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Algoritmo da Vida

Ferramenta identifica perfis com 'linguagem' de depressão

21.03.19

Algoritmo da Vida é o nome de ação criada pela Africa para a revista Rolling Stone.


Kurt Cobain, Ian Curtis, Nick Drake, Torquato Neto, Chris Cornell, Keith Flint, Champignon. Esses músicos têm em comum a depressão e o suicídio. No ano passado, 1 milhão de indivíduos no mundo tiraram sua própria vida. Ou seja, uma morte a cada 40 segundos. 


Esses dados mostram que o suicídio causa mais vítimas do que as guerras, homicídios e conflitos civis – todos eles somados. E, para cada suicídio, há 20 tentativas de outras pessoas, segundo dados do estudo Preventing Suicide: A Global Imperative, da Organização Mundial da Saúde.


No Brasil, todos os dias, 32 pessoas tiram a própria vida. Em 2018, foram 11 mil mortos. Segundo o Ministério da Saúde, os números também revelam que o suicídio aumentou 20% nos últimos cinco anos entre jovens de 15 a 19 anos. Essa já é a quarta causa mais frequente de morte entre jovens, no país. 


Estudos indicam que pessoas em depressão usam recorrentemente um determinado grupo de palavras, como uma espécie de ‘linguagem da depressão’ para indicar, mesmo em estágios iniciais, a ocorrência da doença. E essas palavras aparecem também nas redes sociais.


Assim sendo, foi desenvolvido um algoritmo capaz de identificar palavras, expressões e frases que possam indicar sintomas de depressão nas postagens públicas dos usuários, no Twitter. Após essa primeira fase de identificação de palavras, é realizada uma checagem, por uma equipe treinada, para considerar contexto, ironias, recorrência de termos e periodicidade.


Se a ferramenta confirmar o potencial depressivo, um perfil criado para a ação e administrado por um time capacitado entra em contato por meio de mensagem privada e indica o telefone do Centro de Valorização da Vida (CVV - 188), referência no atendimento a pessoas com depressão.


"O desejo de tirar a própria vida é sempre ambíguo. A pessoa não sente que a vida vale a pena, mas gostaria de encontrar pelo menos um fio de esperança que a ajudasse a seguir em frente. Iniciativas como o Algoritmo da Vida são importantes por causa disso - saber que foi ouvido e que pode haver outra saída é transformador para um suicida potencial. Não tenho dúvidas de que vidas serão salvas e sofrimento será poupado com a ajuda dessa ferramenta", aposta o psiquiatra Daniel Barros, professor da Faculdade de Medicina da USP e consultor do projeto.


"A Rolling Stone, como um veículo voltado à cultura pop e, principalmente, à música, lida todos os dias com a depressão ou seus sintomas. E isso é alarmante", diz Pedro Antunes, editor-chefe da Rolling Stone Brasil. "Muitos músicos pediram ajuda nas suas músicas. Veja o caso de Kurt Cobain ou de Chester Bennington, do Linkin Park, por exemplo. Vidas chegaram ao fim de forma precoce por conta da depressão. Tudo o que pudermos fazer para diminuir esse número precisa ser nossa prioridade", completa. 


De acordo com Rodrigo Cassino, COO da Bizsys – produtora de tecnologia responsável por desenvolver o sistema que identifica os tweets relacionados com depressão -, a maioria das postagens identificadas tem um padrão comum. “Com tantos recursos tecnológicos a nossa disposição e com tantas pessoas clamando por socorro nas entrelinhas das redes sociais, o desenvolvimento do Algoritmo da Vida humaniza a tecnologia e nos passa um sentimento de dever cumprido, de ajuda ao próximo”.


O Algoritmo da Vida já está em operação e detectou quase 300 mil menções que potencialmente utilizavam linguagem da depressão. O perfil entrou em contato com esses usuários e indicou uma maneira de encontrarem apoio profissional.


 

Algoritmo da Vida

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