Cannes Lions 2020/2021

Papo com os Jurados – Cannes Lions 2020 / 2021

Eduardo Vieira, presidente & Co-CEO da Hill+Knowlton Strategies. Nosso jurado em PR Lions.

Clubeonline – Este ano, o Festival acumula trabalhos de duas edições. Isso pode interferir na qualidade do julgamento?

Edu – Um dos grandes desafios do júri, este ano, sem dúvida, é o volume de peças inscritas. Sabíamos que dois anos acumulados trariam uma grande quantidade de cases, e até esperávamos uma certa dificuldade em manter a qualidade do julgamento por conta disso, mas o fato é que isso não aconteceu na prática. Acho que o modelo online do Festival, que permitiu aos jurados julgarem as peças numa janela maior de tempo antes de definir o shortlist, funcionou muito bem. Deu flexibilidade a cada pessoa para realizar as avaliações em seus tempos individuais. Já as discussões de shortlist foram muito objetivas, com boas interações pela plataforma digital. Claro que ainda se perde o "olho no olho", as discussões informais, a temperatura cultural. Mas acredito que, depois de um ano e pouco de pandemia, todos ali estavam escolados em reuniões virtuais. Funcionou muito bem.

Clubeonline - Quais expectativas para sua categoria, tanto em termos globais quanto em termos de Brasil?

Edu - 2020 foi um ano emblemático para PR, e isso se refletiu no julgamento das peças. Deu para perceber o real impacto das ações no cotidiano das pessoas, gerando awareness e influenciando comportamentos. Essas foram as prioridades do júri: ideias de impacto, poderosas, com grande alcance. Dito isso, foi um ano desafiador para o Brasil. Tivemos alguns cases no shortlist, mas, honestamente, eu esperava mais ideias. Espero que no ano que vem possamos ter mais casos em que o PR esteja no core da estratégia e execução.

Clubeonline - Você acredita que o resultado de Cannes vá refletir as mudanças que a pandemia causou no mundo e, consequentemente, na comunicação? E quanto a pautas como racismo e inclusão, elas devem ganhar ainda mais destaque nesta edição?

Edu - Sem dúvida alguma. Toda a agenda, digamos assim, ESG, está fortemente presente. Temos muita diversidade, propósito e conceitos bem alinhados com o novo capitalismo de stakeholder que vivemos. E um grande uso da tecnologia para causas mais profundas. Não tivemos uma grande quantidade de ideias matadoras, mas poucas grandes ideias e muitas boas ideias. O aspecto cultural e das mudanças provocadas pela pandemia foi muito forte.

Clubeonline – Do que você vai sentir mais falta: do aeroporto de Paris; do rosé no Martinez; do macaron na La Durée; do jantar no “Pelourin”; das filas no tapete vermelho para, quem sabe, subir ao palco; ou das festas?

Edu - A ausência do rosé do Martinez é sempre algo a ser lamentado. A falta maior é o que ele representa: o contato, a interação, a descontração, as reações humanas. Todos carecemos demais de contato com outras pessoas, e a magia de Cannes, no fim das contas, se faz em tudo o que ocorre ao redor do festival. Espero que essa dinâmica volte no ano que vem.

Leia anterior com André França, vp de mídia e dados da WMcCann, nosso jurado em Media Lions, aqui.

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