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O Espaço é Seu

Parem de Estressar as Ideias (Fábio Maia)

27.07.20

Parem de Estressar as Ideias. (ou Por uma Revisão Geral no Vocabulário Publicitário)

A língua portuguesa é maravilhosa.
É uma língua rica e, principalmente, é uma língua viva.
O melhor de uma língua viva é que ela está sempre em transformação.
Em tese, pra melhor.

Por essas e outras que, hoje, a sociedade inteira está em um momento de revisão da nossa língua, movimentando-se pra expurgar palavras e expressões que, no automático, a gente vive repetindo até sem maldade, mas que em suas origens têm cunho racista, sexista, machista, homofóbico, de intolerância religiosa, de etarismo, entre muitos outros preconceitos.

Promover essa revisão é uma prova de que podemos, sim, evoluir individual e coletivamente.

Obviamente não comparando, mas inspirado por esse revisionismo do vocabulário, acredito que também possamos, em nosso microcosmo das empresas e departamentos de comunicação, passar um pente-fino nas coisas que a gente fala e escreve sobre o nosso próprio trabalho, todo santo dia a dia. Porque, pra quem ouve e quem lê, algumas dessas coisas podem soar meio estranhas, pra dizer o mínimo.

Coisas como:

Estressar a ideia pra ver se ela fica de pé.
Gente, tadinha da ideia. A coitada já levou tanta porrada nessa vida que até o acento andou perdendo. Ideia é pra ser tratada com carinho. Com amor. E, por favor, com respeito.

Matar/Cair/Derrubar/Espremer a ideia.
Sem comentários.

Descer a campanha.
Vamos combinar uma coisa? O nosso trabalho é fazer as campanhas subirem, voarem alto e ganharem o céu. Para o alto e avante. Ao infinito e além.

Entregar os criativos até o fim do dia.
Essa me dói muito. Sério. Sei que você não faz por mal. Mas o que eu gostaria mesmo de saber é quando os criativos deixaram de ser as pessoas pra se tornarem as peças. Repita esse mantra de paz, amor e harmonia: criativos são seres humanos. Não coisas.

Plugar as pessoas.
Matrix, é você? Esta eu falo direto. Mas, parando pra pensar, é o mesmo caso do exemplo anterior. Só que ao contrário. É tipo chamar as pessoas de máquinas, né não? E, apesar do cenário pós-apocalíptico que estamos vivendo, ainda não somos ciborgues. Somos?

Bom, esses são só alguns exemplos. Só o suficiente pra provocar uma discussão e, principalmente, uma reflexão. A tal da autocrítica, sabe?

Afinal, observando e procurando direitinho, temos um longo glossário pra revisar. E eu não vou nem me atrever a entrar no mérito de incluir nessa revisão os famosos anglicismos desnecessários. Senão, vai acabar dando bug no mindset. Depois, vão me culpar por ter furado o deadline e não ter entregado os criativos até o fim do dia.

Fábio Maia é criativo
(a pessoa, não a coisa)

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