arrow_backVoltar

Rio2C

Em busca de mais conteúdo local

29.04.22

Em um ambiente repleto de gente, executivos das principais plataformas de streaming presentes no país trataram de fazer na Rio2C uma espécie de agradecimento às empresas do audiovisual pelas parcerias construídas e um convite para produzirem mais. Em painéis que discutiram os desafios atuais e o futuro do setor ou em que se abordava o que está saindo do forno, havia um ponto em comum: a valorização do conteúdo local e autêntico, com potencial de se tornar global.

Em um painel da Netflix, Elisabetta Zenatti, a vice-presidente de conteúdo da empresa no Brasil, lembrou que há mais de cinco anos a companhia está construindo histórias com o mercado brasileiro. E, ao longo desse período, mais ideias foram desenvolvidas e a audiência para a produção original e local cresceu significativamente.

Para debater a importância de ter mais projetos feitos no Brasil, ela conversou com o showrunner e ator Rodrigo Sant’Anna, que recentemente viu sua sitcom “A Sogra Que Te Pariu” atingir o top 10 global; a diretora e roteirista Ana Luíza Azevedo, que é a diretora geral da série “Só se for por amor”; e o diretor Luis Lomenha, que irá produzir neste ano uma série documental que pretende ressignificar a chamada “Chacina da Candelária”, em que oito menores de idade foram assassinados numa madrugada de julho de 1993.

O documentário de Lomenha vem sendo elaborado há dois anos. Morando na Alemanha há três anos, o diretor admitiu que o projeto foi desafiador. Não apenas pela necessidade de trabalhar com seu time à distância. E sim pela reconstituição dos fatos e das circunstâncias envolvendo a tragédia. Cerca de 80 crianças dormiam nas imediações da Igreja da Candelária quando ocorreu o crime.

Conseguimos juntar as muitas histórias e condensar a série em quatro personagens. Não há um protagonista. São vários”, disse Lomenha, que é sócio da Jabuti Filmes. Dividida em quatro episódios, a série deverá estar disponível na plataforma em 2023.

Diversidade brasileira na Netflix

Outro ponto destacado no painel é a possibilidade de levar para a telinha diferentes Brasis. Como Ana Luíza comentou, no imaginário internacional o país é um ambiente tropical ou amazônico. Mas ela, que é sócia da produtora Casa de Cinema, de Porto Alegre, salientou que no Sul faz frio intenso. E a série “Só se for por amor” se desenrola em outro cenário, que não é comum aos olhos estrangeiros: o Centro-Oeste. “É fundamental que as histórias mostrem mesmo nossa diversidade”, afirmou.

De acordo com Elizabetta, a audiência global aplaude a autenticidade. Esse é um elemento essencial para futuros projetos. A empresa quer mais histórias locais que gerem comoção em outros lugares. “Primeiro a produção tem de fazer conexão com o público local. Com isso, depois o mundo se conecta também”, reforçou.

Perguntada se a comédia tem sido uma aposta forte da Netflix no Brasil, a vp de conteúdo confirmou e declarou que as produções do gênero têm se saído bem. Neste ano, a plataforma lançou um especial de Whindersson Nunes e haverá o a da humorista Bruna Louise. E terá novas temporadas de outras produções, entre elas a da série “A Sogra Que Te Pariu”, o que foi informado no palco, causando surpresa e emoção em Rodrigo Sant’Anna. “É muita vitória sair do Morro dos Macacos e chegar aqui”, disparou o ator.

Elizabetta revelou o que consideram essencial para que um novo projeto seja levado adiante em parceria com a Netflix: “é preciso pensar em boas histórias. O gênero é o de menos. O número de episódios é o de menos. A gente precisa de variedade de conteúdo”. Há muitos modelos de negócios, disse. Pode ser um selo Original, em que a empresa entra na produção desde o começo. Pode ser um licenciamento ou um contrato que faça aportes específicos.

Além disso, novas ideias podem surgir a partir de tratativas a respeito de outro projeto. Essa é um pouco da história da origem da sitcom de Rodrigo Sant’Anna. Ele estava discutindo com a Netflix a respeito de um projeto quando contou sua experiência com a mãe em casa. Ela tinha se mudado para lá durante a pandemia, convivendo com Rodrigo e seu marido. Na sequência, sugeriram que ele transformasse essa vivência em algo. Virou a série.

HBO Max e o sucesso dos programas sem roteiro

Durante a pandemia, produções do tipo não-ficção criadas sem roteiro tiveram uma audiência marcante. Para quem não sabe do que se trata, entram nessa linha realities e programas de variedades. Moderadora de um painel da HBO Max, a apresentadora Angélica falou da experiência de seu “Jornada Astral”, um talk show de 12 episódios que estreou na plataforma no final do ano passado. “Programas sem roteiro têm algumas particularidades que renovam nossa atenção”, disse.

Uma delas é o imponderável. Como determinar como se comportarão os participantes de um reality? Por isso que atrações unscripted (como se fala em inglês) mexem muito com as emoções. E devem mexer ainda mais nos próximos anos. Sergio Nakasone, diretor regional de desenvolvimento de conteúdo não-ficção da HBO Max e da Warner Bros. Discovery, afirmou que há grandes oportunidades para quem quiser produzir conteúdo não-ficcional.

