O Espaço é Seu

A frase atribuída a Napoleão - “O mundo sofre muito não por causa da violência das pessoas más, mas por causa do silêncio das boas” - vem sendo usada, com pertinência, em vários acontecimentos recentes, em particular na recrudescência de tensões, preconceitos e violências adormecidas. Sem medo de querer banalizar o raciocínio, esse pensamento é também verdadeiro para acontecimentos triviais.

Outro dia, estava no carro quando vi uma pessoa titubeando na rua. Ela estava com dificuldade de andar: “Será que ela está passando mal? Teve um acidente? Ou anda assim normalmente? Ah, não, deve estar bêbada”. Eu não a socorri nem parei para avaliar o que tinha acontecido. Estava atrasado com meus próprios compromissos, minha própria vidinha, mas essa imagem não me sai da cabeça. Sem querer me chamar de “pessoa boa”, eu silenciei de qualquer maneira. Aquilo me custava apenas um atraso ou adiamento de uma reunião com um cliente.

Em tempos em que todos se manifestam de forma ininterrupta e em que somos sugados diariamente por um mar de opiniões, ideias e comentários, a frase se aplica com ainda mais crueza. Não há estatísticas, mas dá para inferir que a massa de comentários favoráveis postados abaixo de um texto, a respeito de qualquer ideia, é infinitamente maior do que a de desfavoráveis. Qualquer ideia, por mais polêmica que seja. Os desfavoráveis, geralmente, se manifestam em outros lugares, foros e círculos, nos quais, mais uma vez, grande parte dos comentários será positiva – mas, na maioria dos casos, o silêncio é ensurdecedor: o silêncio das pessoas que discordam e têm medo, ou preguiça, ou simplesmente interesses inconfessáveis.

Recentemente, uma discussão foi levantada sobre a forma como são feitas as concorrências para escolha de parceiros comerciais. Em particular, no mercado publicitário, em que a espiral de falta absoluta de regras e boas práticas vem corroendo a relação anunciante/agência de forma perversa. A discussão é antiga e acalorada, mas talvez tenha alcançado seu paroxismo quando @Pauloloeb (CEO da Fbiz) publicou seu desabafo no último dia 18 (leia aqui). A repercussão orgânica do texto foi enorme e imprevisível pelo seu impacto, atingindo, em poucas horas, centenas de milhares de visualizações.

É evidente que isso demonstra quão vívido e urgente é o debate. Será que os bons, dos dois lados do balcão, foram impactados? Quem sabe algum debate construtivo leve a novas e mais saudáveis práticas? Na pior das hipóteses, na impossibilidade de serem transparentes e racionais, que sejam ao menos respeitosos e corteses?

Nem sempre os bons silenciam. Insha’Allah.

Fernand Alphen, CEO da Fbiz

Leia a publicação de Paulo Loeb, CEO da Fbiz, aqui. Leia sobre os brasileiros que criaram uma petição contra concorrência de graça, aqui. E texto anterior da seção "O Espaço é Seu", aqui.