arrow_backVoltar

Festival do Clube 2018

Lições de humildade de Keith Richards, via Marcos Medeiros

25.09.18

Quem acredita que apenas o talento explica o sucesso dos Rolling Stones e de seu lendário guitarrista Keith Richards corre o sério risco de desperdiçar valiosas lições de humildade, perseverança e cumplicidade de equipe que fizeram toda a diferença na história da banda. Inspirado no ídolo da música, Marcos Medeiros, sócio-diretor e chief creative officer da Crispin Porter & Bogusky Brasil, apresentou a palestra “A criatividade segundo Keith Richards” que selecionou passagens marcantes na vida do roqueiro. Esses momentos podem servir de inspiração a talentos de todas as idades que precisem lidar com desafios criativos em suas profissões.

Usando imagens do documentário “Under the influence”, produzido pela Netflix sobre a vida do guitarrista, Medeiros chamou atenção para as primeiras influências musicais da mãe que ajudaram a aflorar a paixão por música. Do avô, veio o amor pela guitarra e uma valiosa lição: a paciência. Ele mantinha um violão no alto de uma parede e disse para o neto que ele só poderia tocá-la no dia em que pudesse alcançá-la. Para Medeiros, o ensinamento serve para muitos jovens criativos que reclamam de jobs considerados pequenos para clientes de menor prestígio. “Esse tempo também existe na publicidade. É necessário muito aprendizado, observando e respeitando os mais experientes, antes de assumir os desafios maiores. A perseverança é fundamental para qualquer talento nesse processo”.

As lições de humildade de Keith Richards não ficaram restritas à infância. Já famoso como guitarrista dos Rollings Stones, ele foi buscar aperfeiçoamento com lendas como Chuck Berry e Muddy Waters. “Há vídeos que mostram Chuck Berry dando esporro em algumas sessões, com ele aceitando numa boa”, contou o palestrante. Exemplos de humildade não se resumiam às experiências de Keith. O próprio Muddy Waters, na primeira vez que o recebeu na Chess Studios, estava sujo de tinta branca por estar finalizando uma pintura. “Enquanto Muddy Waters fazia isso sem nenhuma frescura, alguns jovens hoje reclamam porque não gostam de fazer posts”, criticou.

Medeiros ressaltou ainda a longevidade do grupo, apesar das relações turbulentas dentro da banda. “Eram como irmãos, brigavam mas havia admiração, comprometimento e consciência do papel e da importância de cada um. Ninguém faz nada sozinho. Nenhuma campanha é obra apenas da criação. A consciência do trabalho de equipe é fundamental”, pregou.

Outros mitos que o líder criativo da Crispin Porter & Bogusky Brasil procurou desfazer usando a história de Keith Richards foi sobre idade e picos criativos. Em 1970, um jovem de apenas 19 anos criou o pôster da turnê mundial – uma águia estilizada com jatos em suas asas - após um processo seletivo conduzido pela banda com estudantes da Royal College of Arts. “As pessoas atingem picos criativos em tempos diferentes e nunca sabemos quando vão acontecer de novo”, dizia o roqueiro. “Na entressafra, sempre vão aparecer trabalhos ruins e clientes serão perdidos por isso. Acontece com todos”, afirmou Medeiros, citando as carreiras cinematográficas de Ridley Scott e Clint Eastwood que incluem obras primas e filmes medíocres.

No fim do painel, o vencedor de 43 Leões em Cannes resumiu sua experiência no mercado deste modo: “O mundo se divide entre simplificadores e complicadores. Desconfie sempre dos gurus e de suas previsões e não perca tempo em suas carreiras trabalhando com babacas ou trabalhando em algo que não faça com paixão. A vida é curta demais para isso”.

Medeiros deu um recado aos jovens empreendedores do mercado de comunicação. “Eu se tivesse a idade de vocês, tentaria me manter o mais próximo possível dos melhores profissionais e aprender o máximo possível antes de abrir minha própria agência. Só evoluímos quando estamos próximos daqueles que são melhores que nós”.

Robert Galbraith

 

Festival do Clube 2018

/