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Festival do Clube 2018

Plástico demais: é preciso uma mudança drástica na sociedade

25.09.18

A agenda do plástico traz números assustadoramente exponenciais. Recentemente, o Banco Mundial divulgou uma pesquisa revelando que, se continuarmos usando o plástico como nos dias atuais, em 2030 vamos perder um terço da vida na Terra. E, para agravar a situação, a previsão é que nos próximos 20 anos todo o lixo produzido pelos países vai aumentar em 70%. Esses dados foram apresentados por Gabriela Yamaguchi, diretora de engajamento da WWF Brasil, que fez a mediação de um painel do Festival do Clube que trouxe essa agenda para a Cinemateca: “Planeta terra, envelopado com plástico e banhado com polietileno tereftalato. Há uma saída?” .

O plástico como conhecemos hoje começou a ser utilizado em larga escala na década de 1950 e, desde então, a sociedade como um todo já consumiu 8,3 bilhões de toneladas desse produto, sendo que 4 bilhões de toneladas foram produzidas nos últimos 15 anos. Desse volume, apenas 30% deixaram de existir. Ou seja, todo o resto está em uso ou no meio ambiente. Vivemos com plástico demais e isso precisa mudar. Essa foi a mensagem dos debatedores, que destacaram como a sociedade e as organizações devem se transformar.

Para Fernanda Daltro, gerente de campanhas da ONU Meio Ambiente, a grande mudança vai acontecer quando cada ser humano se sentir responsável pelo uso que faz do plástico e nas escolhas de consumo que faz. Ela disse que, assim, de forma sistêmica, empresas e organizações vão acabar por transformar a sua cadeia de produção. “Em geral produzimos o plástico para jogar fora. Cerca de 60% do plástico que temos hoje têm a função de embalagens que são absolutamente descartáveis”, afirmou.

De fato, a sociedade foi formada aprendendo a consumir de forma linear: produz, usa e "joga fora". Esse suposto descarte, porém, é uma ilusão: tudo está sendo acumulado em algum lugar. As pessoas não têm conseguido acompanhar essa lógica de modo consciente. Portanto, segundo os debatedores, é também responsabilidade das empresas inovar seus processos ou até mesmo retornar a práticas e soluções que eram eficazes no passado. De acordo com Thais Vojvodic, gerente de sustentabilidade da Coca-Cola, a companhia firmou um compromisso de que, nos próximos dois anos, 40% dos produtos serão comercializados em embalagens retornáveis como as de vidro. “Tenho visto uma mudança drástica da consciência corporativa. Existe um problema enorme chamado 'plástico no meio ambiente'.  Não se trata de tentar só mudar o consumidor. Temos de encarar isso de frente”, declarou.

Considerando que boa parte do que estamos jogando está indo para os oceanos, fica claro que nossa cultura de descarte está deixando a desejar. “O melhor meio para conseguirmos reduzir o processo de escassez dos recursos naturais é a reciclagem”, destacou Andreia Monteiro, diretora de marketing e gestão de projetos do Instituto-E /Osklen. Ela contou que a Osklen está de olho em seus processos e acompanhando não só o descarte de resíduos como também a reutilização de recursos.

João Malavolta, diretor executivo do Instituto Ecosurf, chamou a atenção para a educação e atuação das pessoas. Primeiro, ele exibiu uma ação do Ecosurf que despoluiu uma área de 24 km de extensão da qual foram retirados 53 mil pedaços de resíduos vindos do oceano. Depois, exibiu alguns dos materiais encontrados para que os participantes do Festival pudessem tocar no lixo retirado da costa. “A ideia é visualizar um cenário para diminuir o uso. Temos de pensar quem é responsável pelo que entra e sai de nossas vidas. Infelizmente, somos nós, os consumidores. É preciso conhecimento para gerar comportamento”, avaliou Malavolta.

A educação e o conhecimento também foram os caminhos apontados por Virginia Antonioli, coordenadora de área de conteúdo do Instituto Akatu, para seguir em frente com a agenda do plástico. “Temos pesquisas que mostram que o consumidor até busca e quer levar uma vida mais sustentável, entretanto, não tem referências sobre o que é um produto sustentável”, contou Virginia. O Instituto Akatu apresentou em julho a pesquisa Panorama do Consumo Consciente no Brasil que apontou que 68% dos brasileiros já ouviram falar de sustentabilidade, mas 61% não sabem o que é um produto sustentável (leia mais detalhes do estudo aqui). Para Virginia, está claro que, entre as soluções que buscamos, a informação ainda está entre as mais importantes.

Beatriz Lorente

Fotos - Miguel Schincariol

Festival do Clube 2018

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