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Som ao redor

Streaming revigora indústria da música, que tem novo desafio

26.04.17

A indústria da música obteve um crescimento global de 5,9% em 2016, o maior índice alcançado pelo setor desde que a IFPI (International Federation of the Phonographic Industry) começou a reportar seu desempenho, em 1997. O resultado ganha ainda mais relevância quando se analisa o ritmo de perdas que o segmento vinha sofrendo. Em 15 anos, a indústria teve queda de receitas da ordem de 40%.

As vendas físicas, por sinal, continuam caindo: a redução foi de 7,6%. O que vem impulsionando o mercado é o digital e, sobretudo, os serviços de streaming. Dados do Global Music Report, divulgado pela IFPI na terça-feira 25, apontam que a receita total da indústria chegou a US$ 15,7 bilhões no ano passado. O digital representa metade desse montante, sendo que seu crescimento foi de 17,7%. Liderados globalmente pelo Spotify, os serviços de streaming, que somam 112 milhões de assinantes no mundo, tiveram uma alta de 60,4% no faturamento – na China, o principal serviço é o Tencent cuja base de assinaturas pagas está se expandindo também.

O relatório traz importantes pontos sobre a evolução da indústria nas últimas duas décadas. Como observa a CEO da IFPI, Frances Moore, a história do segmento tem sido marcada profundamente pela transformação. Primeiro do físico para o digital. Depois do download para o streaming. E da propriedade para o acesso. Agora, o momento é sair dos anos de declínio para uma fase de crescimento sustentável. “Enquanto o mercado continua a evoluir em um ritmo nunca antes visto, a indústria está aproveitando o momento, impulsionando a inovação e explorando novas formas de se envolver com os fãs. Realisticamente, para que esse crescimento se torne sustentável, para que os investimentos em artistas sejam mantidos e para que o mercado continue a se desenvolver, é preciso fazer mais para salvaguardar o valor da música e recompensar a criatividade. Para a música prosperar em um mundo digital, deve haver um mercado digital justo”, salientou Frances.

Qual é a questão agora? É a discrepância de valores pagos entre uma plataforma de streaming como Deezer ou Apple Music e os serviços de upload feitos por usuários, como descreve o relatório. Na mira, está o YouTube, como os autores do Global Music Report explicitam ao longo do documento. Essa diferença está sendo chamada de gap de valor. Para ilustrar melhor o que o mercado enfrenta, a IFPI compara o que a indústria recebe de remuneração desses players a partir da análise de dados disponibilizados publicamente (referentes a 2015). Segundo a entidade, o Spotify entregou para as gravadoras US$ 20 por usuário de seu serviço. A IFPI estima que o YouTube tenha pago à indústria menos de US$ 1 para cada usuário de música em sua plataforma.

Essa diferença de valor, de acordo com o Global Music Report, é agora a mais alta prioridade legislativa da indústria, já que o setor visa criar condições equitativas para o mercado digital e garantir o futuro do segmento. O tema vem sendo discutido em diversas instâncias no mundo. A IFPI argumenta que “aplicações inconsistentes” da legislação online “encorajam certos serviços a afirmar que não são responsáveis pela música que disponibilizam ao público. Hoje, serviços como o YouTube, que desenvolveram sofisticadas plataformas de música on demand, usam isso como um escudo para evitar o licenciamento de música em condições justas como acontece com outros serviços digitais, alegando que não são legalmente responsáveis pela música que distribuem em seu site”.

Enquanto o assunto ainda não tem uma solução à vista, vale conferir outros destaques do relatório da música.

- Campeão de vendas no mundo: Drake. Em 2015, o primeiro lugar coube a Adele, que está na quarta posição do top 10 de 2016. O segundo artista que mais vendeu música no ano passado foi... David Bowie, que morreu em janeiro de 2016. Em seguida estão Coldplay (terceiro lugar em vendas), Justin Bieber (quinto), Twenty One Pilots (sexto), Beyoncé (sétimo), Rihanna (oitavo), Prince (nono - e também falecido em 2016) e The Weeknd.

- Receita advinda do uso de música na publicidade, em filmes, games e em programas de TV (synchronisation revenue): crescimento de 2,8% em 2016; no ano anterior o aumento foi de 7%. Essa porção representa 2% das receitas totais do mercado global.

- Papel da América Latina: pelo sétimo ano consecutivo, a região registrou o maior índice de crescimento no faturamento: 12%. As receitas digitais tiveram um aumento de 31,2% (no mundo o percentual foi de 17,7%). No caso dos serviços de streaming, o salto foi de 57%. O México, o segundo maior mercado da região, registrou alta de 23,6%. Já o Brasil, o maior mercado latino-americano, experimentou um declínio de 2,8% no ano passado.

 

O download do relatório (em inglês) pode ser feito a partir daqui.

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