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Intolerância religiosa

Ogilvy e Eixo Benguela lançam estudo com foco nas redes

21.01.22

Em 2007 foi estabelecido que 21 de janeiro é o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. É uma forma de lembrar todas as pessoas que foram vítimas de violência verbal, física e patrimonial em razão disso. Entre elas está Mãe Gilda, sacerdotisa do Ilê Axé Abassá de Ogum, terreiro de candomblé que fundou em Salvador. Depois de sua casa e o terreiro serem invadidos e depredados e ter sofrido perseguições por conta de sua religião, Mãe Gilda morreu de um ataque cardíaco em 21 de janeiro de 2000.

A instituição da data via lei federal é também um convite à reflexão. A liberdade à crença religiosa e ao culto são direitos constitucionais, mas não são raros os ataques e as discriminações praticados, principalmente, contras as religiões de matriz africana.

As ofensas não se limitam a ataques físicos a terreiros e outros templos. Com a possibilidade do anonimato da internet, as redes sociais se tornaram ambiente de agressões às religiões. Esse é o cenário observado pela pesquisa “Intolerância Religiosa e seus Reflexos nas Redes Sociais”,  produzida pelo Eixo Benguela, coletivo de promoção à diversidade racial da Ogilvy Brasil, em parceria com as áreas de Data Intelligence e Social Media da agência.

A curadoria identificou ofensas, violências e ataques mais comuns feitos às religiões de matriz africana na internet no período de 2018 a 2021. De fato, candomblé e umbanda se destacaram pelo volume de menções. Os termos negativos mais associados foram “volta para o mar, oferenda”, com 34.164 menções, e “chuta que é macumba”, com 53.742 menções. A palavra macumbeiro (a) foi mencionada mais de um milhão de vezes (1.321.128) no mesmo período.

Através da nuvem de palavras relacionadas à expressão “intolerância religiosa” nas redes sociais, fica evidente que a temática está diretamente ligada a assuntos como “racismo”, “crime”, e outras palavras correlatas, como “respeito” e “direitos”.

O estudo se debruçou também sobre os emojis mais utilizados em conversas sobre as religiões de matriz africana. O ícone de tambor, por exemplo, foi mencionado 2.090 vezes em citações sobre atabaque ou sobre o sacerdote Ogan. Já o emoji de pomba branca foi mencionado em 1.1176 conversas relativas à divindade Oxalá. O orixá Oxossi foi representado pelo emoji de arco-flecha em 969 conversas. Outras entidades do candomblé também foram representadas por emojis, como Iansã (raio); Oxumaré (arco-íris) e Exu (tridente + cartola).

Segundo dados do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, os boletins de ocorrência sobre discriminação religiosa somaram 261 no segundo semestre de 2020. Esses são os dados mais atualizados disponíveis pelo Disque 100, canal federal de denúncias. Cada Estado tem secretarias específicas que também recebem denúncias. O candomblé lidera a lista de vítimas (23%), seguido por umbanda (14%), catolicismo (14%) e espiritismo (12%)

Debates mais saudáveis a respeito da fé

Mais do que evidenciar as formas de violências e agressões às religiões nas conversas nas redes sociais, o estudo tem objetivo de trazer impacto positivo para o Dia do Combate à Intolerância Religiosa. Segundo Nancy Silva, gerente de estratégia de conteúdo da Ogilvy, e integrante do coletivo Eixo Benguela, a principal missão é sensibilizar sobre a importância de debates mais saudáveis e de mais respeito em relação à fé.

Chegamos à conclusão de que a maioria das conversas sobre intolerância religiosa na internet é estimulada por notícias ou situações envolvendo violência, ataques e crimes, sobretudo, em relação as religiões de matriz africana. Essas conversas, combinadas ao preconceito racial e o clima polarizado das redes, fortalecem o ciclo da violência”, pontua.

Como maneira de esclarecer possíveis vítimas a respeito de seus direitos, o levantamento traz ainda informações de órgãos públicos, da Constituição Federal e do Código Penal que amparam as pessoas em relação ao direito de expressar sua fé.

O estudo pode ser baixado aqui.

Intolerância religiosa

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