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Festival do Clube 2021

'Novas gerações escolhem consumir marcas conectadas a causas sociais'

23.09.21

A criatividade pode ser um instrumento de articulação social e trabalhar para gerar benefícios para toda a comunidade. No entanto, é importante que as ações desenvolvidas por marcas, agências, produtoras e por todos os players da indústria não apenas tangenciem questões que gritam por transformações urgentes, mas que realmente mergulhem na complexidade de suas camadas com profundidade de modo que essas iniciativas tragam, de fato, impacto e verdadeiras mudanças.

Essa foi uma das conclusões do debate “Criatividade como ferramenta de transformação social”, mediado por Roberto Fernandez, founder e creative da Activista, que contou com a participação de Clariza Rosa, cofundadora da Silva; Rafael Pitanguy, CCO da VMLY&R; Daniela Vojta, EVP/ ECD da BBDO NY; e Felipe Luchi, sócio e diretor de criação da Santeria.

Um dos pontos levantados por Fernandez durante o bate-papo foi a mudança do comportamento do consumidor: as empresas foram pressionadas a entender que as causas sociais são importantes para comunicação. “Não é que as companhias de repente acordaram. O que acontece é que as novas gerações escolhem consumir marcas conectadas a causas sociais. Compram porque acreditam no que elas acreditam. É o wallet activism – vou usar meu dinheiro para que alguma transformação social aconteça”, observa.

Em relação à visibilidade da presença negra na comunicação e na cultura como um todo, o mediador perguntou para Clariza o que havia mudado nos últimos 30 anos, na visão da profissional. “A representação de raça, e também de gênero, tem começado a aparecer mais. Há campanhas mais plurais com outras representações de pessoas. Não dá para dizer que nada mudou”, afirma a cofundadora da produtora Silva. “No entanto, o ritmo da mudança é muito lento quando olhamos para as opressões que ainda acontecem. Apesar da representação ser maior do que já foi, quem toma as decisões, quem está 'canetando', orientando, é o mesmo grupo de pessoas de sempre”, lamenta.

"Existir um pouco mais de espaço não significa que estamos movimentando o ponteiro de maneira estruturante. Sim, estamos avançando, mas precisamos olhar para essas questões com uma visão muito crítica, ainda estamos longe de um cenário ao menos honesto, justo", completa Clariza.

Nessa linha de que não basta apenas ter campanhas com mais representatividade, uma vez que os consumidores cobram atitudes das empresas como um todo, de modo que é necessário abrir espaço para vozes mais diversas em todas estruturas corporativas, Luchi enxerga que no mercado de produção audiovisual já existe “certa pluralidade” em várias áreas. “Não só na Santeria, mas há uma procura consistente pela diversidade de diretores de cena. Temos mulheres sócias da produtora, um dos diretores é drag queen”, exemplifica o DC da produtora, que construiu um background em agência de publicidade – ele trabalhou por duas décadas e meia como criativo antes de lançar a Santeria (leia aqui).

Mas as realidades das agências e das produtoras são muito diferentes, seja em estrutura, em recrutação de talentos... Como as produtoras trabalham com projetos específicos, conseguem montar times com o melhor olhar para determinado assunto. Nas agências, as equipes são compartilhadas, às vezes trazendo uma mesma solução para projetos muitos diferentes”, avalia.

Outro ponto levantado no debate foi a participação das mulheres nas equipes criativas. Mesmo com mais pessoas do sexo feminino no setor atualmente, quando se olha para posições de liderança, ainda há muito a se avançar. “Há algumas áreas que são ainda piores. Por exemplo, menos de 20% dos programadores são mulheres. É um problema geral não somente da indústria publicitária”, constata Daniela. “Tenho dois filhos, com diferença de sete anos entre eles. Mudou muito o cenário depois de sete anos. Agora, há uma maior compreensão, sabe-se que as mulheres são profissionais eficientes e que ao se tornarem mãe, ficam ainda mais eficientes”, pondera.

A criativa avalia que existe uma intenção das empresas em geral em ter mais mulheres em seus quadros e que há, atualmente, mais pessoas do sexo feminino e de outras “minorias em cargos de criação de alto escalão, mas que é necessária uma “mudança mais sistemática”, inclusive com leis que deem suporte para essas transformações.

Também foi debatido durante o painel como as marcas devem agir para fomentar essas mudanças sociais. Fernandez destacou que o lema da agência Activista é “make act not ads”, seguindo o estilo “faça mais e fale menos”.

Pitanguy concordou e acrescentou. “A estratégia de awareness tem que ser repensada profundamente. É necessário pensar como seu esforço consegue uma transformação tangível. Ser somente alto-falante sobre temas abordados há anos não é suficiente, só vale se for sobre algum tema sobre o qual ninguém sabe”, avaliou.

Por fim, os participantes fizeram uma autocrítica à indústria publicitária no que diz respeito às premiações e como pode elas podem ser prejudiciais ao avaliar as ideias pelas ideias, em vez de ter como critério o impacto que ela tem na sociedade. “Um dos problemas dos prêmios é que eles têm data de validade. E devemos abraçar uma causa com uma marca ou uma ONG por uma motivação pessoal, não pela premiação. É preciso pensar no impacto”, comentou Daniela.

Mas um ponto positivo sobre os prêmios é que com eles os profissionais aprendem a fazer boa publicidade, são uma escola. Quando olho muitas marcas ligadas a ESG ganhando prêmios, isso educa a nova geração, evidencia que as marcas podem estar direcionadas à transformação da sociedade, ajudando-a a se tornar mais plural, mais justa – tem esse lado educativo das premiações”, ponderou Pitanguy.

Valéria Campos

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