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Zeitgeist da Pandemia

Pesquisa aponta insegurança e impasse entre sair ou não

21.08.20

O estúdio de pesquisa Talk Inc acaba de lançar o estudo "Zeitgeist da Pandemia: O Espírito desse Tempo e Visões de Futuro", que buscou entender o impacto da covid-19 na vida dos brasileiros, cuja quarentena se prolonga por mais de 150 dias. Pelos resultados, o dilema sobre "sair ou não sair" se agrava pela falta de consenso sobre o que se deve fazer. Na análise do futuro próximo, percebe-se que a crise de confiança se acentua.

A pesquisa teve duas etapas. Uma qualitativa, que foi realizada com 12 grupos de discussão online, e outra quantitativa, com 1.354 pessoas acima de 18 anos, das classes ABCDE, de todas as regiões do país, por meio de questionário online.

De acordo com o relatório, 66% dos entrevistados estão em isolamento de forma flexível. O estudo revela que 46% das pessoas saíram de casa uma ou duas vezes na semana, e 21% entre seis ou sete dias. O lugar mais frequentado é o mercadinho (59%). Depois, a casa de amigos (49%) e igrejas e templos (36%).

Com a retomada das atividades, liberadas em etapas pelos governos, os principais sentimentos são de preocupação e cautela. Enquanto 65% dos entrevistados estão preocupados - primeira resposta a aparecer na lista -, 14% se mostram animados. A pesquisa indica que 52% estão cautelosos e 44%, inseguros. "Esperançoso" vem na sequência, com 38%.

O que mais causa preocupação entre os brasileiros é a própria saúde e a dos familiares. O impasse sobre sair ou não de casa ganha um verniz ético, já que pode representar um risco à saúde individual, à de familiares e outras pessoas próximas e à da sociedade.

Por outro lado, sair representa um ganho para a saúde mental. Nesse sentido, no entanto, a pandemia já traz custos. A falta de sono ou dificuldade de dormir surgiu ou se intensificou nesse período para 60% dos entrevistados. E isso impacta na saúde psicológica.

Outras inquietações são: a situação financeira individual, notícias sobre a pandemia, a educação e o ensino, e a perspectiva de trabalho e carreira. A pesquisa revelou também quais são as atividades que dão mais saudades: encontrar amigos (45%), visitar familiares (43%) e realizar exercício físico (27%) estão na dianteira.

Carla Mayumi, sócia da Talk, disse que o trabalho procurou fazer uma investigação macro, social e comportamental de como estamos passando pela crise como seres humanos. “Esse tipo de pesquisa, chamado social research, que não é tão comum no mercado brasileiro, traz informações sobre as necessidades, atitudes e motivações de uma população, e pode auxiliar empresas e até mesmo o governo a desenvolver serviços, políticas e produtos que atendam às necessidades identificadas", declarou.

Daqui para frente

Três em cada 10 pessoas dizem que só se sentirão confortáveis para visitar os amigos entre três meses e um ano. E comer em restaurante está longe dos planos mais imediatos. Dos entrevistados, 23% responderam que podem fazê-lo dentro de três meses e 32% disseram que só entre três meses e um ano. A possibilidade de encontrar alguém que conheceu via aplicativo de relacionamento está descartada definitivamente para 11% dos entrevistados. É o maior índice da resposta “nunca mais” dentre todas as atividades elencadas (veja quadros acima).

Perfis

Ao investigar as mudanças mentais e comportamentais provocadas pelas mudanças na casa e nas relações em função da quarentena, a Talk identificou cinco perfis de brasileiros a partir de suas visões da pandemia.

- Super Cuidadosos (34%) - Na maioria mulheres que estão trabalhando de casa, que saem pouco e sentem-se inseguras para voltar às atividades. Confiam apenas na medicina e têm muitas críticas aos governos.
- Trabalhadores Receosos (18%) - Na maioria homens com relações de trabalho mais estáveis. Não puderam deixar de trabalhar durante a pandemia. Saem de casa por necessidade e confiam na medicina.
- Cautelosos (17%) – O grupo vê o coronavírus como algo muito grave, mas está aberto à flexibilização. Os entrevistados se sentem mais preparados para sair. Isso não quer dizer que estejam tranquilos.
- Passivos Esperançosos (19%) - Na maioria mulheres de classe mais baixa, muitas sem renda. Têm uma visão positiva de como o presidente lida com a pandemia. Estão divididos sobre voltar às atividades. Têm saído pouco, pois também entendem a pandemia como uma doença muito grave.
- Descrentes (12%) - Grupo composto na maioria por homens. Comporta o maior número de pessoas mais velhas e com faixa salarial acima da média dos brasileiros. Eles acreditam que a doença não é tão grave. Saem bastante e são os únicos que se declaram “animados e felizes” com o retorno às atividades. Confiam muito no presidente e pouco na OMS.

Zeitgeist da Pandemia

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