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Festival do Clube 2016

Publicidade inclusiva: há avanços, mas é preciso ir além

11.09.16

O pensamento de Simone de Beauvoir, Raymond Williams e de outros importantes intelectuais balizou a discussão “Inclusão de gênero e diversidade na propaganda”, realizada no Festival do Clube de Criação. Fundador do MixBrasil Festival de Cultura da Diversidade, André Fischer mediou o debate, que contou com a participação de Marcos Medeiros, CCO da Crispin Porter+Bogusky; Assucena, vocalista da banda As Bahias e a Cozinha Mineira; André Lopes, diretor de marca da Ben & Jerry’s; Denise Gallo, diretora de criação da DPZ&T; e Isabel Clavelin, assessora de comunicação da ONU Mulheres.

Na visão dos debatedores, ainda há muito para se trilhar no caminho por uma publicidade mais diversificada e inclusiva, seja na questão do gênero, da raça, da orientação sexual, entre outras.

Pesquiso a questão do feminino na mídia, como a figura da mulher é representada nos discursos dos grandes meios. Tenho uma visão bem crítica e a notícia ainda não é boa. Prevalece o feminino muito restrito como modelo, como ideal, seja na propaganda, seja no conteúdo editorial. Existem grupos tentando problematizar, criticar, mas ainda estamos no comecinho de uma grande jornada”, destacou Denise.

É triste ver que a aparência física é central na construção da identidade das meninas, os sintomas que isso provoca, e como essa questão é recorrente nas séries de TV, nas revistas, nos produtos culturais de maneira geral”, lamentou Denise.

No entanto, os participantes da mesa enxergam avanços, principalmente com a possibilidade de reverberar opiniões contrárias aos estereótipos hegemônicos nas redes sociais.

Por outro lado, a proliferação de vozes nas redes geram muitas possibilidades. Há cada vez mais marcas interessadas neste tema, querendo abrir esses espectros, mas a situação não muda somente com meia dúzia de campanhas, é um trabalho que deve acontecer ao longo do tempo”, ponderou Denise.

Assucena, que é transgênero, citou a sua participação em um comercial da Avon, que trouxe a proposta de inclusão (leia e assista aqui e aqui). “A campanha buscou fugir de estereótipos e a Elke Maravilha (falecida em agosto último) foi madrinha. No set de filmagem, ela comentou que a Avon deu um ‘pulo do gato’, começando a entender o Brasil ao dar representatividade e visibilidade a negros, gays, travestis”, contou.

A maioria das famílias da periferia no Brasil não é formada por homem e mulher, mas por mulheres solteiras e mães solteiras. Família hegemonicamente branca, heterossexual e muito feliz, que aparece ainda em comercial de margarina, não representa a realidade. É muito importante fazer esse tipo de questionamento aqui”, destacou Assucena.

Nesta mesma linha argumentativa, Isabel, da ONU Mulheres, lembrou que a questão do empoderamento das mulheres e igualdade de gênero precisa se articular com a racial. “Mais da metade da população é negra, as mulheres negras são mais de 50 milhões no Brasil, são mais de 100 milhões de negros e negras, mas eles são a absoluta minoria na publicidade brasileira. Que Brasil é esse que a gente está retratando? A invisibilidade traz um componente da violência”, observou.

Apesar de algumas marcas estarem aderindo à "onda" da diversidade em seu marketing depois que o tema passou a ser mais discutido na sociedade em geral, outras garantem que a comunicação é apenas reflexo daquilo que já vivem em seu seu DNA, como no caso da Ben & Jerry’s, segundo defendeu Lopes.

A Ben & Jerrys começou da forma mais verdadeira possível: dois amigos resolveram entrar no mundo de sorvetes, fizeram um curso por correspondência e abriram a loja num posto de gasolina abandonado. O negócio se desenvolveu tanto que hoje está em 36 países do mundo. Eles não eram homens de negócio, quiseram fazer algo diferente, com três missões: fazer um sorvete incrível, com crescimento sustentável para todo mundo da cadeia e com um compromisso social”, pontuou Lopes.

A marca trabalha e atua com justiça climática, justiça social e outros diferentes temas de forma verdadeira e genuína, pois isso é natural para nós, desde seu lançamento até hoje. A diversidade está no coração da marca, ou seja, temos realmente um propósito, não é só uma questão mercadológica”, declarou. Para exemplificar, disse que quando a Ben & Jerry's chegou ao Brasil, um consumidor homossexual que já conhecia a marca em outro país pediu para fazer o seu casamento em uma das lojas da rede de sorveterias - e assim foi feito.

Já Medeiros lembrou que nasceu em Presidente Prudente e que o catolicismo praticado pela maioria de seus familiares e amigos na cidade do interior paulista não abria espaço para o tema da diversidade, que, segundo ele, “nunca foi tolerado”. “A violência, intolerância são um pouco do reflexo de uma geração treinada para entender isso como algo ‘anormal’, para combater, como se essas pessoas não fossem bem-vindas”, lamentou.

Por outro lado, ele ponderou que essa geração chega “mais aberta”, usando "essa ferramenta incrível que é a internet" e se manifestando contra os preconceitos nas redes sociais. “Propaganda tem que ter esse ‘policiamento’, sim. A publicidade é uma ferramenta muito poderosa, se a mensagem chegar da forma errada é muito injusto", defendeu. "Ver marcas como Smirnoff, Avon, L’Oreal e Ben & Jerry’s abraçando a causa da diversidade é muito bacana”, citou.

Recentemente, a Unilever, proprietária de marcas como Dove e Lynx, comprometeu-se a banir todos os estereótipos sexistas de sua publicidade, depois que uma pesquisa global da marca sugeriu que apenas 2% das peças publicitárias mostram 'mulheres inteligentes' (leia aqui).

Confira a programação completa do Festival, aqui.

Valéria Campos

Serviço:

Festival do Clube de Criação 2016

Quando: Setembro, 10, 11 e 12 - 2016
Local: Cinemateca Brasileira - São Paulo – Brasil
Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino

Hosted by: Clube de Criação
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