O Espaço é Seu

Desde pequeno, escuto minha mãe falar sobre a diferença entre culpa e responsabilidade. Não adiantava nem pensar em terceirizar o problema, seja lá qual fosse. Com um discurso simples e objetivo ela me fazia assinar o B.O.

Com o passar do tempo, fui vendo que aquele discurso fazia muito mais sentido. A terceirização do problema é um mal instalado em nossa sociedade, que acaba virando muleta de muitos empresários e empregados por aí. Em um jogo de batata-quente sem fim, as pessoas agregam em seus vocabulários o "eu fiz minha parte" e, nesta onda, o problema acaba afetando a todos.

Suspensão coletiva na época de escola era até fácil de explicar para os pais. Difícil mesmo era falar que só você foi mandado para fora de sala. Embora as consequências sejam bem diferentes, o simples fato de falar "não fui eu" ou "não fui só eu" era o bastante para se eximir de qualquer penalidade.

Vivemos uma das maiores crises hídricas da história. Todos apontam os dedos para os governantes, mas o assunto quase nunca esteve nas discussões de mesa de bar. Quando surgia, alguns até falavam "temos a maior reserva de água doce do mundo". Outros mais egoístas diziam: "vai demorar muito para acabar". O fato é que a crise bateu, e, nessa hora, de quem é a culpa? As pessoas jogam para os governantes, e esses rapidamente terceirizaram para o coitado do São Pedro.

A grande diferença é que a resposta veio rápido e a calhar. O mês de fevereiro foi o mais chuvoso em 20 anos, no Sistema Cantareira, com 322,4 milímetros de água. Segundo a Sabesp, a última vez que um volume de chuvas maior foi registrado na região foi em fevereiro de 1995 - chegou a 388 milímetros.

Mas e agora? Qual a desculpa? A batata quente corre solta por aí.

Para muitos, a desculpa nasce antes mesmo dos projetos. Ricardo Bellino resume bem em uma frase: "As pessoas não estão preparadas para dar certo. Estão preparadas para aceitar que deram errado."

A suposta crise em nosso mercado é o bastante para muitos diminuírem os esforços, aceitarem as derrotas e tirarem o pé. Na contramão disso tudo, vêm aqueles que vão assumir as responsabilidades, trabalhar de sol a sol e aproveitar as oportunidades.

A receita é o trabalho. Esqueça as mandingas e cuidado com a simpatia, pois parece que a dança da chuva deu resultado.

São Pedro passou a batata quente pra você.

E agora?

Bruno Bernardo, sócio-diretor executivo de planejamento da Peppery