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Sociedade.com

Livro analisa impactos, limites e demandas do avanço digital

30.11.18

CEO da Dentsu Aegis Network Brasil e da Isobar Latam, Abel Reis há anos tem seu nome associado ao universo digital. Além disso, tornou-se referência como liderança do mercado de comunicação, unindo essa expertise à experiência como gestor. Desta vez, ele se lança como analista da sociedade conectada por meio de um livro, que acaba de lançar. Sociedade.com – Como as tecnologias digitais afetam quem somos e como vivemos, da Arquipélago Editorial, compila temas abordados em artigos publicados em coluna da revista Época Negócios e em outros veículos, como Folha de S. Paulo, O Globo e Meio & Mensagem.

De acordo com o autor, a tecnologia deixou de ser ferramenta para se tornar sintoma de um modo de serque busca poder e controle para aliviar angústias individuais e coletivas”. Quando se discute esse assunto, não se deve ater o olhar ao device, à plataforma, ao algoritmo. Como diz Abel Reis, a tecnologia se infiltra em camadas cada vez mais humanas e íntimas da vida contemporânea. Não estamos falando apenas de máquinas, afinal. Por essa razão, “reflexões e decisões sobre assuntos tão importantes quanto ética, carreira, educação e opção política serão incompletas se desconsiderarmos a interveniência do digital hoje e no futuro”.

O livro está organizado em seis capítulos: Política, Cidadania e Ativismo; Humanidade, Privacidade e Novas Realidades; Trabalho, Carreira e Empresas; Arte, Cultura e Entretenimento; Comportamento e Sociedade e Espiritualidade e Existência. Cada um deles conta com um comentário escrito por um especialista convidado por Reis. São eles: Adriano Silva (fundador e publisher do Projeto Draft), Giselle Beiguelman (artista, curadora e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP) e Ronaldo Lemos (advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio – ITS Rio).

O Clubeonline destaca aqui alguns trechos da obra para mostrar questões que estão impactando a sociedade e que demandam respostas que estão apenas começando a ser delineadas. Como Reis observa no livro, “as tecnologias digitais concebidas nos anos 1960, em garagens do Vale do Silício (...) deram vida a um sonho high-tech hippie no qual a liberdade de ser (...) abriram portas e janelas que não existiam até então”. Ante essa sensação, plataformas se desenvolveram e avanços tecnológicos estabeleceram novas formas de organizar informações que antes pareciam protegidas. Tudo foi se estabelecendo sem muitos limites.

Um novo momento

Até que a discussão sobre direitos e deveres de usuários e empresas no ambiente digital começou”. E, de fato, estamos em um cenário em que muitas questões ainda estão em elaboração, sobretudo na Justiça – vide as discussões e legislações sobre proteção de dados. “Agora o digital deverá inaugurar um novo momento. Mais consciente, precavido e alerta às consequências de seus atos.

“Sociedade.com” terá lançamentos no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Os royalties referentes aos direitos autorais serão doados ao ITS Rio.

Confira nossos destaques:

ATIVISMO

“A construção de uma nova identidade, protegida pela segurança e assepsia da internet, impulsiona sobremaneira o exercício da política, da cidadania e do ativismo no ambiente digital.”

Não é necessário se filiar a um partido, estudar os manuais de esquerda e direita, acompanhar o noticiário (...). E (...) sem qualquer burocracia, esforço ou peso na consciência, é possível voltar ao estado de apatia original a qualquer momento.”

“Isso não quer dizer que a política, a cidadania e o ativismo na internet sejam apenas de butique. Ao contrário. (...) A magnitude da campanha #MeToo (...) é outra confirmação. A internet é forte e transformadora, sim.

Porque (...) estrutura uma identidade idealizada (...), oferece recursos simples e fáceis para nos expressarmos; (...) nos preserva dos riscos (...) de sustentar um discurso e posição cara a cara (...). A web, por todos esses aspectos, nos empurra para um modo de funcionamento (on-line) mais político, cidadão e ativista do que apresentamos naturalmente na rua, no trabalho e em casa.

PRIVACIDADE E HUMANIDADE

“Os saberes e atributos essencialmente humanos estão na moda – e serão indispensáveis daqui para frente. Mais do que Realidade Aumentada, Virtual ou Misturada, a bola da vez é a Humanidade Aumentada. A inovação tecnológica não para e a transformação do ser humano também não.”

“O conceito de Humanidade Aumentada está apoiado na força da Inteligência Emocional (IE) aplicada ao digital. A empatia – para conhecer, entender e respeitar o outro em sua diversidade – possibilitará construir soluções afinadas aos anseios e sonhos das pessoas. Abordagens mais subjetivas, intuitivas e afetivas terão de se casar com Big Data, Inteligência Artificial (IA) e robôs para dar conta do recado. Psicólogos, filósofos e artistas serão bem-vindos ao processo, no âmbito profissional.”

EMPRESAS E PUBLICIDADE

“Se o Instagram resolver lançar uma marca de fraldas hoje, o produto deverá ser um sucesso retumbante. O talento para compreender, antecipar, engajar e entregar o que as pessoas realmente desejam é algo que a indústria da tecnologia está fazendo muito bem.

“De olho nesse sucesso, as agências digitais e consultorias se ‘casam’ não em nome de simplesmente parir projetos mais criativos e engenhosos. Elas buscam, em conjunto, uma capacidade excepcional de inventar e inovar.”

“O modus operandi padrão da publicidade – criar e seguir receitas para conseguir engajamento – não funciona mais.”

“Já há no mercado agências com centros específicos para criar e desenvolver inovação e até mesmo a prototipação de produtos. Já estão em andamento modelos de parcerias apoiados na remuneração por resultado. Quem não subir no altar com uma consultoria, terá de desenvolver o olhar de consultor de negócios dentro de casa e prometer inovar até o fim de seus dias.”

EXISTÊNCIA

“Enquanto o Big Brother ainda bomba na TV brasileira (...), David Bowie seguiu direção oposta. (...)

Nenhum post, nenhum tweet, nenhuma notícia vazou sobre seu estado de saúde. Não houve piedade compartilhada nem espetacularização da dor (...).”

Bowie talvez tenha definido exatamente quando ‘parar’, plasmando sua continuidade em outro formato.

(...) Quantos inícios e términos ele já não tinha orquestrado ao longo da carreira? (..) Bowie fez do mergulho em múltiplas existências e alter egos (...) a sua ética particular. O eclipse do dia 10 de janeiro de 2016 foi mais um ato de beleza enquanto ela ainda era possível.”

A mensagem que ele deixou (...) foi o disco Blackstar. As faixas contam o último capítulo de sua história: falam de morte, dor, transcendência, desapego, sofrimento.”

“No ambiente digital, seus velhos, novos, futuros seguidores irão cultivar, recriar, compartilhar e ritualizar seu legado (...). A morte, conta-nos Bowie, é então uma passagem (e não o fim) e uma mensagem (e não o silêncio). Migra-se para outro espaço, o virtual midiático, no qual o show continua infinitamente.”

 

 

Lena Castellón

Sociedade.com

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