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Das redes sociais à revista

(Mentor Muniz) Neto estreia coluna na IstoÉ

22.07.16

Mentor Muniz Neto, sócio e diretor de criação da Bullet, que tem mais de 280 mil seguidores nas redes sociais, entre Twitter e Facebook, estreia neste final de semana uma coluna semanal na revista IstoÉ.

"O mais usual é que o conteúdo que antes estava impresso migre para o digital. Comigo, aconteceu justamente o contrário, sinal de que continua existindo espaço para conteúdo original em todos os meios", comenta Neto.

No ano passado, seus textos nas redes sociais foram reunidos e publicados em seu primeiro livro - "Ódio, Raiva, Ira e Outros Prazeres Diários", pela Dash Editora (leia aqui).

Um segundo livro já está pronto para sair no segundo semestre, com o título "Proibido Estacionar e Outras Histerias Urbanas".

Leia ou releia dois dos textos mais comentados de Mentor (são mesmo muito bons):

Canal Off

Por Mentor Muniz Neto, sócio e diretor de criação da Bullet

95 mil likes, 30 mil compartilhamentos e 22 mil comentários

Vocês já pararam para assistir o canal OFF?
Porra. Vou te contar.
Tem que censurar esse canal.
Quem são? O que comem? Onde vive aquela gente?
Quem paga o salário deles? Quando ficam na fila do banco?
Off é o facebook dos canais.
Todo mundo lindo e feliz.
Ou melhor, não dá para ser tão lindo e feliz.
Não sem o uso de agrotóxicos orgânicos.
Gente com botox natural.
Gente que só come comida leve, gente que nunca entrou no whatsapp, gente saudável a um nível que me dá vontade de comer um porco inteiro.
Só de assistir, ontem, queimei 1500 calorias.
Não. Sério. Fiquei deprimido.
Começa que não sei porque o canal chama OFF.
Deveria chamar ON.
Porque tem que estar ligadaço para fazer as coisas que eu vi ontem.
Um sujeito escalando o Peak Whathefuck de cabeça para baixo, o outro descendo um himalaia inteiro de snowboard.
Nego de cara limpa não faz as coisas que eu vi ontem.
E não tem gente feia, já percebeu?
O cara foi fazer foto submarina no Egito e até o camelo é mais bonito que eu.
Assistindo ao canal OFF, finalmente descobri para que serve uma GoPro.
A minha estava colada no mouse, que é o movimento mais radical que eu fiz esse ano.
No OFF o cara instalou a GoPro, sei lá, no cachorro dele que faz Base Jump nas torres Petronas.
Ele deu high five pro cachorro.
Ninguém me deu high five nos últimos 30 anos.
Um cara deu um aerial 540 em cima de uma onda.
Oi?
Eu não consigo dar um 360 na minha cadeira giratória sem ficar tonto.
Mas não é só isso.
No OFF o dia inteiro é por do sol.
Toda praia é limpa. Toda onda é gigante. Toda neve é fofa.
E as mulheres...ah, as mulheres.
São atléticas, voluptuosas.
Suadas.
Vivem em câmera lenta.
O tipo de mulher que me olha como se eu fosse uma coluna de garagem.
Um obstáculo a ser evitado.
Não, gente. Não pode.
Tem um programa de 2 horas sobre "cavernismo".
Caverna.
Não tem nada numa caverna, ora por favor.
A gente saiu de lá há mais de 4 milhões de anos.
Se você viu uma caverna, viu todas.
Mas no OFF a caverna é mais atraente que a minha cama.
Eu queria casar com aquela caverna.
No OFF todo mundo tem trilha sonora.
Todo mundo tem barriga negativa e 8% de gordura.
Todo mundo é herói.
Menos eu.
Ô tristeza.

 

Pugli

Por Mentor Muniz Neto, sócio e diretor de criação da Bullet

92 mil likes, 16 mil compartilhamentos e 16 mil comentários

Eu tenho inveja da Daniela Pugliese.
Rafaela.
Gabriela.
Sei lá o nome dela.
Dane-se.
Passei meses, anos até, fugindo dos posts dessa menina.
Mas eu sabia que um dia sucumbiria.
Foi hoje.
Deitadão lá no sofá, tomando un helado de dulce de leche clicando aqui e ali, acabei caindo no timeline da moça no Instagram.
Hipnotizei.
O que leva um ser humano a ser tão feliz, me questiono entre uma colherada e outra?
Meu conceito de êxtase é complexo.
Envolve paz de espírito e banda larga.
O dela e de seu namorado resume-se a um coco.
Ou um abacaxi.
Numa praia.
Suados, os três.
Ele, ela e o coco.
Os dois vivem para seus abdômens.
É como se os músculos de suas barrigas fossem pequenas entidades com vida própria.
São duodenos-bebês, que precisam ser acariciados por todos, dia e noite, em cada foto.
Ela estica o braço com ganas de se alçar ao sol, enquanto fecha os olhinhos e ri farta de dentes branquinhos.
A expressão é de quem não cabe em si de gratidão pela vida ser o que é, muita luz para todos vocês.
Agora ela está com os amigos.
A foto é espontânea, mas os músculos dos quatro estão tesos. Fico pensando se repetiram a foto alguma vez:

- Clica de novo...relaxei o maxilar sem querer.

- Deu pra ver meu tríceps! Aí posta essa Pu!!! Posta essa!!



  1. Eu sei.
    Queria eu poder postar uma foto da minha barriga.
    Queria eu ter coragem de olhar para minha barriga.
    A última vez que vi meu abdômen foi num ultrassom.
    Decido que em 2016 serei um Pugliesi.
    Vou mudar tudo na minha vida.
    Dou mais uma colherada no doce de leite e desisto.
    Agora ela está na academia, no cabeleireiro, pulando na praia, amigos, coco, abdômen, academia, cabeleireiro, namorado, abdômen.
    Juliana Pugliese representa tudo o que eu poderia ter sido e não fui.
    Um corpinho bonito, que enterrei embaixo de toneladas de comidas deliciosas.
    Então, finalmente, compreendo.
    Dou mais uma colherada no doce de leite e encerro com uma mensagem para você, Isabela Pugliese:


"Pugli, você não faz ideia das coisas deliciosas que comi nos últimos 30 anos.
Senão, quem teria inveja aqui, seria você."

E salto rumo ao sol, olhinhos fechados com um grito de liberdade:
- Churrasco, alguém?

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