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O futuro do trabalho na indústria criativa

Ambientes + flexíveis, benefícios novos, cultura freelancer... o que virá?

17.10.17

As novas gerações e as gerações que já ocupam postos importantes de trabalho na indústria criativa podem ter interesses comuns, mas suas visões de mundo muitas vezes não se alinham e até se atritam. Uma das áreas que evidencia essas diferenças é exatamente o trabalho. Reportagem publicada pela Campaign aborda esse aspecto e chama atenção para alguns pontos que podem impactar o futuro das agências no sentido de atrair e reter talentos (leia o texto na íntegra, em inglês, aqui).

De acordo com a matéria, as novas gerações não estão aceitando a cultura do “work hard, play hard”. Pessoas que estão entrando no mercado de trabalho ou que são novatas no mundo corporativo viram seus pais perdendo empregos para os quais dedicaram muito tempo de suas vidas. Mas agora elas vivenciam outra era. Se antes não se podia fazer queixas do trabalho (postura adotada normalmente para se preservar o emprego), atualmente isso não é tão simples assim. Há diversos reviews negativos de algumas das maiores agências do mercado em sites como Glassdoor – entre eles, “mentalidade do século XVIII quanto à relação com empregados”, “tem um nível de caos no lugar”, “tínhamos de ficar além das 23h algumas vezes na semana” e “cultura criativa estagnada e pouca transparência nos níveis gerenciais”. Millennials, de fato, não hesitam em criticar empresas publicamente.

Mas como lidar com os novos talentos da indústria criativa? O que o mercado deve levar em consideração para constituir um ambiente mais instigante para quem está começando agora ou tem pouco tempo de carreira? A reportagem elenca alguns itens para serem analisados:

1. Apreço pela estabilidade – Uma pesquisa feita pelo Levo Institute e pela Adecco, parte do “The Millennial Economy Report” (veja mais aqui), revela que 36% dos entrevistados não colocam a oportunidade de crescer no emprego como a prioridade número 1 de suas vidas. Por outro lado, 69% disseram que é preferível estar num trabalho não tão apaixonante, mas que ofereça estabilidade em vez de estar em um lugar apaixonante, porém sem estabilidade. Além disso, 62% declararam que a estabilidade financeira está no top 3 da lista de prioridades.

2. Choque cultural – No mundo das agências, escutam-se algumas queixas em relação aos jovens talentos como a aparente incapacidade de permanecer no trabalho depois das 18h, a crença de que eles têm de ser ouvidos e a prevalência de alguma outra atividade sobre uma reunião com o chefe, caso ele não consiga realizá-la no horário previsto. Quem lidera hoje as agências, em geral, leva em conta o conceito de meritocracia, em que a carreira é valorizada conforme as cicatrizes de batalha. As novas gerações acreditam que qualquer um pode fazer qualquer coisa, independentemente da experiência ou da idade. Os mais velhos se ressentem do otimismo dos mais jovens. E os mais jovens reclamam da visão de curto alcance dos mais velhos.

3. Trabalho da vida? – Os jovens talentos lidam com ideias diferentes sobre “aposentadoria”. Ficar no mesmo trabalho por muito tempo? Passar 48 semanas ao ano em um único escritório? As novas gerações pensam em anos sabáticos e em múltiplas carreiras ao longo da vida. Como essas pessoas se conformam menos com as situações, uma saída para reter talentos pode ser adotar contratos mais flexíveis ou encorajá-los a ter um “lado B” em suas carreiras, como facilitar que atuem como DJs ou conduzindo um pequeno negócio sem que isso prejudique o trabalho na agência. A abertura para essas possibilidades tornaria o ambiente mais interessante e produtivo.

4. Causas e motivações – Está claro que as novas gerações estão mais atentas às causas abraçadas pelas empresas, mas, quando se trata de trabalho, é essencial ter condições de pagar as contas. Ou seja, as agências podem ter diversos projetos em nome de uma sociedade mais justa, mas salários e benefícios contam bastante. Com o custo de vida aumentando mais, existem companhias que completam seu pacote de benefícios, como ajuda para bancar cursos ou para comprar o primeiro imóvel. Ou elas podem até diminuir exigências. A Ogilvy & Mather de Londres criou no ano passado The Pipe, um programa de estágio remunerado de seis meses em que a agência não requer experiências prévias, nem formação. O único pedido é que os candidatos demonstrem que têm criatividade.

5. Carreira on-demand – Vem conquistando muita gente o conceito de que trabalho é o que você faz e não o lugar onde você está. Mas são raras as empresas que conseguem abrir mão da presença do funcionário em seus escritórios. Companhias mais jovens – e em especial as de tecnologia – têm optado por mais flexibilidade no trabalho. Neil Hughston, diretor executivo da startup Duke, disse para a Campaign que o futuro da indústria criativa é menos sobre o espaço físico e mais sobre a essência e mentalidade do ambiente. Alguns acreditam que a criação de uma "cultura freelancer" será a chave para atrair e reter o talento.

A Campaign aponta que os millennials, que avaliam a vida entre experiências e expectativas por meio das lentes da mídia social, querem uma vida mais colorida, menos preto & branco. Essa é uma geração que não deseja se curvar ao sistema vigente. Ao contrário, ela procura reconstruí-lo. Isso pode causar alguma tensão nos ambientes mais tradicionais, mas também pode oferecer novas perspectivas para o trabalho criativo.

 

 

Leia também: "Virar noites na agência? Nada substitui 6h de sono", sobre o painel do Festival do Clube de Criação 2017 “24/7: Como melhorar o dia a dia dos profissionais do mercado publicitário”

 

 

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