Também nesse caso há um enorme interesse em produção local com projeção global, como deixou claro Nakasone. Ele ainda enumerou as vantagens das atrações não-ficcionais: são mais rápidas para serem produzidas, conectam-se mais rapidamente com tendências e se comunicam bem com o público da região. A meta é primeiro conquistar essa audiência e, com o sucesso, partir para ganhar a atenção mundial.

Head de desenvolvimento de não-ficção na HBO Max Brasil, Verônica Villa comentou que um dos motivos para as pessoas aderirem fortemente aos programas sem roteiro durante a pandemia foi porque sentiam falta da conexão com pessoas reais. A empresa tem um time de insights e buscou entender mais as razões do público ver essas atrações.

Uma resposta é a empatia: as pessoas gostam de conteúdo real e sem filtro. Outra é a identificação. “Estamos falando de sentimentos humanos”. A terceira razão é a possibilidade de aprender algo. E, por fim, a magia. Ou, dito de outra forma, a imprevisibilidade. “Até um determinado ponto temos controle. A surpresa provoca encanto”.

Verônica também mencionou uma pesquisa da Parrot Analytics, com dados entre 2018 e 2021, que revelou que o gênero que mais cresceu foi o documentário. Houve um aumento de 63% nas séries documentais. A demanda do público pelos docs subiu 142%.

Ela acrescentou que um dos subgêneros dos documentários é o true crime. As atrações desse tipo igualmente tiveram um crescimento muito rápido. Não à toa, a procura por esses projetos disparou.

Nakasone observou que a verdade é mais uma explicação para o maior interesse das pessoas pelos programas unscripted. “A verdade conecta a audiência”. E declarou que o documentário é um formato que “viaja para todo mundo”. Ele repetiu um ditado que diz que a realidade supera a ficção, porém comentou que um bom doc toma códigos da ficção para contar bem uma história. “O importante é entreter, fazer pensar e emocionar”, resumiu.

Confinamento na floresta, PCC e Daniella Perez

Dentre as novidades da HBO Max está o realityA Ponte – The Bridge Brasil”, em que 12 participantes são levados para uma cabana numa floresta. Formado por anônimos e famosos como Pepita, Badauí e Dani Winits, esse time deve construir uma ponte de 300 metros para chegar a uma ilha onde está um baú com R$ 500 mil. O vencedor pode ficar com o prêmio ou dividi-lo com mais participantes, contou o ator Murilo Rosa, que é o apresentador.

Com produção da Endemol Shine Brasil, o reality já teve versões na Inglaterra e na Espanha. Rosa assegurou que o programa “é diferente de tudo” já feito e que a natureza é um personagem. O ator também se envolve com a narrativa ao criar enigmas, cuja autoria os participantes desconhecem.

Na esteira da popularidade do true crime, a HBO Max está com dois títulos que prometem gerar buzz. “PCC – Poder Secreto”, uma série documental, traz uma perspectiva de dentro da organização com a ajuda de ex-integrantes e de famílias.

Em julho chegará à plataforma “Pacto Brutal”, uma produção de cinco episódios focada no assassinato da atriz Daniella Perez, filha de Glória Perez. Neste ano, o crime completa três décadas. Foi fechada uma parceria com Glória, que obteve licença da Globo para trabalhar nesse projeto. “O que a convenceu a aceitar a proposta? Foi o fato de tratarmos tudo com muita seriedade. Demos muita atenção aos autos do processo”, contou Verônica.

Amazon Studios: talentos e portal

Em um concorrido painel, o Amazon Studios levou para o palco dois showrunners já apresentados ao mercado, Lázaro Ramos e Ingrid Guimarães, e anunciou mais três reforços para seu time de talentos locais: a diretora Susana Garcia, a roteirista Adriana Falcão e a atriz Fabiana Karla.

Com esse movimento, a Amazon Prime Video reforça seu foco em oferecer mais conteúdo local diverso para os brasileiros e também para assinantes de outras partes do mundo.

A apresentação do painel coube a Malu Miranda, head de conteúdo original para o Brasil. Ela disse que, apesar da pandemia, o setor experimentou um crescimento gigante. “Há três anos estamos investindo pesado no conteúdo de brasileiro para brasileiro. Quanto mais autêntico, mais viajamos pelo mundo. Estamos constantemente criando oportunidades para roteiristas, diretores, produtores, atores, atrizes e criadores de conteúdo”, afirmou.

A Amazon quer ser reconhecida como o lar de talentos de todas as origens, raças, idades e orientação sexual. Durante um ano, a companhia trabalhou para constituir seu estúdio. Hoje são mais de 50 executivos no Amazon Studios. “E estamos apenas começando”, emendou. Desde então, foram mais de 20 produções brasileiras rodadas em 14 Estados e com talentos de 12 Estados.

Como o desejo é por mais conteúdo local, a empresa lançou um portal de submissões do Amazon Studios e do Prime Video Brasil. Até o dia 8 de maio, estará aberto um formulário para quem quiser se inscrever no portal. O objetivo é democratizar o acesso à companhia por quem desenha apresentar seu projeto.

Falando em projetos, Lázaro contou que trabalha em cinco: uma série, dois filmes, um programa em que será apresentador e há mais uma proposta que não está com formato definido. Já Ingrid tem quatro projetos em andamento. Um deles é um reality que envolve signos e casais. Há ainda uma série escrita e dirigida por mulheres que tem como protagonista uma personagem em torno de 50 anos.

Rio2C

/