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Consciência Negra 3

Com Renata Hilario (Budweiser)

23.11.22

O Clubeonline procurou profissionais do mercado para analisarem o que mudou na indústria da comunicação em relação à inclusão, ao combate à invisibilidade e ao racismo. Por conta do Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, diversas empresas e marcas procuram promover ações e reflexões sobre o tema. Mas o quanto de fato avançamos?

Ao longo desta semana, vamos publicar respostas a quatro perguntas que fizemos para esta série. O papo agora é com Renata Hilario, strategy manager da Budweiser (Ambev).

Leia também as entrevistas com Vinicius Chagas, head of conversations design da Dentsu (aqui), e Ana Carla Carneiro, sócia-fundadora do Estúdio Nina (aqui).

Clubeonline – Na sua opinião, há mudanças de fato perceptíveis acontecendo no mercado da comunicação, no Brasil, no que tange à inclusão e combate à invisibilidade e ao racismo?

Renata HilarioA urgência por uma sociedade mais justa e igualitária por vezes nos dá a sensação de que ainda estamos distantes de mudanças efetivas. De fato, ainda temos um longo caminho, mas já é possível vermos avanços e resultados.

Na Ambev, por exemplo, a busca pela equidade racial é trabalhada em todas as áreas, inclusive nas relacionadas à comunicação. Nos últimos anos, a companhia entendeu que tinha uma longa jornada pela frente e também reconheceu a sua responsabilidade enquanto agente de mudança e evolução. A partir daí, estabeleceu metas e assumiu compromissos públicos por um ambiente mais diverso do ponto de vista racial e também de gênero. Nessa jornada, as campanhas e ações de comunicação e marketing da empresa também são pensadas para atender as premissas de diversidade e inclusão. Além disso, a companhia fomenta conversas internas sobre o tema com o objetivo de estimular a conscientização e lançar luz à pauta racial no ambiente corporativo. A estratégia é envolver pessoas de todos os cargos na causa e promover letramento constante acerca do assunto.

Também buscamos engajar o nosso ecossistema, influenciando fornecedores, clientes e parceiros a colocarem em prática ações efetivas relacionadas às iniciativas étnico-raciais. Por exemplo, hoje a companhia tem olhar genuíno envolvendo o fomento da diversidade e inclusão nas agências prestadoras de serviços de comunicação e marketing.

Embora a gente já identifique mudanças, é importante mantermos a chama da urgência acesa nesse trabalho constante de reparação histórica. Como diria Angela Davis: “Você tem de agir como se fosse possível transformar radicalmente o mundo. E você tem de fazer isso o tempo todo”.

Clubeonline - Você participa ou conhece iniciativas com foco no antirracismo cujo trabalho venha fazendo a diferença no mercado de trabalho?

Renata Ao longo da minha trajetória pessoal e profissional sempre participei de movimentos ligados à luta antirracista, inclusive sou coautora do livro “Publicidade Antirracista” com o grupo Publicitários Negros, finalista do prêmio Jabuti de literatura em 2020. Esse grupo tem como missão reunir profissionais negros da publicidade e comunicação para promover o desenvolvimento social, cultural e econômico.

Pela perspectiva corporativa, hoje sou strategy manager na Budweiser e na Ambev posso destacar algumas iniciativas antirracistas. Uma delas é o programa de estágio Representa! O projeto é 100% voltado para estudantes negros e foi criado com o objetivo de garantir a presença desses profissionais e possibilitar jornada de desenvolvimento profissional dentro da companhia.

A primeira edição do programa contou com a contratação de dez universitários que ganharam a oportunidade de trabalhar na sede da Ambev, em São Paulo, e participar do BOCK - Building Opportunities for Colleagues of all Kinds (em tradução livre, “Criando oportunidades para colegas de todos os tipos”), grupo interno de afinidade étnico-racial, existente desde 2017, com foco em promover discussões e ações efetivas relacionadas ao tema.

O BOCK é um grupo forte, amplamente conhecido na companhia e, nos últimos cinco anos, realiza o evento “De Portas Abertas”. O objetivo é promover momento de conversa e escuta-ativa com colaboradores e aspirantes para a implementação de ações de combate ao racismo e promoção da equidade racial. O evento é aberto para todas as pessoas pretas e pardas que tenham interesse em conhecer mais sobre a Ambev e as ações conduzidas para a promoção da equidade racial. Inclusive, a próxima edição do “De Portas Abertas” acontecerá no sábado 26, e a expectativa para essa edição é impactar mais de cinco mil pessoas em todo o país.

Outro passo importante que a Ambev deu em sua jornada, foi a criação do Dàgbá - Líderes do Futuro. A primeira turma a participar do projeto acabou de se "formar" (vamos dizer assim) e ele foi todo pensado para acelerar a chegada de profissionais negros em posições seniores e de lideranças. O programa foi totalmente idealizado com foco na pessoa negra, para fortalecer o seu potencial e negritude, gerar visibilidade, oferecer conhecimento e construir futuro promissor, com mais razões para brindar, como costumamos dizer por aqui!

Atualmente, também somos parte do Mover – Movimento pela Equidade Racial, iniciativa que reúne 47 grandes empresas do país em um movimento inédito para promover a equidade racial, colocando em prática plano macro que ambiciona gerar 10 mil novas posições de liderança para pessoas negras e gerar oportunidades para 3 milhões de pessoas nos próximos anos por meio de ações práticas. Para mim, particularmente, é muito bom ver o empenho da Ambev e, de alguma forma, ser parte de tudo isso também.

Clubeonline - Com relação ao Brasil em 2023, quais são as suas expectativas sob o prisma da inclusão, igualdade social e diversidade?

Renata Acredito e espero ver nos próximos anos o avanço das sementes já plantadas, como o desenvolvimento estrutural e econômico dos profissionais negros que entraram no mercado de trabalho, negros em posições de liderança e recursos para que outros também tenham acesso às oportunidades ainda pequenas diante da demanda da sociedade.

Também espero ver o apoio do governo e das instituições na reparação e no acesso à educação tão comprometido nos últimos dois anos devido à pandemia.

Desejo que a gente possa desenvolver e reconhecer outros talentos negros em todas as frentes de atuação, como diria o fotógrafo afro-americano Dario Calmese, que também é fundador do Instituto Black Imagination, precisamos desenhar e imaginar novas possibilidades pela perspectiva das pessoas negras e dar protagonismo para essas criações, muitas vezes já existentes, mas que precisam de destaque e reconhecimento para o real avanço. A mudança vai acontecer de verdade quando tivermos acesso às mesmas oportunidades.

Clubeonline – Poderia indicar um bom livro, ligado à questão racial, aos internautas que nos acompanham?

Renata Ensinando pensamento crítico” (Bell Hooks), “O sentido da liberdade” (Angela Davis) e “Racismo estrutural” (Silvio Almeida).

Consciência Negra 3

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