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Fake news

Robô combaterá desinformação no Facebook e Twitter

07.05.18

As eleições de outubro no Brasil serão extremamente polarizadas e não haverá como evitar que venha uma batalha de desinformação nos próximos meses. É o que afirma o professor Fabio Malini, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo. Coautor do livro A internet e a rua, ele participou do debate “Robô, fake news e a guerra eleitoral”, que aconteceu durante o festival Prisma, organizado pela GloboNews, no sábado 05. Na mesma mesa, esteve a jornalista Tai Nalon, diretora do site Aos Fatos, que faz checagem de notícias e que está para lançar um serviço de chatbot com o Facebook para combater o fenômeno das fake news. O serviço também será aplicado no Twitter.

Antes de discutir essas estratégias, o painel destacou como as emoções influenciam a navegação por canais que propagam informações – ainda que entre eles estejam perfis não jornalísticos. Uma das pesquisas do Labic é exatamente sobre emoções e padrões de comportamento dos usuários de redes no Brasil. De acordo com Malini, o lado emocional pesa bastante quando se trata de política. Com base nisso, ele nutre poucas esperanças de mudanças significativas no cenário futuro. “Vamos viver fortes emoções. É inevitável que a desinformação aconteça”, disse.

Uma das constatações do Labic é que as pessoas tendem a sofrer de véspera. Por terem medo do futuro, elas se engajam em torno de uma opinião e compartilham conteúdo como forma de defender essas ideias, mesmo que não tenham certeza da veracidade do conteúdo. Querem também proteger as pessoas de quem mais gostam. Por isso, dias antes de um acontecimento os usuários se envolvem intensamente em debates. Como a política é feita de incertezas, ela gera grande comoção, explicou Malini.

Em junho do ano passado, o Labic analisou a reação dos usuários do Facebook diante das delações premiadas da Odebrecht na operação Lava-Jato (veja gráfico mais abaixo). Foram coletados dados de 140 canais de informação (entre eles veículos tradicionais e sites que propagam notícias sem ter perfil exatamente jornalístico). Os que tiveram mais engajamento foram os ligados a um dos lados políticos. Segundo a análise, a linguagem adotada pelos canais que defendem um dos lados do FlaxFlu político é a que se aproxima mais dos “discursos de ódio”. Não à toa, portanto, tais conteúdos foram compartilhados mais rapidamente. “As mídias de bolha dominam a repercussão das notícias de política no Brasil”, acrescentou Malini.

Em ambientes dominados pelas emoções se intensificam a produção de desinformação. É importante notar que pesquisadores acadêmicos têm evitado usar o termo “fake news”, que já está sendo usado com diversos propósitos, inclusive políticos. De fato, na internet trafegam desde conteúdo fabricado com intenções danosas até declarações parcialmente verdadeiras ou notícias velhas que não eram falsas na origem, mas que não se aplicam mais à atualidade. Nesse quadro, ganham relevância as agências de checagem de informações, caso do site Aos Fatos, que nasceu em 2015. Até o momento, a agência já realizou mais de 1.500 checagens, o equivalente a uma por dia.

Há conteúdo que não é necessariamente falso, mas que foi criado para deixar a pessoa com a sensação de pulga atrás da orelha”, declarou Tai Nalon. Com isso, se alastram informações com a já famosa justificativa “não sei se é verdade, mas vai que”.

Um reduto campeão desse tipo de compartilhamento é o WhatsApp. Um levantamento feito no início do ano pelo Aos Fatos mostra que 43% dos entrevistados se informam por meio de aplicativos de mensagens. Outro dado: 50% das pessoas ouvidas duvidam das informações (no entanto, elas são replicadas). E mais de 50% não checa com frequência o conteúdo.

Diante disso, o que é possível fazer para conter a proliferação de desinformação e de conteúdo fabricado? “Só material humano não dá conta de combater esse problema”, resumiu Tai. A jornalista afirmou que o trabalho de checagem não pode ser delegado a robôs, mas demanda a ajuda da inteligência artificial. Nas palavras de Tai, é preciso que se usem as mesmas armas utilizadas para espalhar fake news.

O site Aos Fatos está desenvolvendo em parceria com o Facebook um chatbot para auxiliar nessa tarefa: é a Fátima, que entrará em funcionamento “em breve”. O recurso dará, via Messenger, dicas de como separar notícia de opinião ou como saber se uma fonte é confiável.  E, dependendo da dúvida do usuário, a Fátima irá distribuir conteúdo checado pelo Aos Fatos.

No Twitter, o robô já tem um perfil (@fatimabot). É um aplicativo que vai monitorar a cada 15 minutos posts com links para notícias falsas ou distorcidas. Identificados esses tweets, o bot enviará uma mensagem ao usuário apontando conteúdo checado. Desse modo, irá confrontar as fake news espalhadas pela rede. “A imprensa, de um modo geral, não consegue combater o problema. Não é possível resolver isso, mas podemos controlar a epidemia”, emendou Tai.

Outras soluções?

Para Malini, uma medida de caráter mais individual seria diminuir o grau de ansiedade em relação ao envolvimento com a notícia. Tai declarou que sites de fake news (os que claramente propagam informações infundadas ou mentirosas) deveriam ser analisados de forma mais crítica. Muitos fazem “caça-cliques”. Na opinião da jornalista, plataformas como Google e Facebook deveriam controlar mais o fluxo financeiro para esses sites. Combater a proliferação da desinformação não é, evidentemente, um caminho simples. Ainda mais quando no Brasil o grande problema é o WhatsApp. “Quem compartilha informação distorcida, compartilha em grupo”, apontou Malini.

 

Lena Castellón

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