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Agência Pública / Investigação

Quanto pagam as empresas que + usam água no país?

22.04.24

Um trabalho investigativo da Agência Pública revelou o valor médio que as 44 empresas que mais captam água no Brasil pagam por 10 mil litros obtidos em fontes federais: cinco centavos.

A informação se baseia em dados públicos relativos a 2022, os mais recentes e completos a esse respeito. Eles foram obtidos pela Lei de Acesso à Informação.

A cobrança pelo recurso hídrico visa promover o uso racional da água. Mas a reportagem da agência de jornalismo indica que metade dessas companhias não pagou nada pela utilização.

Essa apuração é continuação de uma reportagem publicada em outubro do ano passado, quando a Agência Pública mostrou 50 empresas que são “donas” da água no Brasil. São corporações que, por meio de outorgas, têm direito a usar mais água de fontes federais (que banham mais de um estado, estão em área federal ou fazem limites com outros países). O volume autorizado, somado, representa 5,2 trilhões de litros por ano. É suficiente para abastecer, por um ano, 93,8 milhões de pessoas — ou cerca de 46% da população, estimativa feita com base no Censo 2022.

Dessas 50, seis têm outorgas preventivas, documento para reservar água para grandes projetos ainda em planejamento. Para a análise de quanto as companhias que mais exploram o recurso hídrico pagam pela água, a reportagem considerou, portanto, 44 empresas.

Entre elas, estão representantes gigantes do agronegócio, do setor sucroalcooleiro e de papel e celulose. A corporação que mais pagou pela água foi o Grupo Suzano, que desembolsou R$ 10,3 milhões pelo uso de 469,8 bilhões de litros - o maior volume autorizado em 2022.

Além do Grupo Suzano, integram o Top 10 de volume de água:

- Grupo Santa Colomba, empresa agrícola com produções em larga escala de algodão, cacau, grãos e produtos B2B (302,2 bilhões de litros e R$ 46 mil pagos);
- Ematex Têxtil (199,9 bilhões de litros e R$ 378 mil);
- BP Bunge (185 bilhões de litros e R$ 98 mil);
- CSN (120 bilhões de litros e R$ 3 milhões);
- Ical Energética/ Unitas (95,6 bilhões de litros e R$ 138 mil);
- Grupo Jalles Machado, do setor sucroenergético (95,2 bilhões de litros e R$ 848 mil);
- São Martinho, do setor sucroenergético (75 bilhões de litros e R$ 173 mil);
- Usina Coruripe (72 bilhões de litros e R$ 265 mil);
- Agropecuária Paineiras (71,1 bilhões de litros e R$ 21 mil).

Uma dessas companhias, a Usina Coruripe, do setor sucroalcooleiro, é fornecedora da Coca-Cola e do Posto Ipiranga e teve denúncias de trabalho análogo à escravidão, com 19 pessoas resgatadas no ano passado, segundo a Agência Pública. Em resposta enviada para a agência, a corporação informou que “faz uso eficiente da água e mantém compromisso de reduzir o consumo por tonelada de cana moída, meta que é anualmente auditada por uma empresa externa”. A respeito da denúncia, ela alegou ter sido “isenta de qualquer responsabilidade no inquérito criminal conduzido pela Polícia Federal”.

entre as empresas que não pagaram pela água está o Grupo Raizen Energia, que teve autorização para uso de 115,3 bilhões de litros em 2022. No ranking das companhias com o maior volume de água liberado e que não desembolsaram pelo recurso hídrico, ela está na terceira colocação. Em primeiro e segundo lugares estão, respectivamente, Grupo Celba (160,4 bilhões de litros) e Eldorado Brasil Celulose (148,9).

Foi feita uma comparação entre o valor pago pelas “donas da água” e o que se cobra nas contas de residências. “As empresas pagam cerca de 1.420 vezes menos do que o consumidor”.

O Brasil tem a maior quantidade de água doce no mundo, em torno de 12%. Mas é fundamental lembrar: embora renovável, a água é um recurso finito.

Além disso, a gestão do recurso hídrico ganha mais relevância em função da crise climática, que influencia o regime de chuvas, podendo provocar secas terríveis ou níveis pluviométricos muito acima da média.

Leia a reportagem completa da Agência Pública aqui.

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