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Você está cansado do modelo tradicional de agência? (Marcio Ismail)

25.05.16

Você está cansado do modelo tradicional de agência?

Não tenho dúvida que sua resposta foi um SIM bem alto, aquele que vem do fundo da alma. Quase um pedido de ajuda. Uma súplica.

Sim, por favor.

Eu também digo sim, claro. Porém, curiosamente, noto muitos profissionais que dizem sim, mas agem como se respondessem não. Sejam funcionários, empresários ou clientes.

Como diria um velho amigo, é o famoso "Acho que sim, mas penso que não".

O autor Martin Linstrom, no livro "A lógica do Consumo", apresenta uma pesquisa neurológica feita em 2004 com um grupo de fumantes sobre a mudança nas embalagens dos cigarros, aquelas imagens aterrorizantes no verso de cada maço. Encurtando a história, a grande surpresa foi constatar que os fumantes, mesmo que racionalmente respondendo que aquelas fotos eram terríveis e que tiravam a vontade de fumar, tinham atividades cerebrais que mostravam justamente ao contrário, despertavam o desejo de consumo de tabaco.

Racionalmente qualquer ser humano responderia que aquelas imagens eram assustadoras, mas seu cérebro dizia outra coisa. É claro que isso não é privilégio dos fumantes e nosso cérebro nos prega peças o tempo todo.

Então, voltando para nosso mercado publicitário, percebo muitos profissionais responderem de bate-pronto que o mercado precisa mudar, mas em pequenas atitudes cultivam hábitos que não condizem com o que falam. Jovens talentos que entram no mercado de trabalho impactados por uma imagem madmaniáca, onde os criativos fazem parte daquele grupo esquisitão da agência, batem de frente com o grupo do atendimento, a mídia entende apenas de números e o planejamento é o cara que olha as pesquisas. Modelos comerciais ancorados em premissas do passado.

Achar normal essas antigas premissas é achar normal um mercado para o qual você acabou de dizer não.

Hoje, olhando para dentro das agências, todos nós podemos ser esquisitões e devemos ser criativos. A criação tem que entender de planejamento, mídia e atendimento. O atendimento está envolvido com a criação e andam lado a lado. A mídia está presente antes, durante e depois do processo e o planejamento dá o norte a todo esse barco. Existe um leque de novos modelos de negócios entre agência e cliente que deve ser explorado.

É claro que você já sabe disso tudo, mas minha provocação não é racional, mas mergulhar no seu cérebro para mudar de verdade.

Por exemplo, se na sua agência você atua na área de criação, não deveria responder sim à minha pergunta, mas seguir cultivando o abismo cultural com a área de atendimento. Não deveria se frustrar com ideias que não foram para frente culpando outras disciplinas e não você mesmo. Ou achar que sua boa ideia virá num copo de whisky com gelo às 4 da madrugada. Precisa entender que as clássicas do "Publicitário Humildão" são piadas que não deveriam estar se repetindo.

Se você é um gestor e respondeu sim, repense o hábito do terror, de valorizar aquele funcionário que fica até tarde todos os dias. Ele pode não ser o mais produtivo do seu time. Não pense o processo criativo fechado em cima de talentos e disciplinas que deram certo até aqui, pode ser que exista um modelo menos centralizado e potencialmente mais criativo. Por exemplo, a agência Victor & Spoils. Criada em 2009 com a promissora bandeira de ser uma agência "aberta", usando um modelo de crowdsourcing criativo. Se destacou, foi citada como o Uber das agências pelo AdvertisingAge e, em 2012, foi comprada pelo grupo Havas.

Agora, se você é um cliente que está cansado do modelo tradicional da sua agência e respondeu sim, ótimo. Chegou a hora de aceitar novos modelos comerciais e repensar os polêmicos processos de concorrência tradicionais.

Sim, existem caminhos. Precisamos evitar cair na armadilha de "o mercado é assim, isso não conseguimos mudar". Funciona para funcionários, empresários e clientes.

Precisamos realmente mudar, não só da boca pra fora. Porém, enquanto nossos cérebros ficarem nos enganando, seremos sabotados internamente e nossa evolução irá por água abaixo.

Marcio Ismail, diretor de criação da Amo

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