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Festival do Clube 2021

As boas dicas para ser criativo no exterior

19.10.21

Inglês afiado, imersão na cultura e entendimento do cenário como um todo são algumas das dicas de profissionais brasileiros que trabalham no exterior para quem deseja trilhar esse caminho. Alguns criativos de destaque internacional estiveram no Festival do Clube de Criação 2021 para falar de suas vivências em outros países no painel “Integrar times globais multiculturais: como é a experiência?”.

A mediação desse debate foi de Renato Fernandez (creative director da TBWA\Chiat\Day Los Angeles). Estiveram na mesa André Pedroso (CCO da MullenLowe Delta Equador), André Sallowicz (diretor de criação da Adam&eveDDB Londres); Juliana Paracencio (diretora de criação da Ogilvy Londres), e Marco Antonio Nascimento, o Eddie Murphy (diretor de criação que atua em Barcelona) que contaram também como foram os momentos em que tiveram de liderar ou participar de equipes multiculturais.

O que me encorajou a sair foi ver mais mulheres líderes lá fora do que aqui, na época”, disse Juliana Paracencio. Um dos desafios que encontrou no exterior foi a falta de flexibilidade nos processos de trabalho, para quem estava acostumada com o jeitinho brasileiro. Sem contar a língua e as formas de se expressar. “Na Alemanha, muitas vezes mostrei a pasta e me disseram que era mais ou menos e que talvez me chamassem. E chamaram, pois eles são bem diretos. Na Inglaterra é diferente, tudo ‘floreado’. Recebi muitos ‘It’s lovely’, mas me perguntava depois por que não me contratavam”, lembrou.

Culturalmente, Juliana teve de lidar com situações como a de sua equipe, que pediu para não enviar mensagens de WhatsApp após determinado horário.

Para Pedroso, sair foi uma oportunidade na rede DDB. Antes da MullenLowe de Equador, ele foi ECD da DDB Colombia, onde esteve por quase três anos. Uma de suas observações foi sobre a dificuldade da língua, de falar e pensar de forma diferente. “Você perde um pouco da alma falando outra língua. Alguns sotaques são incompreensíveis, como os de Medellin, Cartagena e Bucaramanga. Em Bogotá é mais lento e fácil de entender”, comparou.

Desafio maior foi em relação a culturas. “Lidei com equipes de 10 nacionalidades, de russos a venezuelanos”, afirmou. Como tratar com tantos perfis diferentes no dia a dia? “A melhor forma de saber como lidar com cada um é simples: tem de ser transparente e perguntar. Seja a forma como quer ser tratado ou como prefere receber um ‘não’. Como latinos, temos uma coisa de ser carinhosos e próximos, mas na Colômbia é diferente. Aqui existem questões culturais em que você tem de ser ainda mais carinhoso. Dizer que o layout não está legal é um achincalho”, explicou Pedroso.

Eddie Murphy, por sua vez, procurou um lugar com forte choque cultural, no caso, a Alemanha com sua pontualidade e o frio. Foi a forma que encontrou para se inserir localmente e não falar “barbaridades sem saber”, destacou. “Vi um grupo de alemães vendo uma revista e apontando, empolgados, para uma página. Como brasileiro, pela reação, pensei que era uma revista pornô, mas cheguei perto e vi que era sobre carros”, divertiu-se. A paixão pelo craft é um dos diferenciais brasileiros no exterior, segundo ele. A recomendação que faz é se adequar a uma cultura com foco maior em qualidade de vida. “Muitas carreiras não vão pra frente por não ver essa big picture”, analisou.

André foi primeiro para a Nova Zelândia, onde se chocou com cenas como a de executivos andando descalços pelo centro da cidade. O criativo aprendeu depois que essa é uma maneira de eles se conectarem com a terra, um costume local. O fato de ser brasileiro ajudou a abrir portas, muito pelo estilo empreendedor. “O Brasil viveu tanto tempo em várias crises econômicas, sem ajuda de governos, que precisamos fazer acontecer por nós próprios, sozinhos”, esclareceu.

A dica dele para quem quer trabalhar no exterior é ter paciência. “Demora muito para você colocar um trabalho bom na rua. Vi muita gente desistir no caminho. Então, se não esperar um ou dois anos, não aguenta. Outra dica é, se for para Londres, tome vitamina D em cápsula por causa da falta de sol”, brincou.

Renato comentou a maior presença dos brasileiros no exterior. “Entregamos mais do que está sendo pedido. Em Los Angeles, quando cheguei, havia um ou outro, mas agora, cada agência tem no mínimo cinco brasileiros”, revelou. “No entanto, pega mal ficar na agência de noite, pois você está sobrecarregado”.

Uma das dificuldades da língua diferente, disse Renato, é que, pelo menos no começo, você precisa estar 100% nas conversas para entender e se adaptar. “No português, você pode ficar desligado e, na hora que importar, se ligar e grudar no assunto”, observou. Lá fora, não será assim. Com isso, o processo fica mais cansativo quando se é um criativo que está abrindo um novo capítulo em sua carreira no mercado internacional.

Felipe Turlão

Todos os painéis do Festival do Clube 2021, realizado entre os dias 22 e 23 de setembro, foram transmitidos pelo Globoplay. O evento deste ano foi gratuito.

Reveja a programação completa aqui.

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