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Martin Sorrell, epítome de uma era

Abel Reis comenta o futuro das holdings

20.04.18

No mundo da publicidade, Martin Sorrell, fundador do Grupo WPP, foi o principal assunto da semana. Desde o início das investigações sobre sua suposta “má conduta” na gestão até sua renúncia como CEO, ocorrida no sábado 14 (leia mais aqui), Sorrell foi o trending topic da indústria de comunicação e da mídia. Afinal, o WPP é a maior holding desse mercado e seu fundador esteve no comando da corporação por nada menos do que 33 anos.

Para se ter ideia de quanto tempo durou o “reinado” de Sorrell, Maurice Lévy foi CEO do Publicis Groupe por 30 anos, de 1987 até 2017, quando foi substituído no cargo por Arthur Sadoun. Segundo grupo em receitas no mundo (US$ 15,2 bilhões em 2017, contra US$ 19 bilhões do WPP), o Omnicom é liderado por John Wren desde 1997. Michael Roth é CEO do Interpublic desde 2005. Na Dentsu Inc, Toshihiro Yamamoto assumiu o posto em fevereiro de 2017, que era ocupado por Tadashi Ishii, que renunciou em dezembro de 2016 após o suicídio de uma jovem funcionária por trabalhar excessivamente (ele tinha se tornado CEO em 2011). No Havas, Yannick Bolloré é o principal executivo desde 2013. E Hirokazu Toda lidera a Hakuhodo desde 2010.

Diversos analistas passaram a considerar a possibilidade de venda de algumas empresas do WPP (uma das apostas é o Kantar). Outros questionaram se um conglomerado gigantesco como o grupo fundado por Sorrell consegue se adaptar a tempo para enfrentar um cenário em que anunciantes estão fazendo cortes profundos em seus investimentos em comunicação. Entrevistado pela Reuters, o CEO da Media Link, Michael Kassan, afirmou que os fatos recentes envolvendo o WPP e Martin Sorrell não devem "derrubar" as holdings, que "precisam aprender a ser mais ágeis e eficientes para proteger suas receitas e evitar que elas se dissolvam" (leia a reportagem aqui). "Eu acredito que isso vai forçar todo mundo a repensar (seus negócios)", declarou Kassan.

O Clubeonline ouviu Abel Reis, CEO da Dentsu Aegis Network Brasil e Isobar Latam, para discutir o tema – ele não quis comentar as investigações em torno de Sorrell e seus possíveis erros. Confira abaixo a entrevista. A Dentsu Aegis Network é baseada no Reino Unido e tem como CEO Jerry Buhlmann.

ClubeonlineO desligamento de Martin Sorrell é um símbolo de novos tempos, em que as agências enfrentam concorrências de novos atores (as consultorias, sobretudo) e em que estão obrigadas a trabalhar com verbas mais curtas e/ou ameaças de cortes (vide Unilever e P&G)?

Abel Reis – O crescimento orgânico da indústria da publicidade não tem acompanhado a evolução do PIB norte-americano (maior mercado da indústria da publicidade) e da zona do Euro. Esse é um forte indício de que os tempos são outros. A saída de Martin Sorrell coloca luz sobre esse dado. Creio que todos os players podem se beneficiar desse wake-up call, ao qual outras transformações se juntam: o papel dos global media players, a mudança de hábitos e a atenção fragmentada do consumidor. Mais forte que a ameaça da redução de verbas, é o desejo do cliente por resultados e transparência.

ClubeonlineO gigantismo da holding tem alguma influência sobre os acontecimentos? Há condições de uma rede tão grande se sustentar em um cenário mais crítico?

Abel – Martin Sorrell epitomiza uma era onde tamanho e complexidade eram características indispensáveis para sustentar crescimento, geração de valor para acionistas e clientes, bem como posição de liderança. Mas os tempos mudaram... Tamanho e complexidade criam legados que, muitas vezes, tornam lenta e difícil a tomada de decisões e a incorporação de inovações. Acredito na agilidade, como mola propulsora dos negócios.

ClubeonlineO modelo de negócios da publicidade corre que riscos atualmente? Ou que mudanças são as mais prementes?

Abel – A transição de modelo já está em curso. Definitivamente, nem tudo o que nos fez chegar até aqui seguirá conosco. O consumidor mudou, os formatos de mídia mudaram, os padrões de remuneração, também. E aqueles que insistirem em permanecer da mesma forma, com a mesma entrega e modelos, ficarão para trás. Essa é minha aposta. Já a minha certeza é a de que criatividade e conhecimento de consumidor seguem sendo nosso principal atributo e diferencial nessa nova jornada.

 

Lena Castellón

Martin Sorrell, epítome de uma era

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