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Festival do Clube 2021

John Patroulis, da Grey, aponta caminhos para a criatividade

29.09.21

Criatividade é meu tema preferido no mundo”. Foi assim que John Patroulis, Worldwide Chief Creative da Grey, iniciou sua apresentação “Unleashing Creativity” no Festival do Clube de Criação 2021. Adepto de estruturas e definições, ele apresentou um modelo que ajuda a compreender o conceito e a desenvolver o ser criativo.

Para ele, criatividade é encontrar conexões e caminhos onde outros não veem e expressar isso de forma única e pessoal, passando pelas experiências individuais e pela confiança em si mesmo. Os grandes artistas têm sempre em suas histórias o cruzamento de situações e elementos que compõem suas artes. Isso explicaria por que algumas músicas se eternizam na interpretação de um ou uma entre tantos cantores que as colocam em seus repertórios.

Patroulis contou a história de Ernie Barnes, um importante pintor da cultura pop norte-americana do século 20. Menino de infância pobre, nascido na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, em 1938, Barnes teve acesso aos livros de arte e às músicas clássicas nas casas das famílias para as quais a mãe fazia faxina. Segundo o executivo da Grey, Barnes teria se encantado pela arte de El Greco, pintor espanhol de origem grega que, com seu estilo de figuras alongadas, representou uma antecipação do Barroco e inspirou o norte-americano.

Barnes estudou em escolas segregadas racialmente e vivenciou o racismo endêmico do país onde nasceu e viveu. Fez carreira no futebol americano, jogando em posições de destaque, mas nunca deixou de pintar e se interessar por arte. Um dia, suas obras foram tiradas da gaveta e o atleta ganhou destaque em museus e na cultura popular. A mais famosa, “The Sugar Shack”, virou capa de disco, abertura de programa de TV e foi parar no cinema.

Basta olhar para seus trabalhos aqui e ver como retratam as experiências de sua vida: o esporte; o racismo vivenciado; estruturas alongadas que lembram uma característica de El Greco, mas com os movimento de corpos musculosos e negros. “Ninguém nunca disse a ele que o mundo precisava de sua arte, mas ele fez assim mesmo, sem se preocupar com um público-alvo ou com uma medida que dissesse se aquilo era bom ou ruim”, reforça Patroulis

Saiba mais sobre a Ernie Barnes aqui.

Apesar de ter conquistado os principais prêmios da indústria com trabalhos como “Believe” (assista aqui), para o Xbox Halo 3, e “Impossible is Nothing”, para Adidas, Patroulis faz um alerta: “As premiações não podem ser a meta e medida de sucesso que controlam o que você está fazendo. Podem até dar um caminho para onde estamos seguindo, mas você precisa acreditar no que acha bom e transformá-lo em algo único”.

Ele faz menção à quantidade de categorias que os festivais criam todos os anos, para se adaptarem aos trabalhos que vão além do que era então definido como fronteira. “Não jogue o tempo todo para agradar os outros. Jogue para fazer história, jogue para você mesmo”, provoca.

Ele revelou ainda critérios que utiliza na Grey para saber se estão diante de uma boa ideia:

- Tem de surpreender, mas deixar aquela sensação de que tinha de ser feito para aquela marca.

Precisa ser simples o suficiente para que possa ser explicado em uma frase. Algo que o mundo possa absorver imediatamente. Para chegar a essa simplicidade, “converse com a ideia para que você mesmo possa entendê-la e organizar as ideias”.

- Craft: faça com que cada detalhe seja uma expressão perfeita da sua ideia. Isso exige que você se debruce sobre ela e trabalhe muito. E não use truques, desafie-se a ser verdadeiro com a essência dela.

- Tenha audácia e ambição. Proponha-se a fazer algo grande e de forma provocativa. Por exemplo, se for criar para um produto de limpeza, que tal começar propondo limpar o mundo?!

- Siga pessoas criativas ou os líderes do pensamento criativo. Deixe que elas apontem para onde os negócios vão. Por exemplo, é o chef de cozinha quem faz e vive a essência de um restaurante. Se você é o dono, ouça o que ele tem a dizer.

Patroulis lembrou ainda que “o momento pede que nossa indústria seja útil e use a criatividade a favor do mundo”.

E usou uma frase do lendário músico norte-americano e vanguardista do jazz, Miles Davis: “It's not about standing still and becoming safe. If anybody wants to keep creating they have to be about change”. Ou, numa tradução livre: “Não dá para ficar parado e em segurança. Quem quer ser criativo tem de ser a mudança”.

Rita Durigan

Todos os painéis do Festival do Clube 2021, realizado entre os dias 22 e 23 de setembro, foram transmitidos pelo Globoplay. O evento deste ano foi gratuito.

Reveja a programação completa aqui.

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