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Festival do Clube 2021

Johan Kramer, futebol, filmes e criatividade

26.10.21

Pelo menos no assunto futebol, não houve polêmica, como se esperava. Essa foi a tônica do encontro protagonizado pelo brasileiro Ricardo Wolff, CCO da Innocean Berlim, e pelo holandês Johan Kramer, fundador da icônica KesselsKramer e atualmente diretor de filmes, em um painel do Festival do Clube de Criação 2021. Ambos concordaram que Pelé, que recentemente completou 81 anos, é provavelmente o maior jogador de todos os tempos.

Dos que vi jogar em campo, Messi e Ronaldinho foram os melhores”, ponderou Kramer, que diz ter visto o ídolo Johan Cruijff apenas uma vez em campo, mas pouco se recorda dele. Torcedor do Ajax, ele não mencionou Ronaldo Fenômeno e Romário, dois brasileiros que, como Wolff observou, começaram sua carreira europeia no futebol holandês. “Mas foram para o time errado”, disse o diretor, ao lembrar que eles jogaram no arquirrival PSV Eindhoven.

Por 50 minutos, os criativos conversaram sobre futebol e tudo mais o que foi possível neste curto período de tempo. Embora o futebol seja sempre um tema interessante, a melhor parte foi discutir os trabalhos de Kramer. O que levou Wolff a mencionar o Hans Brinker Budget Hotel. “É um grande hotel na Holanda, mas definitivamente não era o melhor. Quando eu e os caras da agência fomos lá conhecer o cliente, vimos que era horrível, uma merda. Sentamos no bar do hotel para tomar uma cerveja e pensar como iríamos fazer publicidade disso. Após alguns copos, concluímos que o melhor seria falar a verdade”.

Assim surgiu uma das grandes campanhas da história da publicidade na Europa. Uma das ações foi colocar mil bandeirinhas em cocôs de cachorro pelas ruas de Amsterdã, onde se lia que aquele tipo de coisa poderia ser encontrado na porta do Hans Brinker também.

Mas quem foi responsável por colocar as bandeirinhas?”, questionou Wolff. Kramer revelou que, sim, foi uma equipe de profissionais júnior. “Eles foram corajosos, e adoraram fazer aquilo”, garantiu, elogiando ainda os gestores do empreendimento, cuja “autodepreciação” foi um grande sucesso na mídia. E a mesma linha seguiu em filmes como "Hans Brinker Budget Hotel Eco-Tour" (veja mais abaixo). “Foi um bom benchmark para a publicidade, de ser realista e falar a verdade”, opinou Wolff.

Outro projeto histórico de Kramer foi “The Other Final”, um documentário que retratou o jogo Butão x Montserrat em 2002. Por ideia de Kramer, a partida entre os dois piores qualificados no ranking da Fifa ocorreria no mesmo dia da final da Copa entre Brasil e Alemanha. “A Holanda estava muito mal nessa época, e inspirado nisso, fui olhando o ranking e vendo outros que estavam piores, até chegar no final da lista”, relembrou. “Foi algo para satisfazer a alma, não? Pode me dizer por que foi tão legal? Foi o primeiro major job fora da publicidade?”, questionou Wolff.

Eu já queria trabalhar com filme longo e queria encontrar uma história. O interessante é que gigantes como Adidas e Nike não quiseram patrocinar o filme e uma das cenas me mostra explicando aos jogadores que as marcas não queriam se alinhar a ‘perdedores’. Claro que essa lógica hoje mudou, e empresas gigantes patrocinam atletas e clubes menores, disse Kramer. “Mas Adidas e Nike, depois do sucesso do filme, vieram querer se envolver no marketing. Respondemos com um singelo ‘Fuck You’”, divertiu-se.

O jogo teve 25 mil pessoas no estádio, das 50 mil que moravam na cidade de Timbu, no Butão. Em certo momento, a torcida local passou a apoiar Montserrat, pois o time conseguiu ser mais fraco que o da casa. “Eles são budistas e fizeram isso para o convidado não se sentir mal. Foi uma grande celebração do futebol, lindo de assistir”, afirmou Kramer.

Envolver-se em projetos pessoais, garante o holandês, é altamente recomendável aos jovens criativos, pois são essas coisas que vão levá-los ao próximo nível. “Você fez algo espetacular na agência, que foi pegar o dinheiro que gastaria em festivais e dar aos criativos para desenvolverem projetos próprios. Isso é motivador para as equipes. Mas dava retorno para a agência?”, perguntou Wolff.

Eles foram corajosos, e tivemos desde livros de poemas até documentários pessoais. Não sou contra prêmios. São importantes, mas talvez experimentar a criatividade de uma forma mais ampla seja bom”, explicou Kramer. Para Wolff, são resultados mais concretos do que qualquer prêmio.

Wolff lembrou, durante o papo, o movimento de criativos brasileiros que saíram de agências para dirigir filmes. Afinal, que lacuna eles procuram preencher nessa nova função? “Tem diferenças grandes entre ser diretor e criativo. Como diretor, uma vez envolvido, você começa a fazer algo imediatamente. O criativo leva tempo para produzir sua ideia, às vezes até anos, e isso pode ser frustrante. Como criativo que só queria pensar na ideia e resultado. Eu virei diretor e passei a apreciar o processo de fazer. De estar em um lugar, criar uma atmosfera legal, e contar histórias boas”, declarou.

Mesmo tendo criado a KesselsKramer, conhecida por ser uma agência multicultural, a Nações Unidas da Publicidade, como foi chamada, Kramer nunca veio ao Brasil e pouco conhece daqui. “Conheço pouco além do clichê das praias e da arquitetura de Niemeyer”, lamentou. Mas, no painel, ficou no ar a ideia de contar com o diretor e criativo holandês in loco para falar de futebol, filmes e muito mais.

Felipe Turlão

Todos os painéis do Festival do Clube 2021, realizado entre os dias 22 e 23 de setembro, foram transmitidos pelo Globoplay. O evento deste ano foi gratuito.

Reveja a programação completa aqui.

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