O Espaço é Seu

Terminei o livro do Steve Wozniak (fundador da Apple), "iWoz". E de cara, nas cinco primeiras páginas, você entende que foi ele, não o Steve Jobs, quem criou o computador pessoal. Os detalhes que ele conta são bem nerds, mas isso não importa muito. Descobrir que a lendária garagem era só um depósito também não me incomodou, descobrir que o Jobs não foi despedido e sim pediu demissão também, descobrir que o Woz saiu da Apple pra montar o primeiro controle remoto universal me chocou um pouco, confesso.

Mas três coisas ficaram:

1 - Se você não fala uma história interessante para a imprensa sobre o que fez, inventam por você. A história da Apple é cheia de erros, erros bonitos, é claro, mas que em grande parte são culpa da dificuldade de se comunicar do Woz (um cara tímido e introvertido). Na verdade, talvez esse nem seja o problema, o Woz é do tipo de pessoa que fala o que quer falar - lendo o livro você percebe - ele não tem frases prontas, ou “melhora” histórias para virar folclore, e isso é desinteressante. Pra mim sempre tiveram só dois tipos de pessoas: as que falam o que querem falar e as que falam o que você quer ouvir. Normalmente, confiamos e sentimos mais simpatia pelas segundas, mas só conseguimos sentir verdadeira empatia com as primeiras.

Por outro lado, se você​ é mais introvertido como eu, te dou uma esperança: depois de ler sobre o Woz leia o livro “O Poder dos Quietos”, da Susan Cain.

2 - Quem se guia pela ética total, como ele, não dura muito nesse mundão "véio", cheio de éticas distorcidas.

3 - Como é difícil, para um fazedor, ver claramente um caminho quando todos não vêem. Fazedores simplesmente fazem. E apostar em perder seu tempo numa coisa que ninguém viu ainda, não é uma tarefa fácil. Escrever uma bela coluna num periódico qualquer da sua profissão, ou dar uma entrevista falando do novo, é muito mais fácil. E numa sociedade pautada pela mídia, como a nossa, é mais rápido e funciona. Afinal, se você falar bem, não precisa nem fazer nada. As pessoas aceitam o que você falar sem se questionarem, na grande maioria.

Fazer é uma arte de retorno a longo prazo.

Desculpem, nerds de plantão, por eu só ter lido o livro agora, mas tudo tem sua hora, e saber disso tudo só agora me fez bem. :)

Obrigado, Woz.

Pedro Gravena, "inventor frustrado" e head de Digital e Inovação da Y&R