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O espaço é seu

Memórias de um outono em Nova York (Magnolias)

01.12.16

uma mistura de sentimentos eloquentes, daqueles de corar as bochechas e pulsar o coração. empoderamento, cinema e libertação

Uma troca puramente feminina e em sua forma mais genuína. Não é faz de conta, não tem princesa. São mulheres fortes e expressivas que através do cinema encontraram um jeito de mudar um percurso pré estabelecido pela história. Naturalmente são cineastas, roteiristas, diretoras e produtoras fascinadas por essa arte de expressão tão sublime.

[três meses antes]

Essa jornada começou há três meses, quando decidimos apresentar para o mundo nosso então novo filme “The Grenade” e inscrevê-lo em alguns festivais de cinema. Algumas semanas depois, de modo inesperado, recebemos a notícia de que havíamos sido selecionadas para um deles. Não pensamos duas vezes, a união dos três fatores: Nova York + festival de cinema + empoderamento feminino, era uma aventura que nós três precisávamos viver juntas.

um sentimento particular no mundo

Cada uma tinha sua relação com a cidade, duas de nós já havíamos morado lá, mas nunca tínhamos ido juntas e ainda mais com este propósito tão singular. E foi neste singelo outono, que criamos a nossa Nova York. Nosso universo particular de pura inspiração e poesia a cada esquina. Nas entrelinhas das ruas da cidade, sentíamos o empoderamento feminino de forma latente, em detalhes pequenos, como atitudes fortes, olhares firmes, aceitação mais pura do seu eu e cartazes e pichações de rua, estimulando nós mulheres a enfrentar qualquer tipo de opressão e sermos nós mesmas.

No coração do Brooklyn, que transpira arte, moda e cultura subversiva, nos encontrávamos. E em uma manhã gélida, entre galpões industriais e sob o universo underground de Nova York, o festival aconteceu no charmoso Whyte Hotel, em Williamsburg, com direito a rooftop, com uma vista estonteante de Manhattan e drinks à altura. Foi neste cenário que nos conectamos emocionalmente com todas essas mulheres.

sem amarras, sem pudor, cada uma com sua visão de mundo. o tom é acolhedor e encorajador

Foram dois dias de screenings, mais de 250 filmes inscritos e 39 selecionados ao redor do globo, do Brasil à Dinamarca. Com participação da Austrália, Rússia, Índia, França, EUA, Japão, Egito e por ai vai. Pluralidade na lata, na sua essência. Entre curtas, longas-metragens e documentários, todos com ao menos uma mulher no cargo de liderança. Diferentes temas e sensações foram abordados, como: gênero, infância, abuso sexual, fertilidade, sonhos e tragédias da humanidade.

Sempre sentimos que o olhar feminino, sob as mensagens e personagens dos filmes, é na sua essência mais enigmático. Pois assim como na vida, nós mulheres, nos expressamos muito nas entrelinhas. Por isso, foi único poder dialogar com essas cineastas e compreender a perspectiva e subjetividade de cada narrativa. E, no final do dia, ao fechar os olhos, escutávamos apenas vozes femininas e suas histórias, que através de pequenos relatos inspiravam umas às outras.

devaneios e sensações provocam memórias

Este contexto e todos estes sentimentos mexeram muito conosco. Nos fizeram voltar no tempo e na história e relembrar grandes e inspiradoras mulheres responsáveis pela construção do cinema. Como Alice Guy-Blaché, primeira diretora do mundo e umas das precursoras ao inserir a estrutura narrativa no cinema. E Frances Marion, artista e diretora que ganhou duas estatuetas do Oscar como roteirista. Seus filmes premiados narram histórias de homens que vivem cercados pela violência, pobreza e fracasso, mostrando que mulheres também sabem retratar realidades sombrias e masculinas. Não por acaso, nos identificamos muito com as histórias obscuras de Frances Marion. E por meio do The Grenade, premiado no festival como melhor curta experimental da mostra internacional, realizamos nosso desejo de nos expressar de forma mais agressiva e subversiva. Homenagear essas grandes mulheres é um dever para que essa essência continue nos inspirando a contar e a produzir cada vez mais histórias.

se inspirar, desbravar, fazer acontecer

Foi lindo ver a velha-guarda e novas gerações de mulheres com o mesmo brilho nos olhos. Em questão de minutos, presenciamos conversas curiosas com garotas americanas em seus 20 e pouco anos, iniciando a carreira, e já com um discurso libertador e empoderado. Em contraponto, trocamos ideias futuristas malucas com uma dupla de senhoras diretoras dinamarquesas, elegantérrimas.

Presenciamos mulheres vívidas por retratar suas próprias realidades, transpor seus pensamentos, suas visões de mundo. Diferentes perspectivas se cruzaram com um único intuito, naquele exato momento: contar histórias, independentemente de gênero, classe social e cor.

é aquele momento em que o mundo inteiro se abre para você

A todo momento ficamos com aquela sensação de que histórias sempre nos transmitem algo que não conseguimos transpor ao outro. É algo que nos toca de forma muito particular, assim como foi estar no Imagine This Women’s Film Festival. Uma experiência única e memorável para todas que estiveram lá presentes. Acreditamos muito que, encontros como esse são uma oportunidade de darmos um passo para trás em nosso próprio mundo, enxergar o singular e o todo, e começar a entender onde as mudanças devem ser feitas por nós e por todos. O nosso desejo é de nos empoderarmos juntas, pois quando dissipamos essas ideias, inspiramos e enaltecemos umas às outras, assim como os princípios básico da física: ação e reação. Inspirar e fazer acontecer: história, cinema e evolução. Sempre.

Nota: o formato desse texto, intercalado com pequenos versos que expiram sentimentos, traduz a essência fragmentada de The Grenade. Para quem se interessar em ver o filme ele será exibido no Shift  Cine Club, no dia 1 de dezembro, às 19:30, na Rua Aspicuelta, 345.

Fica o convite, para ver o nosso filme e outros curtas nessa noite.

 Coletivo We are Magnolias (Hungry Man) 

 

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