arrow_backVoltar

Festival do Clube 2015

"A intransigência é a melhor amiga da excelência"

21.09.15

O público lotou a Sala Skol da Cinemateca Brasileira neste domingo (20), para conferir a mesa “Por que demorou 62 anos pra gente conquistar um GP em Film? Será que vamos levar outros 62 pra conquistar o próximo?”, durante o segundo dia do Festival do Clube de Criação.

O bate-papo, moderado pelo presidente do Clube, Fernando Campos, reuniu Fábio Fernandes, presidente e diretor de criação da F/Nazca S&S; Fernando Nobre, diretor de cena da Barry Company; Caito Ortiz, diretor de cena da Prodigo Films; e Rodrigo Saavedra, sócio e diretor de cena da Landia.

Antes da abertura das discussões, foi exibido o comercial “100”, criado pela F/Nazca para Leica, que abocanhou o primeiro GP brasileiro na categoria Film, em 62 anos do Cannes Lions (assista aqui).

Fábio Fernandes começou elencando alguns dos motivos pelos quais considera que demorou esse tempo todo para que o Brasil conquistasse um Grand Prix na categoria. “Primeiro, tínhamos a questão da distância da informação, da dificuldade de acesso ao que era produzido no mundo, e vice-versa, e isso afastava a gente. Seria improvável um filme desconhecido chegar ao Festival e ganhar um GP, os jurados dificilmente dariam o prêmio máximo para uma surpresa. Hoje em dia, o comercial vai construindo sua reputação, porque, se é bom, ele é disseminado com facilidade. O comercial de Leica chegou em Cannes já amplamente conhecido”, pontuou. “Soma-se a isso a questão da dificuldade de produção que havia no Brasil. Hoje não, mas no passado, eram muitas. Outro ponto é que dificilmente trabalhávamos com marcas globais e marca local tende a ser menos valorizada – é mais fácil ganhar GP de Film com Guinness do que com Skol, por exemplo. Com GM do que com Gurgel”, avaliou.

Saavedra opinou que o fato de o filme brasileiro coroado com GP ter sido feito para Leica, uma marca tão querida pelos diretores de arte, ajudou na conquista do prêmio máximo de Film em Cannes. “Leica é quase jogo baixo. Que diretor de arte vai chegar lá e dizer ‘não gostei’? Todo mundo gosta. A marca ajuda, mas outro fator importante é que o nível da produção brasileira se elevou muito. Há 10 anos, nenhum filme brasileiro levaria. No cenário internacional, havia cinco, seis diretores argentinos arrebentando e nenhum brasileiro”, opinou.

Uma palavra bastante citada por todos os participantes, e essencial para se chegar ao GP, segundo eles, foi “excelência”. “A excelência está nos detalhes”, disse Fernando Campos. “Sem craft, não vai ter GP”, acrescentou Nobre, logo emendado pelo presidente do Clube, que concordou: “Não basta a ideia. Cada vez mais o craft faz a diferença na conquista do GP”.

Mas, no dia-a-dia das agências, quais seriam as barreiras para se atingir a “excelência”? “É grana? Prazo? Processo? Por que não há registro de 10, 15 filmes brasileiros que já brigaram por um GP?”, questionou o moderador.

A ideia sofre um processo de tortura desde o dia em que é concebida até o dia em que é colocada no ar. Há muitas explicações no meio de um caminho, histórias tristes para contar sobre o porquê de o resultado final não ter ficado excelente. Já acompanhei muita filmagem no passado. Não fazemos mais isso na F/Nazca. Porque senão você se acostuma com os problemas da produção, você começa a aceitar um monte de coisa. E a intransigência é a melhor amiga da excelência na realização”, definiu Fernandes. “E o 'viabilizar' é o contrário disso”, completou Nobre.

Eu sempre acompanhei filmagem. Ouvi de um diretor de criação que virou diretor de cena que o criativo corre uma maratona – ele defende a ideia internamente, depois para o cliente, passa por pesquisa, e um monte de outras coisas. Já o diretor corre apenas 100 metros”, comentou Saavedra, "mas são os 100 metros definitivos para o filme", completou.

É isso, o diretor chega com todo gás e a equipe de criação já está exausta. Eles estão no final da corrida. Você chega cheio de vontade para vestir a ideia, dar uma cara, fazer acontecer. Mas se você não tiver autonomia, vai emperrar o processo”, acrescentou Ortiz.

Quando eu tinha 16 anos, comparava propaganda brasileira com propaganda brasileira. Não tinha outra referência. Agora, meu filho de 16 anos vê um filme global da Nike no YouTube. O comercial brasileiro roda no mesmo ‘break’ que o da Nike. Buscar a excelência do GP deveria ser sobrevivência pra gente. Devia ser o prêt-à-porter e não alta costura. Só que parece que a gente não tem essa consciência”, lamentou Campos. “Há uma razão mercadológica para o cara buscar a excelência. Temos que mostrar para o cliente que a referência do consumidor, hoje, é o mundo. A barra subiu. Buscar a excelência não tem nada a ver com Cannes. Cannes deve ser consequência”, completou o presidente do Clube.

E será que vai demorar outros 62 anos para o Brasil conquistar novamente um GP de Film?

Temos que ter tempo (prazo maior) para trabalhar um comercial que vá disputar GP”, observou Ortiz. “Para alcançarmos outro GP temos que que ter massa crítica maior. Primeiro precisamos discutir quando vamos ter uma safra de Leões de Ouro e Prata maior”, opinou Nobre.

Eu acho que agora vai ser muito mais fácil – nunca é fácil, mas vai ser menos difícil do que antes – o Brasil chegar ao seu próximo GP. Na realidade, estamos competindo, de verdade, há pouco tempo. Há alguns anos, não tínhamos a mínima condição técnica. Chegávamos em Cannes e sequer conseguíamos ouvir o áudio de nossos filmes de forma decente no Palais. Tínhamos que converter o formato antes de enviar. Era um inferno. Então, estamos no páreo mesmo, tirando o tempo que ‘não valeu’ porque não tínhamos condições, há pouco tempo”, argumentou Fernandes. “Vamos ganhar mais facilmente o GP da próxima vez porque estamos engrenando, temos bons diretores no Brasil, com visão global. Estamos estimulados a ser mais resistentes, inconformados e intransigentes e isso nos fará ganhar os próximos GPs”, concluiu Fábio.

Serviço:

Festival do Clube de Criação 2015

Quando: dias 19, 20, 21 de setembro (sábado, domingo e segunda-feira)

Onde: Cinemateca Brasileira - Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino, em São Paulo

#festivaldoclube2015

Festival do Clube 2015

/