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Festival do Clube 2018

Atuar c/ a diversidade: o movimento + inteligente a se fazer

25.09.18

Uma indústria publicitária com maior diversidade de pessoas e que converse diretamente com a maioria da população brasileira: os negros. Esse foi o mote da palestra "Inclusão já, porque diversidade é um jogo de ganha-ganha", do Festival do Clube de Criação, e que expôs os avanços e os desafios do setor para uma publicidade mais democrática e plural. A rapper e historiadora Preta-Rara destacou que 56% dos brasileiros são negros ou pardos, sem mencionar os que não se declaram e não se reconhecem ainda como negros. "Definitivamente, nós não somos uma minoria", enfatizou.

Mudanças no mercado de comunicação já começaram a acontecer. A nova onda do estudo "TODXS - Uma análise da representatividade na publicidade brasileira" (leia mais sobre o assunto aqui), realizado pela Heads, em parceria com a ONU Mulheres, revelou que os comerciais brasileiros estão, sim, menos estereotipados.

As mulheres estão desempenhando papéis mais empoderados nos filmes. E os homens já começam a ser retratados cuidando dos filhos, recorte exclusivamente feminino no passado. "Mas o movimento ainda é lento. O mesmo padrão de beleza continua sendo mantido na publicidade. De 21% de mulheres negras protagonistas em comerciais, 69% são celebridades. Isso denota um racismo evidente na hora de contar histórias", destacou Isabel Aquino, diretora de planejamento da Heads.

O potencial de consumo da população negra e parda do país - e que não é devidamente explorado pela publicidade - foi bastante enfatizado pelos os participantes do debate. "É comum o negro ser atrelado a uma ‘bandeira’, a uma causa específica, ou, ainda, a comerciais de produtos para cabelo. Nós queremos também estar na publicidade de bancos e cartão de crédito, por exemplo. Nós já consumimos várias marcas que não falam diretamente conosco. Imagine só se falassem?", questionou Preta-Rara.

Como alternativa para ampliar a diversidade de seus colaboradores, a Artplan, em parceria com a Empregare.com, criou um modelo de recrutamento e seleção na agência chamado "Recrutamento às cegas". Segundo Flávia Campos, diretora geral de planejamento da Artplan, muitas pessoas, que provavelmente não chegariam até a agência pelo método convencional de seleção de funcionários, estão conseguindo mostrar o seu trabalho. "É essencial que cada vez mais existam oportunidades e diversidade nas agências. Será verdadeiramente um sonho o dia em que não tenhamos mais de falar sobre um assunto tão urgente como este, pois a transformação já terá acontecido", afirmou Flávia.

O preconceito que atinge profissionais LGBT também foi destacado por Gustavo Otto, head of content da Ogilvy. Durante o debate, Otto disse ter sido exposto ao preconceito de gênero no ambiente profissional. "As pessoas são diferentes, a diversidade existe e tem de ser respeitada", ressaltou.

Ainda que exista um longo caminho a ser percorrido para que as "diferenças" conquistem o seu espaço no setor definitivamente, algumas agências já estão se posicionando. O projeto de diversidade racial 20/20, da J.Walter Thompson, cuja meta é de até 2020 obter cerca de 20% do quadro de funcionários preenchido por talentos negros, é um exemplo. A gerente de contas Raphaella Martins destacou que o trabalho é um dos mais importantes da agência. De acordo com ela, os negros representam apenas 0,7% dos profissionais das maiores agências do país. "Para iniciar uma discussão sobre pluralidade e diversidade, temos de olhar para dentro de casa e verificar o que tem sido feito em prol de uma transformação efetiva", salientou Raphaella.

Como parte dessa mudança, a JWT contratou a Empregue Afro, consultoria de RH especializada no encaminhamento de talentos negros. "É importante compreender que atuar com a diversidade é o movimento mais inteligente a ser feito. O poder de compra está na população negra e é, sim, um importante jogo de ganha-ganha", completou Patrícia Santos, fundadora da Empregue Afro.

Juliana Welling

Festival do Clube 2018

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