras que processam tons de pele claros e escuros ao mesmo tempo, a partir de 1990, foram lançados cartões Shirley multirraciais, embora todas as modelos ainda tivessem pele clara. A agência informa que esses cartões, no entanto, "nunca foram amplamente adotados porque coincidiram com o surgimento da fotografia digital, mantendo o viés racial nas práticas contemporâneas de captura, criação e distribuição de imagens".

"O movimento RGBlack nasceu para romper essas regras e trazer novas perspectivas para quem está atrás das câmeras retratar toda a grandeza da beleza negra por meio da criação de novos cards de calibração projetados para diversos tipos de pele", afirma Gabriel França, diretor de criação associado da AKQA.

Juh Almeida, da Pródigo Filmes, é uma das protagonistas do movimento e dirige o filme de lançamento do RGBlack (assista abaixo), que revisita os "Shirley Cards" com um olhar negro e traz uma proposta de reflexão que antecede o clique.

"O objetivo principal de um projeto como o RGBlack é quebrar de uma vez por todas a transmissão da mensagem social e psicológica sutil que dita a dominância da pele branca como padrão em todos os departamentos da imagem, não só na frente e atrás das câmeras, mas também no backstage, fichas técnicas, bastidores e, lógico, nas mídias que nos bombardeiam dia a dia, deixando evidente que não existe espaço para pessoas de pele negra", observa a diretora de cena, que também é fotógrafa e cocriou o filme de lançamento do movimento.

"O que queremos com esse projeto é inquietar e confrontar o imaginário enraizado nas mentes criativas por trás de quem encabeça projetos e ainda dita a branquitude como padrão”, pondera Juh. "O tema era também campo de estudo da minha tese de mestrado e o meu interesse pelo assunto se manteve. A partir da vontade de revolucionar de forma coletiva a indústria da imagem e de desafiar o racismo institucional, eu aceitei dirigir o projeto que propõe evitar esses erros nas futuras captações. Acredito que ressignificar a Shirley é um primeiro passo para mudar o mundo por meio da fotografia", completa.

Ficha Técnica:

PRODUTORA: Pródigo Filmes
DIREÇÃO DE CENA: Juh Almeida
PRODUÇÃO EXECUTIVA: Francesco Civita, Julia Ruiz, Chico Pedreira, Ana
Chrysostomo e Rebeca Broncher
PRODUÇÃO EXECUTIVA DE PÓS PRODUÇÃO: Ana Mendes ASSISTENTE DE PRODUÇÃO
EXECUTIVA: Amália Agatha ESTAGIÁRIO DE PRODUÇÃO EXECUTIVA: Pedro Carvalho
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO: Nathalie Gautier, Luiza Campanelli, Bruna Fernandes e Samantha Assis
EQUIPE DE COORDENAÇÃO: Fabiana Baptista, Beatriz Soares, Lucas Pereira, Lucas Fayad e Everson Martins ASSISTENTE DE DIREÇÃO: Prix Clementino
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Mônica Viesi DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA: Lícia Arosteguy
DIREÇÃO DE ARTE: Edi
COORDENAÇÃO DE PÓS-PRODUÇÃO: Tutu Mesquita e Priscilla Paduano
ASSISTENTE DE PÓS-PRODUÇÃO: Leticia Harumi
MONTAGEM: Natália Farias
PÓS-PRODUÇÃO E FINALIZAÇÃO: Pródigo Filmes
FINALIZADOR: Lucas Carvalho e Álvaro Bautista
CORREÇÃO DE COR: Natália Farias

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