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Cannes Lions 2015

O que pensam os jurados (Sergio Gordilho)

03.06.15

O Clubeonline apresenta um bate-bola sucinto e objetivo com todos os jurados que irão representar o Brasil no Cannes Lions, este ano.

Acompanhe abaixo o que tem a dizer Sergio Gordilho, da Africa, nosso jurado em Cyber.

1. Nome, cargo e há quantos anos comparece ao Cannes Lions.

Sergio Gordilho, CCO e copresidente da Africa.

Vou a Cannes desde 1994. Quase já tenho o passaporte Francês.

2. É sua primeira vez como jurado neste Festival? Qual a importância deste convite?

Essa é a minha estreia como jurado em Cyber. Todo mundo sabe que Cannes é o festival mais importante da criatividade mundial, o grande momento de celebração da nossa indústria. De Cannes saem as tendências, se estabelecem os padrões de criatividade e o que merece ser visto ou esquecido. O nosso calendário é pautado pelo AC/DC (Antes de Cannes/Depois de Cannes).

Por isso, estou muito orgulhoso e confiante de estar lá representando o nosso país como um dos jurados, e principalmente honrado de fazer parte desse timaço de jurados brasileiros que tanto admiro e respeito.

3. Como você está se preparando para o julgamento?

Estou fazendo o mesmo que todos os outros jurados: primeiro seguindo o manual. Dediquei tempo para rever todos os vencedores dos últimos anos.

Não só os Ouros, Pratas e Bronzes, mas muito dos shortlists. E isso leva tempo. Minha esposa e filhas que o digam. Depois fui pesquisando e conversando com amigos ex-jurados brasileiros e estrangeiros, sobre tendências. O que está rolando de mais legal.

E, finalmente, incorporei o lado político nordestino e analisei os jurados do meu grupo e a nossa presidenta do júri. Para procurar assim tentar entender um pouco o critério deles. Claro que isso é só uma preparação, e pode até não adiantar nada. É uma decisão de grupo o que vai ganhar leão. Eu sou apenas mais um. Mas, o que vi até agora, acho que o Brasil tem tudo para fazer bonito.

4. Já viu trabalhos, nacionais ou internacionais, na sua categoria ou em outras, nos quais aposta?

Estamos no meio da votação preliminar que é a parte mais difícil, pois você basicamente assiste a quase todos os cases inscritos. Sem nenhuma discussão, debate, conversa. É uma avaliação ainda muito pessoal do que você acha bom ou muito bom. Seria imprudente da minha parte fazer qualquer tipo de previsão, pois seria apenas a minha opinião. Não a do grupo que irá escolher os premiados. Posso dizer que tem muita coisa muito boa que já vem sendo premiada nos últimos meses e muita coisa boa inédita.

Estou ansioso para me encontrar com o resto do grupo e começarmos realmente o trabalho.

Aí sim poderia ter uma aposta mais certeira.

5. De modo geral, quais suas expectativas em relação ao desempenho do Brasil, este ano, no Festival?

A tradição do Brasil é a de não pensar pequeno. Pelo menos no que se refere à publicidade. Aliás, sonhar grande sempre foi a nossa saída para os momentos difíceis.

Aprendemos com os DPZs, o Washington, o Nizan, o Serpa, o Fabio e tantos outros. E essa ambição se reflete em Cannes, onde somos primeiro mundo. Reconhecidos e respeitados pela nossa criatividade. Por isso, nossa expectativa de performance é sempre muito, muito alta.

Os números não mentem: foram mais de 107 Leões ano passado para o Brasil.

Que safra!

Mas não podemos nos iludir. A crise econômica e política criou um êxodo de talentos brasileiros que vimos saindo pelo terminal 3 de Guarulhos, e que devem fazer falta no nosso time esse ano.

Temos uma capacidade imensa de produzir talentos, é verdade, mas não podemos ficar nos dando ao luxo de perder tanta gente boa e ainda por cima não termos condições legais de importar outros talentos de outras nações. Acho que devemos sentir um pouco este ano.

Sendo otimista, vejo o copo cheio e por isso acredito que o número de Leões ganhos por criativos brasileiros vai bater o recorde, este ano. Isso tenho certeza. Já o Brasil, não sei.

6. O Cannes Lions virou um grande Festival, com mais categorias a cada ano e no qual as agências brasileiras investem um grande montante de dinheiro, não só em inscrições, mas também no envio de suas equipes. Você mudaria alguma coisa no Festival, se pudesse?

Muita gente pode discordar, mas, para mim, Cannes ainda é a maneira mais barata e rápida de se atualizar num país e numa indústria onde muito poucos acreditam e investem em educação. O Leão de Cannes vejo como uma cenoura para aprimorar nossos profissionais e melhorar nosso mercado. Não o vejo como custo e sim como investimento.

Não o vejo só como uma vitrine, mas principalmente como uma sala de aula. E se eu pudesse mudar alguma coisa, na verdade, não mudaria, acrescentaria. Mais salas de aula.

Eles deveriam fechar alguns hotéis para abrir novos ambientes de discussões.

O Palais está ficando apertado para tanto assunto desse mundo que não para de expandir-se.

7. Como avalia a qualidade das palestras e a infraestrutura do evento?

Na Berlin School, onde estudei, ou mesmo em Harvard, você encontra discussões que te fazem levantar da cadeira e outras que te prendem nela. Umas que fazem cócegas e outras que te beliscam. Em Cannes não seria diferente. Mas a média é muito alta. Tanto no Palais, quanto pelo calçadão da Croisette.

8. O fato de agora haver um grande número de ‘celebridades’ anunciadas dentre os palestrantes te parece um diferencial atraente?

Vivemos por um lado a era das histórias, do conteúdo. Pelo outro, a era da mobilidade. As indústrias criativas se fundiram. A multiplicação das telas é a mãe e pai dessa revolução. As cercas, que isolavam o cinema da publicidade, da televisão, da música, foram derrubadas.

E Cannes enxergou primeiro. Até mudou seu nome. Essa mudança, que parecia simples, na verdade era uma previsão que se concretizou e trouxe mais importância e relevância para uma indústria que até pouco tempo estava sendo desafiada, questionada. Quem imaginava que o Bill Clinton ia dar as caras num festival de publicidade?

O que mais se ouvia era se a propaganda tinha futuro. Parecíamos fadados ao limbo.

Hoje, a discussão é sobre a propaganda no futuro. E esse futuro é colaborativo. Celebridades hoje fazem parte da nossa indústria tanto quanto o David Droga ou John Hergaty.

Não os vejo "apenas" como celebridades, mas sim como contadores de histórias ou apenas histórias que podemos aprender e também passar a contá-las. Muitas vezes melhores do que eles mesmos.

9. Recomenda alguma palestra nesta edição do Festival?

Ainda não tive tempo de ver o schedule. Mas prometo que quando o fizer, recomendo.

Leia anterior, com o jurado Philippe Degen, da Talent, aqui.

Todas sobre Cannes aqui.

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