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O Espaço é Seu

(SXSW) Somos todos imigrantes do futuro (Maura Victorelli e Murilo Candelot)

19.03.24

Somos todos imigrantes do futuro. E a futurista Marina Gorbis que, segundo o ChatGPT, foi quem nos trouxe este conceito, infelizmente não estava lá no último SXSW.

Como uma dupla de profissionais cuja carreira está na interseção entre criatividade, estratégia, tecnologia e cultura, trazemos para você um pequeno guia para o futuro (o que vimos ser discutido no festival, este ano).

Uma coleção de anotações e interpretações pessoais para quem quer fazer uma viagem – só de ida - para o próximo passo das nossas indústrias, sociedades e interações humanas:

Nem toda inovação pode ser planejada.

Há muita fantasia ao redor do processo de inovação. Uma visão romantizada que é consequência de só olharmos para as inovações que deram certo. Nomes como Chris Down (Head Global de Inovação da Mattel) e Matthieu Lorrain (Head Global de Inovação Criativa do Google) reforçaram o quão importante é, além de estarmos extremamente atentos às tendências e ao consumidor, desenvolver a nossa tolerância a riscos. Isto porque, do ponto de vista deles, a inovação nem sempre pode ser planejada.

Treine constantemente o músculo criativo.

Down e Lorrain trazem a "Inovação Hoje" como uma prática desmistificadora. Em seu painel, eles propõem que a inovação se torne um constante exercício de pensamento.

No universo da comunicação, que habitamos diariamente, a criatividade paira em um lugar de mito, como um dom de poucos. Na realidade, a capacidade de ser criativo é inerentemente humana, e a inovação é uma questão de exercício constante.

O segredo está em conectar esse exercício a um objetivo futuro concreto – seja ele de negócios, social ou pessoal. É preciso se perguntar quem usaria essa inovação, para que a usaria, com quais propósitos. É viável tirá-la do papel?

Um exercício prático: repensar algo que você faz todos os dias. "Como seria o metrô do futuro?"

A inteligência é artificial, a emoção humana.

Seguindo o conselho dos head globais de inovação, fomos atrás de mudanças e tendências do comportamento do consumidor e chegamos na palestra da Bain & Company, liderada pelas executivas Joëlle de Montgolfier e Leah Johns. Elas trouxeram tendências de novas economias em diversas áreas de atuação. São previsões que se sobrepõem e oferecem ao mesmo tempo, oportunidades de crescimento econômico e impacto social positivo.

Em diferentes painéis, assuntos como intimidade artificial e inteligência artificial se desdobraram em inúmeras perspectivas. São olhares que consideram a importância da saúde mental e a maneira como as redes sociais funcionam como escudos de vulnerabilidade e refletem uma narrativa manipulada.

Por sorte, Brenè Brown e Esther Perel, também presentes no SXSW, fizeram parecer óbvio o que muitos líderes (ainda) não entendem: a importância de uma gestão humana, balanceada com a vida pessoal e que coloque os colaboradores como protagonistas.

Precisamos falar sobre.

Neste painel (e em outros também) uma nuvem de palavras começou a se formar acima de nossas cabeças. Dentro dela, está o prognóstico de um dia de chuva ou sol, dependendo do que nós, como líderes, vamos fazer com elas: Super-humanos. Geração Alpha. Geração Z. Millennials. Baby-boomers. Projeções para 2030, 2050. Crise climática. Sustentabilidade. Longevidade. Novos formatos de família. Trabalho remoto, híbrido e presencial.

Empresas exigindo a volta dos talentos para espaços físicos. Já os talentos querendo distância destes espaços (a decisão precisa ser deles). Drones. Evolução das tecnologias autônomas. Trabalhar mais ou de forma inteligente? Qual o futuro do trabalho? E da mobilidade? E das pessoas? AI generativo? Bem-estar? Vale-terapia como benefício?

Dentro de tantos temas tão urgentes quanto importantes, deixamos a sala pensando que estamos vivendo a dicotomia entre o mundo das máquinas e o mundo dos relacionamentos humanos. Neste momento, é ainda mais importante uma gestão de paradoxos emocionais que considere a vulnerabilidade como um direito fundamental, segundo a Brenè Brown.

O futuro para o qual estamos todos imigrando nos deixou com uma grande pergunta – para nós mesmos, e para vocês, leitores: estamos como líderes, ou liderados, no caminho certo, ou precisamos de uma mudança de rota urgente?

Para nossa felicidade, estávamos no SXSW, um privilégio. Essa explosão imersiva em tantos assuntos, pessoas, culturas e realidades, em prol de trazer diálogos, trocas e conhecimentos.

Sabemos que os desafios são perenes. Para todos. E como disseram Amy Webb e Melanie Subin em sua Foresight Masterclass, a estratégia nada é sem a visão de onde precisamos chegar e para quem precisamos inovar.

Obrigado por lerem até aqui. A honra é nossa.

Maura Victorelli, cofundadora da Mumma Consultoria de Comunicação e cofundadora da startup de saúde Life Surgery Box; e Murilo Candelot, cofounder da Mumma

Leia texto anterior da seção "O Espaço é Seu", aqui.

O Espaço é Seu

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