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Cannes Lions 2018

Os 'gringos' da seleção - Parte I

16.06.18

Este ano, o Brasil bateu um recorde: o de maior número de jurados brasileiros no Cannes Lions. Ao todo, são 27. Sete deles estarão nos júris do Festival, que começa na segunda-feira 18, como representantes de outros países ou regiões. Já que o clima é de Copa do Mundo, vale lembrar que a seleção brasileira de futebol também é composta por muitos jogadores que atuam no exterior. A diferença é que a convocação dos atletas é feita toda via CBF. No caso do Cannes Lions, 20 profissionais foram convocados pelo Estadão, representante oficial do Festival no Brasil (leia mais aqui sobre todos os jurados).  Todos atuam por aqui. Os demais jurados brasileiros foram escolhidos fora do país. Seis vivem no exterior e um mora no Rio: é Rafael Lazarini, da Live Nation Latin American, jurado de Entertainment.

O Clubeonline ouviu a turma de brasileiros atuantes em terras estrangeiras para saber mais da vivência lá fora e como receberam o convite para julgar trabalhos em Cannes. A primeira rodada de entrevistas conta com o fundador e CCO da TBD, Rafael Rizuto, que vai julgar Glass, e com o fundador e creative chairman da Pereira & O’Dell, PJ Pereira, jurado de Titanium. Os dois fundaram suas agências em São Francisco e entram em campo pelos Estados Unidos. Trabalharam juntos, inclusive, por três anos quando, no final de 2012, PJ levou Rizuto para ser diretor de criação da Pereira & O’Dell.

Clubeonline – Quais as principais vantagens profissionais de trabalhar fora? Do que sente falta?

Rafael Rizuto – Costumo dizer que sou o resultado dessa minha experiência fora do Brasil. Tanto no pessoal quanto no profissional (parafraseando o Faustão). Minhas experiências trabalhando no Brasil, Oriente Médio e Estados Unidos não só aumentaram exponencialmente meu repertório cultural como me tornaram uma pessoa mais tolerante e com menos preconceitos. Outra vantagem que pouca gente fala é o super poder de trabalhar em outra língua. Tem uma frase muito legal do Charlemagne (em português, Carlos Magno): “To have another language is to possess a second soul”. Você vira duas pessoas em uma. E quanto mais tempo você passa exercitando esse poder, melhor você passa a usá-lo. Sinto falta das relações pessoais que você cria trabalhando no Brasil, aquele ambiente mais descontraído. Nos EUA é tudo mais profissional e rígido.

PJ Pereira – O Brasil tem, dentro das agências e de alguns clientes, um tesão por fazer coisas diferentes que permitem que se brigue mais por ideia boa. É parte da cultura. Aqui (nos EUA), o “não” vence mais rápido se você não tomar cuidado. Mas sempre tenho alguns brasileiros no time para me ajudar a brigar pelas coisas certas.

Clubeonline – Como foi ser convocado para ser jurado por outro país que não o Brasil? Que sentimentos surgem?

Rizuto – Ser convidado para julgar uma categoria tão relevante como o Glass Lion, representando o país onde os movimentos culturais como o #MeToo e o #TimeisUp foram criados, é uma honra sem tamanho. Ainda mais representando também minha agência que acabei de fundar em São Francisco (veja aqui). Um fato interessante é que minha primeira experiência indo pra Cannes foi exatamente há dez anos, em 2008, representando os Emirados Árabes no Young Lions.

PJ –Fui jurado em Cyber pelo Brasil, depois fui convidado para ser presidente de Cyber quando ainda estava no Brasil, mas exerci como EUA. Ano passado, fui presidente de Entertainment pelos EUA. A maior diferença é que daqui não sinto a pressão de trazer resultados para o Brasil. O mercado americano não enxerga Cannes como um esporte coletivo ou orgulho nacional.

Clubeonline – Você tem acompanhado o trabalho brasileiro? O que espera do desempenho em Cannes? E na Copa?

Rizuto – Estou sempre acompanhando os trabalhos vindos do Brasil, não só por ser meu país, mas porque é de onde saem algumas das melhores ideias do Festival todo ano. Este ano não vai ser diferente, com certeza. Já quanto ao desempenho do Brasil na Copa… Depois daquele 7x1, não espero mais nada.

PJ – Não tenho acompanhado.

Clubeonline – E em relação aos EUA, qual desempenho você espera este ano?

Rizuto – Os Estados Unidos ainda têm a soberania no Festival. Por ser o maior mercado do mundo, algumas das maiores campanhas ainda saem daqui. Um fato curioso é que este ano não tem um Big Winner chegando ao festival com o sentimento de ”já ganhou”. Não tem uma “Fearless Girl” ou “Boost Your Voice” (puxando a sardinha pra o meu lado :)). Outro fator interessante é a mudança no Festival que não permite inscrever tantas vezes a mesma campanha. Não vamos ver um mesmo trabalho ganhando 35 leões como vimos ano passado com o “Meet Graham”. Acho que isso vai deixar o Festival mais diverso e vamos ver mais peças sendo premiadas.

PJ – Os EUA, Brasil, Inglaterra são países que sempre vão bem. Minha curiosidade é com as surpresas, com os países sem tradição, que aparecem e mostram trabalhos inusitados.

 

Experiência internacional

Rafael Rizuto está há quase 12 anos fora do Brasil. No começo de 2007, foi trabalhar em uma agência de design e propaganda no Bahrain, atendendo clientes como Audi e Ritz-Carlton. Depois de quase um ano, foi trabalhar no vizinho Emirados Árabes, na Ogilvy Dubai, onde ficou três anos. Em 2010, foi para a Leo Burnett Dubai onde trabalhou por mais um ano. Foi desbravador para a época, quando a região não estava no mapa de escolhas dos criativos brasileiros. Em 2011, aceitou convite de Anselmo Ramos para trabalhar na Ogilvy Brasil. Ficou lá por um ano e ajudou a agência a chegar à terceira colocação do Cannes Lions 2012. De lá, foi para Pereira & O’Dell e por três anos trabalhou para Airbnb, Coca-Cola e Skype. Em 2015, assumiu a criação da 180 LA, Los Angeles. Em dois anos, ele e o dupla Eduardo Marques conquistaram mais de 20 Leões, 3 GPs e um Titanium em Cannes, e colocaram a agência como Top 1 de toda TBWA Network Worldwide por dois anos seguidos (2016/2017). No final de 2017, Rafael Rizuto voltou para São Francisco e abriu a TBD.

PJ Pereira está há 13 anos nos Estados Unidos. Saiu quando era sócio e vice-presidente de criação da Agência Click (foi cofundador) para ser ECD da AKQA em São Francisco. Deixou a empresa para montar a Pereira & O’Dell.

 

Rita Durigan

 

Leia todas sobre Cannes aqui.

 

O Clubeonline estará em Cannes este ano, mais uma vez, com o patrocínio das seguintes empresas:

Alice Filmes

Barry Company

Corazon Filmes

Estúdio Angels

Hefty

Lucha Libre Audio

Piloto

Vetor Zero

Warriors VFX

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